Há quase um ano, o deputado estadual Carlos Avallone (PSDB) abraçou uma iniciativa idealizada pela filha, Marina Avallone – o Projeto Escuta. Implantado em Cuiabá, o objetivo da ação é garantir acolhimento e acompanhamento psicológico e psiquiátrico para famílias de baixa renda que buscam tratamento em casos de transtornos mentais. Atualmente, 200 pacientes são atendidos no consultório do projeto por duas psicólogas e uma psiquiatra. Desses, quase 60 são crianças com idade a partir de quatro anos.
A ideia do projeto surgiu há sete anos, quando Marina enfrentou uma depressão após o nascimento do seu filho. “Era péssimo, a pior sensação do mundo. Mas eu tive auxílio da minha família e profissionais, que foi o que me fez sair. Se não tivesse apoio da minha família e condições financeiras para ter um tratamento digno, eu não sei se estaria aqui. Foi o que me fez pensar nas pessoas que não tem condições de custear esse tipo de tratamento”.
O pai abraçou a iniciativa da filha e em junho do ano passado foi implantado o piloto do Projeto Escuta, coordenado pela vereadora Maria Avallone, presidente do PSDB Mulher/MT. Em menos de um ano mais de 300 pacientes já receberam atendimento. Uma equipe que atua no gabinete do deputado estadual Carlos Avallone identifica nos bairros pessoas que enfrentam problemas de transtornos mentais e encaminham para o Projeto Escuta.
Os atendimentos são feitos de forma totalmente gratuita. Para isso, uma triagem dos pacientes identifica o tipo de transtorno e é feita a comprovação de se trata de uma família de baixa renda. “O diferencial aqui é que não é um padrão para todos, como uma consulta por mês, mas é conforme a necessidade do paciente. Pode ser semanal, mensal e, dependendo do caso, a psicóloga encaminha para a psiquiatra que também atende no projeto. O tipo de tratamento e alta são definidos pelas profissionais”, explicou Marina.
Além de padrinho do Projeto Escuta e como forma de ampliar o debate sobre o tema, o deputado estadual é autor do pedido que criou a Câmara Setorial Temática para discutir atendimento à saúde mental em Mato Grosso, instalada na Assembleia Legislativa. O objetivo é fazer um diagnóstico detalhado sobre a estrutura de atendimento na saúde pública mato-grossense e indicar políticas públicas – além das necessárias previsões orçamentárias – para melhorar a atenção a transtornos psíquicos.
“Eu olhei para as situações enfrentadas dentro da minha casa e entendi que eu precisava fazer algo. Principalmente depois da pandemia da Covid-19, quando muitas pessoas tiveram a saúde mental abalada e não tem acesso a um tratamento digno. Foi quando eu compreendi a proporção dos danos da pandemia na saúde mental da população e apresentei o pedido para criação da câmara setorial e apoiei o projeto da minha filha, que agora é um projeto da nossa família”, explicou Carlos Avallone.
Gestora do Projeto Escuta, Cleonice Santos explica que no consultório são realizados diversos tipos de tratamento que vão desde e o acolhimento inicial, que é quando o paciente está em situação de crise até o tratamento contínuo. No caso de menor de idade é feita uma consulta inicial com a mãe, pai ou responsável, para uma anamnese. A maioria dos acompanhamentos são com pacientes diagnosticados com depressão, autismo e transtorno de oposição desafiante (TOD – caracterizado por distúrbios do controle de impulsos e da conduta, e por comportamentos agressivos).
“O que mais me chama atenção hoje é ver as crianças tratando e o número de pais e mães que buscam tratamento para essas crianças. Hoje passa de sessenta crianças atendidas a partir de 4 anos de idade. A gente sabe que uma criança que já está sendo tratada hoje não se torna um adulto problemático, porque na nossa época a gente não tinha noção disso. Era tratado como frescura, birra e apanhava achando que ia resolver”.
O desafio do Projeto Escuta agora é garantir a viabilidade de recursos, para ampliar a rede de atendimento com mais psicólogas e psiquiatras. O deputado Carlos Avallone já destinou R$ 500 mil em emendas parlamentares impositivas, que devem ser liberadas pelo Governo do Estado, por meio da Secretaria Estadual de Assistência Social.
“A gente sabe que existem tratamentos ofertados pelo SUS para casos de distúrbios mentais, ou acompanhamento nos CAPS, mas isso não é suficiente. O poder público muitas vezes tem o recurso, mas não é apenas o recurso, o que falta é esse acolhimento, esse acompanhamento humanizado. Não podemos contar o número de atendimento, precisamos contar quantas vidas são salvas diariamente com esse trabalho do Projeto Escuta”, explicou Cleonice.
Audiência Pública
Como forma de ampliar o debate sobre saúde mental, o deputado Avallone realizará no próximo dia 15 de maio uma Audiência Pública, em conjunto com a Comissão de Saúde da Assembleia. O requerimento foi aprovado na sessão desta quarta-feira (26.04). A Audiência Pública será no Auditório Milton Figueiredo, na Assembleia Legislativa, às 14 horas, na segunda-feira (15 de maio).
Dados em MT e no Brasil
Em Mato Grosso dados do IBGE mostram que o distúrbio mental já foi diagnosticado em 40 mil homens e 165 mil mulheres até 2019. Este número é 30% maior que o registrado em 2013, quando foi realizada a edição anterior do estudo. À época, havia sido diagnosticado o total de 157 mil pessoas no estado, sendo 32 mil homens e 124 mil mulheres.
Nos últimos anos, as doenças mentais tiveram um aumento considerável, situação agravada nos dois anos da pandemia de Covid. Segundo a Organização Mundial de Saúde, o Brasil é considerado o país mais ansioso do mundo e o quinto mais depressivo. Mesmo assim, parte dessas pessoas não possui assistência médica adequada quanto à saúde mental.