Em 1545, quase cico séculos atrás, a civilização asteca desmoronou de maneira repentina. Seus habitantes começaram a manifestar sintomas como febre alta e dores de cabeça, seguidos por sangramento pelos olhos, boca e nariz.
Gradualmente, foram morrendo até desaparecerem completamente. Em 1550, cerca de 80% da população asteca, composta por 15 milhões de indivíduos, se dizimou.
Ao longo dos séculos, os cientistas têm se esforçado para compreender como um evento tão catastrófico pôde ocorrer e devastar o México. Agora, quase 500 anos depois, as primeiras respostas parecem ter sido descobertas.
Praga
Os moradores locais descreveram a doença que levou à queda do Império Asteca como “cocoliztli”, uma palavra na língua asteca nahuatl que significa “pestilência”.
Por meio de evidências de DNA extraídas dos dentes de vítimas que faleceram há muito tempo, os cientistas puderam concluir que a causa dessa epidemia era provavelmente uma forma de “febre entérica”.
Atualmente, é algo semelhante à febre tifoide, doença da Salmonella enterica, mais especificamente uma subespécie que os cientistas chamam de Paratyphi C.
Essa subespécie é um patógeno bacteriano conhecido por provocar febre entérica, transmitida principalmente por alimentos ou água contaminados.
Além disso, traz semelhanças com a Salmonella que hoje associamos a infecções decorrentes do consumo de ovos crus. Felizmente, a variante moderna dessa bactéria raramente causa infecções em seres humanos.
Ao analisarem o DNA antigo proveniente de 29 esqueletos encontrados em um cemitério de vítimas do cocoliztli, os cientistas conseguiram detectar a presença de patógenos bacterianos.
O único micro-organismo identificado foi justamente o Paratyphi C. Isso levou os pesquisadores a acreditarem que essa bactéria é o candidato mais provável a ter sido responsável pela “extinção” do povo, explicando como os astecas morreram.
Como surgiu?
Apesar das informações recentes, a equipe de pesquisa enfatizou que outros patógenos podem estar presentes nos restos mortais desse povo, explicando por que os astecas morreram.
Por outro lado, é possível que estejam indetectáveis ou desconhecidos pelos humanos. Portanto, essas possibilidades ainda não se descartam totalmente.
Os resultados desse estudo são públicos, disponíveis na revista científica Nature Ecology and Evolution.
Além de identificar a causa da epidemia, os pesquisadores também parecem ter identificado a origem do surto: os colonizadores europeus.
O cenário mais plausível é que os animais portadores dessas doenças tenham chegado no México por meio dos colonos, cujos sistemas imunológicos já estavam adaptados para lidar com esses germes.
Por outro lado, os astecas nunca haviam sido expostos a essas doenças e não foram capazes de enfrentar suas consequências.
História se repete
Historicamente, isso foi algo que dizimou muitos povos nativos nas Américas durante o período de colonização.
No passado, doenças como gripe, varíola, sarampo e outros agentes patogênicos que se sabe terem sido trazidos da Europa também foram considerados como possíveis explicações para o fim do Império Asteca.
Existem evidências desse tipo de massacre também no Sul, com os indígenas nativos do Brasil, por exemplo. A chegada de doenças europeias e a falta de imunização comprometeu grande parte da saúde dos povos.
No entanto, as evidências recentes parecem descartar grande parte dessas hipóteses.
Apesar do desfecho trágico, com uma causa biológica que explicaria por que os astecas morreram, eles certamente deixaram para trás um legado impressionante.
Isso porque representam uma das sociedades antigas mais avançadas que já existiram nessas terras. Suas tecnologias e legado permanecem até os dias atuais, e, por isso, despertam o interesse por parte dos cientistas.
Com mais estudos, será possível indicar, com precisão, o que aconteceu com os povos nativos das Américas. Enquanto isso, pesquisadores seguem na linha de pensamento mais lógica até o momento.
(Mega Curioso)