Um acidente na infância mudou para sempre a vida de William Lawlis Pace. Hoje já falecido, o norte-americano tinha apenas oito anos de idade quando seu irmão mais velho, Marvin, o atingiu acidentalmente com uma bala de rifle durante uma brincadeira de “faz de conta” na fazenda da família no Texas, Estados Unidos, em 1917.

Nenhum dos irmãos sabia que o rifle estava carregado. Pace viveu com a bala alojada na cabeça por mais 94 anos e 175 dias — o que foi considerado um período recorde pelo Guinness World Records, que divulgou a história no último dia 25 de janeiro.

Pace ficou com o rosto desfigurado, perdeu a audição em sua orelha direita e ficou quase cego no olho direito. A bala nunca foi removida porque os médicos temiam que ele não sobrevivesse à cirurgia, segundo contou Theron, o filho do estadunidense.

“Durante todo o tempo, ele não sentiu dor. Não perdeu a consciência. Eles decidiram que não podiam fazer nada por ele porque a bala estava muito perto do cérebro”, disse Theron ao Wichita Falls’ Times Record News em 2009.

William Lawlis Pace recebeu o título do Guinness World Records em 2006, com raios X confirmando que a bala permaneceu alojada na parte de trás de sua cabeça. — Foto: Guinness World Records
William Lawlis Pace recebeu o título do Guinness World Records em 2006, com raios X confirmando que a bala permaneceu alojada na parte de trás de sua cabeça. — Foto: Guinness World Records

Apesar de viver com a bala do rifle calibre 22, Pace teve uma vida relativamente normal. Ele gostava de jogar beisebol durante a infância, e depois foi para a faculdade por alguns anos antes de seu médico recomendar que ele abandonasse os estudos para salvar a visão de seu “olho bom”.

Seguindo os passos de seu pai, o jovem se tornou agricultor; e, anos depois, trabalhou com a manutenção de um cemitério. Viveu um casamento de 71 anos com uma mulher chamada Onetia, com quem viajou pelo mundo, visitando países como Tanzânia, Egito, Austrália e outros. E também teve filhos, além de vários netos e bisnetos.

William (centro-esquerda) em sua juventude — Foto: Guinness World Records
William (centro-esquerda) em sua juventude — Foto: Guinness World Records

Em 2006, Pace recebeu o título do Guinness World Records, com um exame de raio-x confirmando que a bala de rifle havia permanecido alojada na parte de trás de sua cabeça.

Mais tarde, em 2010, o jornal californiano The Modesto Bee perguntou ao idoso o que mais o surpreendeu em seus mais de 100 anos de vida. Ele disse que foram as invenções tecnológicas: “As melhorias na vida. Quando nasci, não havia tratores, nem máquinas de ordenha”, refletiu.

Cerca de dois anos depois, em 23 de abril de 2012, William Lawlis Pace morreu. Conforme divulgou na época a Agência Associated Press (AP), o óbito ocorreu em uma casa de repouso em Turlock, na Califórnia, enquanto o idoso dormia. Ele tinha 103 anos.

O recorde anterior

Antes de Pace, quem deteve o recorde de mais tempo vivo com uma bala na cabeça foi Satoru Fushiki, do Japão, que foi acidentalmente atingido por um projétil de uma arma de ar em 1943, quando ele tinha 13 anos.

A lesão hospitalizou o garoto por um mês e o deixou permanentemente cego de um olho. O médico de Satoru recomendou a remoção do globo ocular, pois o projétil era feito de chumbo e poderia causar envenenamento, levando à cegueira no outro olho.

Radiografia do crânio de Satoru tirada em 2001 — Foto: Guinness World Records
Radiografia do crânio de Satoru tirada em 2001 — Foto: Guinness World Records

Porém, o rapaz hesitou em passar pelo procedimento, e foi a outro hospital em busca de um tratamento alternativo. Lá, um oftalmologista lhe deu penicilina, antibiótico que era novidade na época.

“Felizmente, a penicilina, que começou a ser usada em todo o mundo em 1948, me salvou e dispensou a necessidade de remover meu globo ocular”, disse Satoru ao solicitar o recorde em 2001, quando a bala já estava alojada em sua cabeça por 58 anos, segundo o Guinness.

(Redação Galileu)