O técnico Vítor Pereira voltou a dizer que só discutirá o futuro no Corinthians ao fim dessa temporada e apontou a família como o fator mais importante a ser considerado para decidir se permanecerá ou não no clube em 2023.

Segundo Vítor Pereira, a sogra dele tem um problema de saúde que a impede de deixar Portugal. Assim, o técnico também fica longe da esposa e dos filhos.

– A distância da família é complicada. Eu tenho… a família precisa de mim. Tenho três filhos e eles precisam de mim. Precisavam de eu estar mais perto, ter mais tempo para desfrutar, eles vieram aqui duas vezes, mas tive pouco tempo com eles –declarou o técnico do Corinthians, que logo na sequência fez uma ponderação:

– Mas isso também aconteceu na China. Eu ando há dez anos fora do meu país, dando a volta ao mundo, é a fatura que pagamos quando optamos por essa profissão.

Questionado se as adversidades do futebol brasileiro também influenciariam na escolha dele, Vítor Pereira comentou:

– Eu tenho que perceber se tenho estabilidade familiar, se minha família está em um momento que consegue suportar mais um ano longe de casa ou não. Esse é de fato o grande… Não tem nada a ver com as dificuldades do futebol brasileiro, problemas tem em todo lado. Na China também teve problemas e eu estive três anos na China, muito mais longe da minha família do que agora.

A entrevista de Vítor Pereira foi dada após participação dele em um painel da Brasil Futebol Expo, feira promovida pela CBF que acontece nessa semana em São Paulo. Ele esteve com o compatriota Luís Castro, técnico do Botafogo, debatendo a presença dos técnicos estrangeiros no País.

Também nesta segunda-feira, o jornalista André Rizek, apresentador do Seleção sportv, disse que Vítor Pereira não deve continuar no Corinthians após o fim do ano, quando acaba o contrato dele. O português, porém, se esquivou sobre o assunto:

– Me imagino no futebol, por que não no Corinthians? Depende. Este é um assunto que vou deixar para o final. Tenho que ver muito bem o que vai acontecer, como estará a minha situação familiar, a vida pessoal, e depois vamos tomar as decisões se o Corinthians estiver interessado em conversar comigo a este respeito.

Vítor Pereira chegou ao Corinthians há seis meses e meio. Nesse período, levou o clube à semifinal da Copa do Brasil e esteve no G-4 ao longo das 25 rodadas do Brasileirão disputadas até aqui. Com o treinador, a equipe foi eliminada na semifinal do Paulistão e nas quartas de final da Libertadores.

Vítor Pereira, do Corinthians, em palestra na Brasil Futebol Expo — Foto: Bruno Cassucci

Vítor Pereira, do Corinthians, em palestra na Brasil Futebol Expo — Foto: Bruno Cassucci

Confira abaixo outros trechos da entrevista de Vítor Pereira:

Corinthians cumpriu o que prometeu?

– Nós temos consciência de que o clube passa por dificuldades financeiras, por isso digo que não podemos colocar o Corinthians no patamar de outros clubes do Brasil que têm mais dinheiro, vêm sendo estruturados há três ou quatro anos para ter capacidade de competir por Libertadores, Brasileirão e Copa. O que encontrei no Corinthians e o que mais me prometeram foi estabilidade de dentro, e isso eu tenho. Um presidente que me transmite estabilidade, por mais que se fale de fora da pressão, que é normalíssima, por isso escolhi o Corinthians, não outro clube. Estive no Fenerbahçe, estive no Olympiacos, no Porto, na China, eu gosto de jogar para títulos e ter essa pressão, ela é importante. A pressão maior é a minha própria.

– Dentro do clube vejo gente que quer o melhor para o clube, mas num contexto em que o dinheiro não abunda, é preciso vender jogadores, vêm jogadores, há jogadores lesionados, o que têm feito oscilar a nossa temporada. Estamos tentando nos manter na luta, mas muitas vezes oscilamos porque não temos um elenco capaz, jogamos a cada três dias. O Corinthians tem uma boa equipe, bons jogadores, miúdos com futuro e precisa se estruturar para chegar num patamar que, aí sim, podem exigir responsabilidades. Neste momento, nossa responsabilidade é fazer o melhor possível, tentar ganhar os jogos todos, mas não venham colocar uma carga em cima, que não pode existir.

Vida pessoal no Brasil

 

– Eu tenho que confessar uma coisa. Já estive em vários países, esse é o primeiro país que praticamente não tenho vida, não tenho tempo para viver. Vou uma vez ou outra ao restaurante, natural, tenho que jantar. Mas não tenho tido praticamente tempo para conhecer o Brasil. Viagens, mais viagens, mais viagens. Uma experiência fantástica no sentido de que é um desafio enorme não poder treinar na maior parte do tempo, é um desafio enorme ter equipes que nos colocam problemas diversificados. Jogamos hoje com o Flamengo, depois com o Palmeiras, que é completamente diferente, apanhamos o Fluminense, completamente diferentes, isso também nos faz crescer. É uma experiência difícil, mas enriquecedora. Uma experiência que tem me feito evoluir como treinador.

Melhorias no futebol brasileiro

 

– Há muita coisa no futebol brasileiro, do meu ponto de vista, que poderia levá-lo para um patamar mais alto. Um calendário menos apertado permitiria uma dinâmica e uma qualidade de jogo maior. A qualidade dos gramados deveria ser regulamentada, a altura da grama, a rega e a qualidade do gramado. E tem a ver com os projetos. O que é? Projeto é uma coisa que tem começo, meio e fim. Tem que ser uma coisa estruturada da base, com um plano estruturado que vem da primeira equipe até os times de base, na mesma linha para um jogo que procura jogar da mesma forma. Se o clube quer que a equipe jogue de uma forma, os times de base têm que jogar da mesma forma. Os jogadores têm que ser escolhidos com determinadas características. Qual o problema no Brasil? Os mandatos são de três anos e tudo se reduz a títulos, o projeto é sempre o título. Ou se ganha logo títulos ou o projeto vai ao ar, porque o mandato acaba em três anos e vem um presidente que quer ganhar no seu mandato.

Adversidades

– Não vou conseguir mudar o calendário do futebol brasileiro. Vim com a intenção de acrescentar alguma coisa, mas sinceramente ainda não consegui colocar o Corinthians a jogar da forma que gosto de ver jogar: propondo o jogo, marcando alto, sendo agressivo. Pelo calendário e pelo elenco, isso ainda não foi possível no Corinthians. Andamos com muita gente fora, jogadores importantes, isso não permite estabilizar a equipe. O resultado compra o tempo, porque aqui quem não tem resultado faz o projeto passar de um ano para um mês. Vamos tentando fazer o nosso melhor, competimos como pudemos, continuamos a competir, mas não podemos ser colocados com a responsabilidade e ao nível de outros clubes aqui do Brasil. Times que tem muito mais dinheiro, elenco muito mais preparado e no mesmo projeto há vários anos, portanto o Corinthians não está no mesmo patamar pois isto é mentira, é um castelo na areia. Depois vem a onda e leva o castelo embora. Aqui há clubes com responsabilidade muito maior do que a nossa. (GE)