Poeta, jornalista, escritor, intelectual e coronel da Polícia Militar, o imortal Ubaldo Monteiro da Silva nasceu em 16 de maio de 1916, em Várzea Grande. Deixou de ser simples cidadão mato-grossense para fazer parte da história de Várzea Grande. Admirado por alguns, respeitado por todos, Ubaldo Monteiro foi uma espécie de Olavo Billac pós-moderno, guardadas as devidas proporções, segundo definição do então poeta e historiador cuiabano Lenine de Campos Povoas.
Cada fato, por mais insignificante que pudesse parecer, era sempre anotado cuidadosamente em um caderno pelo historiador, assim foi pautado o seu cotidiano.
Ubaldo Monteiro se orgulhava de conhecer com uma incrível riqueza de detalhes quase toda a história de Várzea Grande. “Um povo e uma cidade têm que ter história”, costumava dizer aos amigos e admiradores, ao lembrar cada data marcante vivida pela população várzea-grandense.
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Jeito simples, olhar curioso, voz firme, com uma fome voraz de aprendizado, ele sempre estava descobrindo fatos novos sobre a Cidade Industrial.
Foi um dos poucos, por exemplo, que registrou fatos da Igreja Nossa Senhora da Guia, uma das mais antigas de Mato Grosso e maior patrimônio religioso, histórico e cultural do município.
Inesgotável fonte de saber para os jovens, Monteiro lamentava o desinteresse dos estudantes pela pesquisa da história.
Nascido de família humilde, Ubaldo Monteiro era filho do casal Alfredo Monteiro da Silva e Ana Emília da Silva. Casado com dona Neuza Ribeiro Monteiro da Silva, teve quatro filhos. Suas maiores paixões sempre foram a família, a literatura e a história.
Intelectual nato, ele era descendente das antigas gerações dos Monteiro e Pompeo de Campos, oriundos de Nossa Senhora do Livramento, dos tempos dos bandeirantes.
Ubaldo Monteiro passou a sua juventude em Cuiabá. Cursou o primário e bacharelou-se em Ciências e Letras na Escola Liceu Cuiabano (Colégio Estadual).
Depois, serviu o Exército. Gostou da vida militar, o que o levou a cursar a Escola de Formação de Oficiais da Polícia Militar do Rio de Janeiro. Já formado, retornou para Cuiabá em 1943, para ser oficial da Polícia Militar de Mato Grosso. Exerceu vários cargos, como o de Diretor Geral do Departamento de Trânsito de Mato Grosso – DETRAN e cumpriu missões importantes, muitas classificadas como de segurança extrema.
Sempre inovador, em 1951 fundou o Curso de Formação de Oficiais da Polícia Militar de Mato Grosso. Dirigiu a Academia até 1956. Foi mestre em quatro disciplinas. Respeitado. Admirado. Obedecido.
VIDA PÚBLICA
Em 1957, Ubaldo Monteiro se licencia da PM para se candidatar a deputado estadual. Ciente de que seria útil trabalhando por Várzea Grande e pela Baixada Cuiabana, foi candidato a uma cadeira na Assembleia Legislativa. Enfrentou o poderio econômico dos políticos de Campo Grande e de toda região Sul do Mato Grosso (hoje Estado do Mato Grosso do Sul). Venceu. Foi sexto deputado estadual mais votado.
Já nas eleições de 1962, em sua reeleição, ficou como primeiro suplente, e um ano depois assumiu mais vez a cadeira de deputado estadual. Querido em Várzea Grande e admirado em Cuiabá, cumpriu o seu segundo mandato até 1966.
Desiludido com a política, principalmente por causa do sistema de governo implantado pelo presidente da República Castello Branco, Ubaldo Monteiro deixou a política e, apesar dos apelos dos correligionários, não se candidatou à reeleição. Decidiu que havia chegado o momento de dedicar-se à família e à sua maior paixão: a literatura. Ainda na política, a sua esposa, dona Neuza Ribeiro Monteiro e seus filhos Afrânio e Afonso, foram vereadores na cidade de Várzea Grande.
Como deputado, lutou por melhores salários para os policiais militares e conseguiu aprovar projetos de sua autoria de suma importância, como o dos Estatutos e o da Lei de Inatividade de Oficiais e Praças da Polícia Militar. Além disso, a aprovação de vários projetos em benefício da causa pública e dos policiais do Estado.
Retornando ao cotidiano da caserna, passou para a reserva como Chefe do Estado Maior da Polícia Militar.
Sondado para ser candidato a prefeito de Várzea Grande, por duas vezes, não aceitou a candidatura. Primeiro, para servir no Departamento Penitenciário, onde exerceu o cargo de diretor de duas penitenciárias. Depois, para se dedicar à literatura e à historiação.
LITERATURA
Como escritor, Ubaldo Monteiro se revelou um dos mais ferrenhos defensores das tradições mato-grossenses. Suas obras têm sempre um toque refinado de sentimento nativista. “Tem que escrever com a alma”, definia.
Dedicado à literatura, Monteiro escreveu mais de oito livros, entre eles: “No Portal da Amazônia” – contando a história do primeiro século de Várzea Grande; “Cuiabaninhos” – Contos; “Meus Varzeanos – versos; “Flashes dos 250 anos de Cuiabá”; “A Polícia Militar de Mato Grosso” – histórias; “Flor de Pequi” – romance regional; “Poesiprosa” – poesias; “Os Varzeanos” e “Meus Varzeanos II” – romances inéditos; “No Portal da Amazônia” – história; “Senzalas Mato-grossenses” – contos; e “Várzea Grande: passado e presente, confrontos”.
Como autor de várias músicas, destaca-se “A Marcha do Centenário e o Hino Oficial de Várzea Grande”.
Gostava de festas, de tomar uns whiskys de vez em quando e era frequentador assíduo do Bar e restaurante Kavú. No esporte, participava apaixonadamente na vida do Clube Esportivo Operário Várzea-grandense, indo sempre aos estádios para acompanhar os jogos.
Ubaldo Monteiro da Silva ocupou com muita competência uma cadeira na Academia Mato-grossense de Letras e no Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso.
Foi presidente da Casa da Cultura de Várzea Grande e da Biblioteca Municipal. Quando alguém necessitava de informações históricas da cidade de Várzea Grande, não tinha dúvida, buscava o socorro providencial de Ubaldo Monteiro.
Tamanho conceito rendeu a Ubaldo Monteiro grandes homenagens. Ele foi agraciado por várias entidades e órgãos governamentais.
Entre as honrarias recebidas pelo reconhecimento aos seus serviços prestados, Monteiro recebeu a Ordem de Mérito de Mato Grosso e a Ordem do Mérito Legislativo de Mato Grosso. São as maiores honrarias conferidas a um cidadão mato-grossense pelo Poder Executivo e pela Assembleia Legislativa.
“Guardadas as devidas proporções, Ubaldo Monteiro da Silva é uma espécie de Olavo Bilac pós moderno”, justificava o também poeta e historiador Lenine de Campos Povoas, um dos mais respeitados de Mato Grosso.
Ubaldo Monteiro da Silva morreu aos 88 anos no dia 23 de maio de 2004.
Assim era Ubaldo Monteiro, poeta, jornalista, escritor, historiador, coronel da Polícia Militar, amigo de todas as horas e imortal!!!!!!!!!
*WILSON PIRES DE ANDRADE é jornalista, locutor e mestre de cerimônia em Mato Grosso. Foi Secretário de Comunicação de Várzea Grande; e fundador e presidente da Associação Mato-Grossense de Colunistas Sociais (Amacos).