Cristiane Amaral

Em pequena quantidade, o álcool funciona como um sedativo no sistema nervoso central que ajuda as pessoas a relaxarem. Uma latinha a mais já promove efeitos estimulantes de coragem e extroversão garantindo mais diversão a eventos sociais e familiares. Mas, independente da motivação, esse é um hábito que pode trazer inúmeros prejuízos, entre eles, à sua saúde mental.

Não podemos individualizar uma situação hoje considerada de saúde pública e que afeta mais de 6 milhões de brasileiros – ou 4% da população adulta – que consomem bebidas alcoólicas em excesso e correm risco de dependência, conforme levantamento feito no início do ano passado pela Organização Mundial da Saúde (OMS).

Recentemente tivemos o carnaval, uma festa normalmente patrocinada por grandes marcas e onde o uso de bebidas alcóolicas é hiperestimulado. No entanto, não podemos fechar os olhos para o que essa questão representa: o álcool não se limita a festas de rua, ele está presente em quase todos os eventos sociais e familiares, de festas infantis ao “churrasquinho” de fim de semana.

Devido à sua popularização do consumo, precisamos conversar a respeito. Se você está enfrentando dificuldades no trabalho, financeiras ou no relacionamento, é importante procurar ajuda psicoterapêutica e/ou psiquiátrica. “Tomar uma latinha” para relaxar depois de um dia difícil não vai resolver e ainda pode contribuir com o agravamento dos sintomas ou com o surgimento de novas doenças.

Ao fazer uma revisão da literatura científica, observamos que pacientes com os transtornos mentais mais prevalentes, entre eles depressão, ansiedade e fobia, têm duas vezes mais chances de relatar um transtorno por uso de álcool do que pessoas sem esses transtornos. É que o álcool geralmente é percebido como “falso” aliado para lidar com o mau humor e a irritabilidade comuns em alguns desses transtornos mentais.

Portanto, não existem “benefícios de beber”. Isso é um equívoco. É importante fortalecer a nossa saúde mental a partir de hábitos saudáveis, como a prática de exercícios físicos regulares, alimentação equilibrada, sono adequado, bons relacionamentos, psicoterapia, meditação, entre outras ações cotidianas, que naturalmente vão regular seu humor e promover a saúde integral (física e mental).

Você pode estar se perguntando, afinal, o que é saúde mental? Sei que ainda há muito tabu em relação ao tema, que é visto como “frescura” ou “loucura”. Mas a OMS destaca que saúde mental é um estado de bem-estar mental que permite às pessoas lidarem com o estresse cotidiano, realizarem as suas capacidades, aprenderem e trabalharem bem, e contribuírem para a sua comunidade.

Sem saúde mental, não temos como alcançar o direito básico inerente a cada um de nós de desenvolvimento pessoal, comunitário e socioeconômico. Outro dado que vem confirmar nossa preocupação, enquanto profissionais da saúde, é que o uso abusivo de álcool e suas consequências estão presentes nas classes sociais mais elevadas e nas mais baixas, ou seja, está “naturalizado” socialmente.

Enquanto acharmos que esse padrão de consumo de álcool não é um problema, não há o que possa ser feito. Compartilho essa reflexão justamente porque alguns pacientes relataram melhora significativa no quadro de saúde mental, principalmente de ansiedade, quando deixaram de consumir álcool e investiram em um estilo de vida saudável.

Uma frase célebre do poeta romano Juvenal afirma que “mens sana in corpore sano” – “uma mente sã em um corpo são” – é o que as pessoas deveriam desejar para a vida. Portanto, lembre-se que diante de um quadro de sofrimento ou problema difícil, buscar ajuda profissional seja mais interessante do que afogar as mágoas em um copo de bebida. Pense sobre isso!

Cristiane Amaral, psicóloga com formação em transtorno de ansiedade e depressiva no Instituto Albert Einstein

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