Um dos proprietários da Nossa Senhora D’Abadia, localizada no município de Novo Mundo, afirmou que o deputado estadual Valdir Barranco (PT) e que alguns agentes públicos têm propagado mentiras, incitando a população a cometer invasão de terras na Amazônia mato-grossense, criando instabilidade na região. Este tipo de atuação pode resultar em novos conflitos e crimes ambientais, a exemplo dos verificados na última semana, quando um grupo de pessoas tentou invadir a sua fazenda. Na ação, a Polícia Militar foi acionada e ao menos 19 pessoas foram detidas em flagrante. Além disso, uma arma, munições e produtos usados na recarga das armas foram apreendidos.

Clayton Rodrigues da Cunha e sua família, compraram a Fazenda há 17 anos. Ele explica que no local a família cuida da reserva legal e nas áreas permitidas pela Secretaria de Estado de Meio Ambiente (Sema-MT) faz a cria, recria e engorda de gado, além de plantar soja, milho. A posse da fazenda, ressalta Cunha, está amparada por decisão do Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF-1).

“Fomos surpreendidos, na madrugada do dia 27, com a informação de que um grupo de pessoas invadiu a fazenda. Acionamos os órgãos de segurança e a área foi desocupada, inclusive com a prisão de pessoas armadas. Depois disso, o deputado Valdir Barranco fez diversas postagens nas redes sociais dizendo que a posse da fazenda seria da União, que há ordem de desocupação contra a gente que não é cumprida, mas isso não é verdade. Com essas notícias falsas, o deputado está criando uma instabilidade enorme em toda a região”, pontuou Clayton.

Ao acusar Barranco de ser irresponsável e mentiroso, Cunha destacou que a posse da fazenda está completamente protegida do ponto de vista jurídico. “Há, inclusive, um interdito proibitório, determinando a prisão em flagrante dos invasores, nos protegendo contra essas ameaças. Estamos sofrendo com essa irresponsabilidade do deputado e de outros agentes públicos que, por interesses que desconhecemos, estão incitando as pessoas a invadirem a nossa fazenda. Nosso medo é a de que haja novos conflitos e mais violência”.

Entre as outras pessoas citadas por Clayton está a defensora pública Gabriela Beck, que acompanhava a invasão e acabou detida pelos policiais. “É um absurdo ver uma defensora pública apoiar invasões violentas com pessoas armadas disfarçadas de clientes da reforma agrária. O policiamento agiu de forma correta ao conter estes invasores em flagrante e buscaremos esclarecimentos sobre a qual procedimento a corregedoria vai apurar esses desvios de conduta dela que estava presente e participou da invasão. Queremos uma resposta, entendemos que isso é uma afronta ao poder judiciário”.

Fake news sobre novos assentamentos

Nas postagens Barranco também tem alegado de forma equivocada que em outra fazenda da Região, com nome de Araúna, serão realizados novos assentamentos para os clientes da reforma agrária. A fala do parlamentar neste caso também é mentirosa, explica Cunha. Isso porque a Sema já notificou o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) informando que a Fazenda Araúna está na Zona de Amortecimento do Parque do Cristalino, onde é proibida a criação de novos assentamentos, uma vez que é crime ambiental criar assentamentos em áreas de parque.

“É triste que um deputado estadual, que já atuou no Incra, faça este tipo de coisa, propague mentiras e crie toda uma insegurança para nós, que trabalhamos ali há muitos anos, além de dar falsas esperanças às pessoas que buscam ser atendidas pela reforma agrária. O deputado sabe que para criação de novos assentamentos existe a obrigatoriedade de os clientes da reforma agrária serem selecionados por processo seletivo do Incra. Vamos apresentar notícia-crime e representação junto à corregedoria, para apurar a conduta de todos os agentes públicos que estão incitando as invasões e propagando a violência”, desabafou.

Cunha afirma que sua família está na posse da área a mais de 17 anos e sempre atuou de forma responsável no manejo da terra, buscando sustentar sua família e que tudo que conquistou foi com a garra do homem do campo. “Isso é tudo que temos. Esperamos que a União e principalmente o Incra reconheça nosso direito de regularizar a terra nos termos da lei de regularização fundiária”.

Ele espera ainda que os programas de assentamento em áreas permitidas e que não provoquem danos ambientais irreversíveis possam prosseguir de forma pacífica e sustentável, com o devido planejamento em disputas que tenham transitado em julgado e que não tenham risco ao meio ambiente. “Tudo isso sem tirar a oportunidade de famílias que estão a anos aguardando seu direito de regularizar e serem ‘arrancadas a força’ às margens da lei”.

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