Botafogo e Palmeiras farão um dos confrontos mais aguardados das oitavas de final da Conmebol Libertadores. Também pela questão da expectativa dos jogos, mas por tudo que envolve os bastidores: desde o fim do Brasileirão 2023, a relação entre John Textor e Leila Pereira, mandatários dos clubes, é marcada por brigas judiciais e declarações fortes.

A competição nacional foi o marco. O Alvinegro chegou a abrir 12 pontos de vantagem na liderança, mas o Verdão acabou campeão com uma arrancada histórica no segundo turno. O jogo marcante foi a vitória da equipe paulista sobre os cariocas por 4 a 3 após estar perdendo por 3 a 0 no Estádio Nilton Santos.

Desde então, John Textor, dono da SAF Alvinegra, acusou o Palmeiras de manipulação de resultados em, pelo menos, duas oportunidades. Leila já respondeu ao norte-americano, afirmando que as afirmações não são verdadeiras e chamando o executivo de “fanfarrão”, por exemplo.

O 4 a 3 e o relatório

John Textor invadiu o gramado do Estádio Nilton Santos após a derrota por 4 a 3 para reclamar da arbitragem. O norte-americano ficou na bronca pela expulsão de Adryelson, quando o jogo ainda estava 3 a 1 a favor do Botafogo. O zagueiro levou cartão vermelho após revisão do VAR por falta em Breno Lopes.

– Isso precisa mudar. Ednaldo, você precisa renunciar pelo bem do jogo. Isso precisa acabar. Isso é roubo, me multa. Você não pode me expulsar, é meu estádio, eu vou continuar aqui – afirmou.

Três semanas depois, quando o Alvinegro já não estava mais na liderança do Brasileirão, Textor produziu um relatório em parceria com a Good Game!, empresa francesa que analisa arbitragem e movimentações de jogadores por meio da inteligência artificial, relatando que o Botafogo deveria ter 21 pontos a mais que o Palmeiras na competição.

A resposta de Leila e provocação do Palmeiras

O Palmeiras fez diversas postagens comemorando o título do Campeonato Brasileiro. Entre elas, a do “relatório super secreto” com as estatísticas do time ao longo da competição em referência ao dossiê apresentado pelo americano.

Palmeiras ironiza nas redes sociais relatório do Botafogo — Foto: Reprodução

Palmeiras ironiza nas redes sociais relatório do Botafogo — Foto: Reprodução

Leila chamou Textor de “desequilibrado” após a conquista do título brasileiro do Palmeiras, confirmado na última rodada.

A resposta de John Textor veio no mesmo dia. À tarde, o americano publicou uma nota oficial nas redes sociais destacando o fato de que o Palmeiras se beneficiou de expulsões dos adversários em 11 partidas durante a temporada 2023.

– No tópico de equilíbrio, é preciso observar que o time dela vive em um mundo em que jogar 11 contra 10 representa equilíbrio. O Palmeiras se beneficiou da vantagem de 11 contra 10 onze vezes durante a temporada 2023, um ano que as equipes tiveram a média deste benefício em 3 – afirmou.

Interesse em Júnior Santos?

Júnior Santos foi ligado a um possível interesse ao Palmeiras no começo do ano. Nenhuma proposta oficial chegou para o Botafogo, mas Textor foi às redes sociais para negar qualquer possibilidade de saída para o rival.

– O Palmeiras deveria comprar em outro lugar. Jogadores do Botafogo preferem 11 x 11 – escreveu.

Acusação

Em abril, John Textor afirmou, em entrevista ao “Canal do Medeiros”, que possui provas de manipulação envolvendo o Palmeiras.

– Ano passado foi turbulento. Não vou deixar o que aconteceu ano passado passar batido. Estamos em uma nova temporada. Temos provas pesadas, 100% confirmadas de que o Palmeiras vem sendo beneficiado por manipulação de resultados por pelo menos duas temporadas. Desculpe se isso vai criar barulho, mas tenho provas, vou mandar aos procuradores. Estou aqui para defender a honra do meu clube. Posso prometer a vocês que ninguém vai mexer nas nossas partidas desse ano – afirmou.

