O encontro entre Trump e Lula na Malásia foi classificado como positivo por ambas as partes, mas ainda não há garantias sobre revisão de tarifas - (crédito: AFP)

Um dia após seu primeiro encontro formal com Donald Trump, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou estar confiante em uma resolução “rápida e equilibrada” para as disputas comerciais entre Brasil e Estados Unidos. O petista disse que negociadores dos dois países já receberam a missão de construir, nos próximos dias, as bases de um acordo que ponha fim às tarifas impostas por Washington sobre produtos brasileiros.

“Ele (Trump) garantiu que vamos ter acordo, e acho que vai ser mais rápido do que muita gente pensa. Estou convencido de que, em poucos dias, teremos uma solução definitiva entre Estados Unidos e Brasil”, ressaltou Lula, em Kuala Lumpur, na Malásia, onde encerrou viagem pelo leste asiático.

Na manhã desta segunda-feira, o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, reuniu-se com representantes do governo norte-americano para definir os próximos passos da negociação. Ele estava acompanhado do secretário-executivo do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), Márcio Rosa, e do assessor especial da Presidência, embaixador Audo Faleiro.

Segundo Rosa, as duas partes concordaram em criar um cronograma de reuniões entre equipes técnicas e buscar um acordo “satisfatório para ambos os lados”. “Hoje, estamos num cenário muito mais positivo do que estávamos há alguns dias”, afirmou. De acordo com fontes do Planalto, os principais entraves envolvem o aço e os produtos agrícolas — setores historicamente sensíveis nas relações bilaterais.

Já o presidente em exercício, Geraldo Alckmin, destacou que os próximos passos serão definidos com o retorno de Lula ao país. “Vamos aguardar a volta do presidente para a gente conversar sobre os próximos passos, mas estamos otimistas. Eu acho que tem um caminho bom pela frente, para poder avançar”, ressaltou, em entrevista ao portal ICL Notícias.

Na Ásia, porém, Trump evitou fazer promessas sobre o acordo. “Vamos ver o que acontece. Eles gostariam de fazer um acordo. Vamos ver. Neste momento, eles estão pagando 50% de tarifa”, afirmou, antes de embarcar para o Japão. O republicano, no entanto, classificou a reunião com Lula como “muito boa” e desejou feliz aniversário ao chefe de Estado brasileiro, que completou 80 anos nesta segunda-feira. “Ele é um cara muito vigoroso, e fiquei impressionado”, disse.
De acordo com o cientista político Márcio Coimbra, ex-diretor da Apex, o processo de reaproximação entre Brasil e EUA deve ocorrer em três fases. A primeira, de curto prazo, envolveria a criação de um grupo de trabalho bilateral e a revisão das barreiras tarifárias. Em seguida, viriam acordos setoriais — especialmente agrícola, industrial e energético. Por fim, parcerias estratégicas de longo prazo. “Estamos em um momento de reconstrução da confiança. A criação de um grupo de trabalho é o primeiro passo para resolver impasses e abrir espaço para acordos justos e equilibrados”, explicou.

Segundo Coimbra, o grupo de trabalho será composto por técnicos e diplomatas de ambos os lados e terá como missão mapear pontos de conflito específicos e propor soluções de curto e médio prazos. Também será retomado o diálogo regular entre ministérios da Agricultura e do Comércio/Economia, além de encontros entre os representantes comerciais — o USTR (do lado americano) e o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (pelo Brasil).

A primeira etapa das negociações prevê medidas imediatas de confiança mútua. O governo brasileiro deve avaliar a possibilidade de rever ou suspender retaliações sobre o açúcar americano, um tema sensível para Washington, em troca de contrapartidas. Do lado dos EUA, há expectativa de que sejam revisadas as cotas de aço e alumínio brasileiros, atualmente justificadas por motivos de “segurança nacional”, além da suspensão de ameaças de novas tarifas sobre exportações do Brasil.

Ideologias à parte

O encontro de Lula e Trump ocorreu no domingo, à margem da cúpula da Associação das Nações do Sudeste Asiático (Asean), e marcou a retomada do diálogo entre os líderes. O petista destacou o clima cordial do encontro. “Fiz questão de dizer ao presidente Trump que o fato de termos posições ideológicas diferentes não impede que dois chefes de Estado tratem a relação com muito respeito. Ele foi eleito pelo voto democrático do povo americano, e eu pelo voto do povo brasileiro. Com isso colocado na mesa, tudo fica mais fácil”, frisou.

Ele acrescentou que não há temas proibidos nas negociações. “Se ele quiser discutir minerais críticos, terras raras, etanol, açúcar, não tem problema. Eu sou uma metamorfose ambulante na mesa de negociação. Coloque o que quiser, que eu estou disposto a discutir todo e qualquer assunto”, afirmou, em tom descontraído. “Logo, logo não haverá problema entre Estados Unidos e Brasil. O que interessa numa mesa de negociação é o futuro, é o que você vai negociar para a frente. A gente não quer confusão, a gente quer resultado.”

Lula reforçou que as diferenças políticas devem ser superadas em benefício mútuo: “Agora não tem mais intermediários. É o presidente Lula com o presidente Trump. Gostemos ou não um do outro, temos que assumir a responsabilidade como chefes de Estado de saber que nossas ações têm que trazer benefício para o povo que nos elegeu”.

*Estagiário sob a supervisão de Cida Barbosa

(Por Cida Barbosa)