O trio de criminosos que matou com requintes de crueldade os motoristas por aplicativo Márcio Rogério Carneiro, 34 anos, Elizeu Rosa Coelho, 58 anos, e Nilson Nogueira, de 42, agia de forma sorrateira, enganando as vítimas sobre serem soltas antes de morrer. As informações foram prestadas pelo delegado Nilson Farias, da Delegacia Especializada de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), que comandou as investigações no início desta semana.

“Eles agiam de uma forma sorrateira porque, no momento em que eles chegavam no local para deixar a vítima, eles não falavam que iriam matá-las. Eles falavam que iam apenas deixá-las no local para que elas fugissem. Então, a vítima ficava tranquila e acabava sendo golpeada. Como os golpes eram dados em regiões vitais, a vítima não tinha muito tempo para reagir ou pedir socorro”, explicou Nilson Farias, em coletiva de imprensa, logo após o trio ser detido e o último corpo ser encontrado na região do Capão do Pequi, em Várzea Grande.

Lucas Ferreira da Silva, de 20 anos, e seus dois comparsas, menores de 15 e 17 anos, foram detidos na segunda-feira (15) e confessaram o crime. Nesta sexta-feira, uma mulher identificada como Keise Melissa Rodrigues Matos foi presa por envolvimento no caso. Era ela seria a responsável por vender os veículos depois que fossem roubados por Lucas e os adolescentes, além de fornecer suas contas nos aplicativos para atrair as vítimas.

Um outro rapaz, identificado como Akcel Lopes Campos, está sendo procurado pela polícia por ter participação nas mortes.

DEPOIMENTOS

Em depoimento, Lucas e o garoto de 15 anos detalharam como executaram os motoristas. Contudo, a narrativa deles diverge em alguns pontos.

De acordo com Lucas, o grupo pediu uma corrida pelo aplicativo na noite da quinta-feira, 11 de abril, e foi Elizeu Rosa, que dirigia um Fiat Uno prata, quem atendeu à solicitação. Ao passarem por uma rua escura, Lucas anunciou o assalto, momento em que ele e os dois menores ordenaram que Elizeu fosse para o banco de trás, onde ficou sentado entre os adolescentes enquanto Lucas dirigia o carro.

Em seguida, os latrocidas pediram para que o trabalhador entregasse o cartão bancário e a senha. Ele não esboçou qualquer reação e foi bem colaborativo, segundo consta no documento. Então, eles foram até uma distribuidora e sacaram R$ 240 que estava na conta corrente do motorista. Além disso, roubaram outros R$ 50 que o trabalhador tinha em espécie.

Depois, retornaram a uma região de mata, onde disseram para que Elizeu ‘ficasse de boa’, pois seria liberado. No entanto, quanto eles desceram do carro, o menor de 17 anos esfaqueou o pescoço do motorista. Lucas não soube informar a quantidade de golpes. Narrou ainda que, enquanto o amigo matava a vítima, ele não disse nada, mas o adolescente de 15 anos pedia a todo momento para que não deixassem Elizeu vivo.

O motorista não reagiu à ação dos criminosos, conforme Lucas. Depois do assassinato, os três sairam no Uno da vítima e andaram até o amanhecer. Posteriormente, abandonaram o carro em uma praça do bairro Cristo Rei, em Várzea Grande.

VERSÕES CONFLITANTES

Contudo, a versão dada pelo menor de 15 anos contesta o depoimento de Lucas. O adolescente afirma que Elizeu falou que “ia atrás deles porque quem rouba Uber se dá mal” [sic]. Disse ainda que o motorista se recusou a dizer a senha do cartão bancário e, por isso, foi espancado com socos e chutes.

Depois da surra, eles levaram a vítima para o Chapéu do Sol, onde posteriormente seu corpo foi encontrado. Então, o jovem de 17 anos passou a esfaquear o motorista. Ele afirmou que Lucas pediu a faca ao comparsa, pois também queria golpeá-lo. Contudo, o adolescente não aceitou.

Mesmo assim, Lucas permaneceu ao lado do amigo para garantir que o motorista fosse realmente morto.

Usando do mesmo modus operandi, ou seja, de chamar a vítima e aguardar chegar em uma rua escura para anunciar o roubo, os criminosos ceifaram a vida de Nilson Nogueira.

O trio esfaqueou Nilson até a morte com o canivete da própria vítima, pois a faca que eles usavam chegou a quebrar com a força dos golpes. Mesmo depois de morto, Lucas continuou a golpear o pescoço do homem. O adolescente de 17 anos fez o mesmo e golpeou o motorista já desfalecido outras cinco vezes.

A vítima implorou por sua vida, mas os algozes não mostraram misericórdia. O vídeo foi gravado por Akcel Lopes Campos, conhecido pelo apelido ’HG’, o quinto envolvido nos crimes, que ainda está foragido, mas já teve mandado de prisão expedido pela Justiça. À ocasião, ele não teve participação ativa na morte e ‘apenas’ filmou a carnificina.

No domingo, os quatro – Lucas, adolescentes e Ackcel – solicitaram a viagem em frente ao restaurante ‘Cai n’água’, no Cristo Rei. O estabelecimento comercial estava fechado, mas eles foram até lá para chamar o motorista. Desta vez, foi Márcio Rogério Carneiro quem aceitou a corrida. Como estavam em quatro pessoas, Lucas sentou no banco do passageiro. Ao passarem pela rua escura, o assalto foi anunciado.

Como das outras vezes, eles passaram em uma distribuidora e sacaram valores da conta corrente do motorista. Depois, dirigiram-se ao matagal, onde Márcio foi morto a pauladas pelo menor de 15 anos e HG, de acordo com a versão apresentada por Lucas. O jovem afirma que não teve participação ativa na morte e que ficou segurando o celular, iluminando o local para os amigos.

BATIMENTOS CARDÍACOS

Para se certificar de que Márcio estava morto, HG colocou a mão no coração da vítima. Após a confirmação, os quatro saíram com o carro Fiat Pálio do homem e, em seguida, deixaram o veículo na Lagoa do Jacaré, em Várzea Grande. Todavia, o garoto de 15 anos disse que enquanto HG, Lucas e o adolescente de 17 anos matavam Márcio a pauladas, ele ficou dentro do carro.

Em depoimento, ele disse que estava na praça do bairro Cristo Rei acompanhado dos outros três, quando HG os chamou para roubarem um carro.

Então, eles começaram a fazer as chamadas pelo celular da mãe do menor de 17. Depois que Márcio aceitou, HG deu uma ‘gravata’ no motorista e anunciou o assalto. Eles pediram a senha do banco do trabalhador, mas ele se recusou a fornecer. Por isso, foi colocado pelos criminosos no porta-malas do carro.

Disse ainda, que foi ele quem dirigiu o veículo até chegarem no matagal. No local, os demais bateram em Márcio até a morte, mas ele permaneceu no veículo, onde não dava para ver a ação criminosa e apenas ouvia a súplica da vítima.

“QUE não sabe quem desferiu a paulada, mas sabe que os três voltaram sorrindo com a senha do cartão do motorista; QUE roubaram da vítima MÁRCIO o veículo PALIO, o celular e o cartão do banco, com a senha; QUE o celular ficou com HG”, traz trecho do depoimento.Os corpos de Elizeu e Márcio foram localizados na noite de segunda-feira, nos bairros Jardim Petrópolis e Capão do Pequi, respectivamente. Os restos mortais do terceiro motorista, Nilson, só foram encontrados na manhã seguinte, também no Capão do Pequi.

(HNT)