Justiça e declarações de Leila

O Palmeiras emitiu uma nota oficial no dia seguinte afirmando que colocaria John Textor na Justiça sob a justificativa de “que ele responda pelas declarações irresponsáveis e levianas que, recorrentemente, têm envolvido o nome do atual bicampeão brasileiro.”

Leila falou diretamente sobre o dono do Botafogo por dois dias seguidos. A primeira foi em entrevista antes do Campeonato Paulista à “CazeTV”; a outra, durante a premiação do Estadual.

– Este senhor já está falando essas barbaridades desde que fomos campeões brasileiro. O Palmeiras está processando o John Textor tanto na esfera civil como também pedimos instauração de inquérito policial. Ele tem que comprovar o que ele diz. Eu acho que o Textor é a grande vergonha do futebol brasileiro, porque é uma irresponsabilidade ímpar uma pessoa ficar fomentando mentiras. Ele tem que provar – afirmou no dia 7 de abril

– Se pensarem bem, minhas declarações não são fortes. Eu falo a verdade. No futebol é difícil alguém chegar e falar a verdade. É simples. Não é forte. É aquele negócio filosófico, isso é Nietzsche: “o quanto de verdade vocês suportam ouvir”. Eu falo a verdade. Quem é John Textor? É a vergonha do futebol brasileiro, um fanfarrão que tem que ser punido exemplarmente – declarou no dia 8.

Leila Pereira e John Textor — Foto: Reprodução

Leila Pereira e John Textor — Foto: Reprodução

Batalha de versões

A partir disso, John Textor e Leila Pereira voltaram a falar um do outro mais duas vezes cada.

Textor em 18/04: “Obviamente não estou feliz com a situação do Palmeiras. Leila diz que não há manipulação de resultado, mas celebra o papel na comissão para investigar manipulação de resultados. O gringo é suspenso e a Leila ganha um aperto de mão do presidente da CBF no estádio de Wembley. Eu ainda não encontrei com o presidente da CBF em dois anos que estou aqui.”

Leila em 19/04: “Esse senhor tem falado do Palmeiras desde que nós conquistamos o título brasileiro. E ele continuou falando. Nós entramos com o processo na esfera civil e pedimos a instauração de inquérito policial para apurar essas denúncias. Ele diz que tem provas, mas não apresenta provas absolutamente nenhuma. Esse é mais um caso que as autoridades brasileiras precisam tomar um posicionamento muito firme. O que o senhor está dizendo é que o Brasil não é um país sério, não é? (…) Ele tinha que ser banido do futebol brasileiro, porque ele não pode desrespeitar as autoridades e os clubes sem prova absolutamente nenhuma.”

Leila em 22/04: “Ele continua falando e não prova absolutamente nada. Eu acho isso uma aberração, uma vergonha. Muitas pessoas ficam pensando: por que ele está falando isso? Romário perguntou se ele não queria vender o Botafogo. Não adianta ficar elucubrando, esse senhor é um idiota. Ele não quer nada.”

Textor em 27/04: “Ela diz que sou louco que não produzi provas. Isso é mentira. Ela está mentindo. É desinformação. Sempre que ela entra no ar e diz “ele faz essas alegações sem provas”, ela mente intencionalmente. Ela sabe exatamente o que fiz no STJD. Ela coloca uma tremenda pressão sobre eles. Não sei dizer porque ela é tão contrária a isso. Há outros clubes que podem estar envolvidos em manipulação de resultados, e os presidentes responderam de uma maneira completamente diferente. Eles disseram “se algum dos meus jogadores fez algo errado, se aconteceu algo com o adversário onde eles fizeram algo errado, eu quero saber. E, John, eu estou com você”. Eu estou recebendo esse apoio silencioso de outros presidentes de clube que estão em situação semelhante à dela. Eu acho que minha mensagem para ela seria: “Se você não é culpada, pare de agir como culpada. Porque você certamente não está agindo como alguém que quer chegar à verdade”.

Processo de Textor

O último ato da briga entre os dois foi no dia 23 de maio, quando John Textor processou Leila Pereira por danos morais. O dono da SAF entrou na Justiça contra a presidente do Palmeiras por injúria e difamação por causa das declarações feitas pela executiva. (GE)