Uma nova técnica baseada em lasers e fotografias de longa exposição revelou detalhes de tatuagens em múmias do povo Chancay, que viveu no Peru por volta de 900 a 1533 d.C. As descobertas do estudo estão em um artigo científico publicado na segunda-feira (13) na revista científica PNAS.

Ao todo, os pesquisadores analisaram mais de 100 restos humanos. Eles pertencem ao acervo do Museu Arqueológico Arturo Ruiz Estrada, e foram encontrados originalmente em 1981 no cemitério Cerro Colorado, no vale de Huaura, no Peru.

Embora estivesse claro já a olho nu que muitas das múmias eram tatuadas, a tinta havia vazado para além dos limites dos desenhos, e desbotado com o tempo. Isso dificultou qualquer tarefa de identificação dos formatos de suas marcações originais – por isso, a importância da análise mais recente.

Abordagem inovadora

A técnica desenvolvida pelo grupo tem como base a fluorescência estimulada por laser (LSF). Ao passar lasers sobre as múmias em uma sala escura e tirar fotografias de longa exposição dos cadáveres, os cientistas mostraram ser possível criar imagens com muitos detalhes que, sem isso, passariam batido por um simples exame de luz ultravioleta (UV).

A técnica LSF faz a pele a fluorescer em branco brilhante. Isso garante que a tinta preta à base de carbono das tatuagens se destaque claramente. Isso elimina quase completamente o problema dos desenhos de forma perdida ou desbotada.

Tatuagem no antebraço é mostrada em preto contra uma pele mais clara, fluorescendo sob a tecnologia LSF — Foto: Michael Pittman e Thomas G Kaye
Tatuagem no antebraço é mostrada em preto contra uma pele mais clara, fluorescendo sob a tecnologia LSF — Foto: Michael Pittman e Thomas G Kaye

Como indica o site Live Science, das 100 amostras, apenas três tinham tatuagens altamente detalhadas, compostas por linhas finas de 0,1 a 0,2 mm de espessura, que só puderam ser vistas com a técnica inovadora. Elas apresentavam padrões predominantemente geométricos, com triângulos e diamantes, que também são encontrados em outras mídias artísticas de Chancay, como cerâmica e tecidos.

“Particularmente, algumas das tatuagens parecem ter exigido esforço especial devido aos seus desenhos intrincados, enquanto outras são pequenas e simples”, explica Michael Pittman, autor do projeto, à revista New Scientist. “Então, até certo ponto, as antigas tatuagens Chancay mostram muitos paralelos com a variação em design e significado que podemos observar até hoje”.

Cultura Chancay

Como explica Kasia Szremski, uma arqueóloga ouvida pela Live Science que não estava envolvida no estudo, a cultura Chancay se desenvolveu ao longo da costa central do Peru há cerca de um milênio e é conhecida por suas cerâmicas e tecidos pretos sobre branco. Mas, para além disso, sabe-se muito pouco sobre este povo, o que torna as descobertas ainda mais ricas.

Uma vez que, em muitas sociedades, as tatuagens foram usadas para marcar pessoas com status especial, acredita-se que tentar interpretar os significados dos desenhos sob a pele Chancay possa ajudar a mergulhar em sua organização social e cultural.

Pittman, por fim, lembra que a técnica não se limita aos Chancay. Muitas tatuagens tradicionais feitas por outros povos antigos também podem ser vistas em detalhes usando a técnica fluorescente estimulada por laser. “Planejamos aplicar o método a tatuagens de diferentes culturas ao redor do mundo para tentar fazer outras descobertas interessantes”, revela o autor.

(Por Arthur Almeida)