FRANCISCO DAS CHAGAS ROCHA
No dia 5 de maio de 1965, o Brasil inteiro parou para homenagear um de seus filhos mais ilustres: o Marechal Cândido Mariano da Silva Rondon.
Por força de lei, essa data foi decretada feriado nacional, em comemoração ao centenário de nascimento desse grande brasileiro.
Em Cuiabá, cidade que o acolheu e com a qual manteve fortes vínculos afetivos e históricos, a data foi celebrada com solenidade e emoção.
Na Praça Alencastro, foi colocado o busto do Ínclito Marechal e, num gesto simbólico e profundo, um ndígena centenário depositou sobre ele uma corbelha de flores silvestres, numa reverência silenciosa ao homem que dedicou sua vida à defesa dos povos originários e à integração pacífica dos rincões mais afastados do Brasil.
O busto foi colocado exatamente em frente à rua que leva seu nome — a Rua Cândido Mariano. Esse posicionamento não é apenas geográfico, mas carrega um forte significado simbólico: é como se Rondon, em bronze, estivesse olhando eternamente para o caminho que leva o seu nome, como guardião de sua própria memória e como guia para as futuras gerações. A rua e o busto se complementam, unindo espaço físico e legado histórico, reforçando a presença contínua de Rondon no cotidiano da cidade com a qual sempre se identificou profundamente.
Rondon, o “guerreiro da paz”, como ficou conhecido, foi muito mais que um militar ou desbravador. Formado em matemática e ciências físicas e naturais pela Escola Militar, destacou-se desde cedo pela inteligência, coragem e sensibilidade social. Foi defensor da liberdade dos escravos e da Proclamação da República, assumindo um papel de liderança ética e humanitária em momentos cruciais da história do país.
Em Cuiabá, o legado de Rondon é vivo e profundo. É aqui que sua memória pulsa com mais força, inspirando gerações a valorizar a justiça, a ciência e o respeito aos povos indígenas. A inauguração de seu busto e dos retratos na Prefeitura Municipal e no Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso naquele mesmo 5 de maio de 1965 são marcos desse reconhecimento. E não por acaso, foi em Cuiabá também que nasceu a Sociedade Amigos de Rondon, fundada em 5 de maio de 1969, com o objetivo de preservar e divulgar sua trajetória.
Entre seus membros, destacam-se nomes como Silva Freire, Rubens de Mendonça, Pedro Rocha Jucá e Ramis Bucair, este último presidiu a instituição por impressionantes 42 anos.
Rondon representa o elo entre progresso e humanidade.
Em 1913, foi escolhido pelo governo federal para acompanhar o Presidente dos Estados Unidos, Theodore Roosevelt, numa expedição pela Amazônia. Esse feito, que lhe rendeu reconhecimento internacional e o prêmio Livingstone da Sociedade de Nova York, simboliza o respeito e a admiração que sua figura alcançou além das fronteiras do Brasil.
Colocar flores em seu busto, como fez aquele índio centenário, é mais que um ato simbólico — é um gesto de gratidão, respeito e compromisso com os valores que Rondon encarnou: paz, ciência, justiça e amor à terra que tanto amou. Cuiabá deve a Rondon não apenas o orgulho de tê-lo como parte de sua história, mas também o exemplo eterno de que o verdadeiro progresso só é possível com inclusão, diálogo e respeito à diversidade cultural e humana.
Reverenciar Rondon é também renovar o compromisso com a memória, com a história e com os ideais que podem guiar um futuro mais justo e fraterno para todos os brasileiros.
(*) FRANCISCO DAS CHAGAS ROCHA é Membro do Instituto Histórico e Geográfico de
Mato Grosso.
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