Em uma ação irônica, provocativa e, sobretudo, desesperada, o governo de uma pequena vila na ponta da “bota” da Itália, Belcastro, publicou uma portaria que proíbe a sua população de ficar doente, sofrer acidentes ou mesmo sair de casa. Basicamente, a norma se propõe a evitar qualquer atividade que possa apresentar riscos à saúde.

A medida foi decretada na última semana pelo prefeito local, Antonio Torchia, e visa lançar luz ao grande problema de falta de saúde na região. “Obviamente, é uma provocação humorística”, ele afirma à rede britânica BBC.

Segundo o prefeito, a publicação da lei foi o jeito que encontrou de ganhar destaque midiático e chamar a atenção para o descaso com o bem-estar dos cidadãos. Desde junho, Torchia solicitou, sem sucesso, às autoridades sanitárias regionais ajuda para lidar com as deficiências locais do sistema de saúde em Belcastro.

Direito à saúde e ao bem-estar

“É inadmissível que se ignore um direito consagrado na Constituição”, disse Torchia ao site italiano Notizie.it. “A falta de um serviço de emergência médica não é apenas um problema local, também se trata de um problema de saúde pública que requer intervenção imediata das autoridades competentes”.

Cerca de metade dos 1.200 moradores de Belcastro tem mais de 65 anos – o grupo mais vulnerável a enfrentar emergências médicas. Contudo, o hospital mais próximo da região fica a mais de 45 km de distância, sendo acessível apenas por uma estrada com limite de velocidade de 30 km/h.

Da mesma forma, dentro da vila, há apenas um consultório médico para ajudar em casos menos complexos. Mesmo assim, ele não abre durante os fins de semana, feriados ou depois do horário comercial.

político questiona: “Como é possível sentir-se seguro quando você sabe que, se precisar de assistência, sua única esperança é chegar à emergência a tempo, mas as estradas são quase um risco maior do que qualquer doença?”.

A crise não é algo recente. Como lembra a BBC, toda a Calábria tem sofrido com a má gestão política e a interferência da máfia local há quase 15 anos. Muitos povoados tiveram o seu sistema de saúde dizimado, quando colocado sob a administração especial do governo central, em Roma.

Sem pessoal ou leitos e com enormes dívidas, os comissários nacionais têm apresentado diversas dificuldades para solucionar o problema. Calcula-se que 18 hospitais fecharam desde 2009 e quase metade dos quase 2 milhões de moradores da Calábria passaram a procurar assistência profissional fora da região.

(Por Arthur Almeida)