Vendedor de noz de bétele, em Taiwan — Foto: Marek Ślusarczyk via Wikimedia Commons

A noz de bétele (ou noz de areca) é muito popular em alguns locais da Ásia por seus efeitos psicoativos. Usuários descrevem sensações como euforia, palpitação, relaxamento e calor pelo corpo. Seu consumo divide opiniões: é tido como cultural em locais como o Taiwan, por exemplo, mas traz riscos à saúde e gera dependência.

Agora, um estudo trouxe mais uma informação curiosa sobre seu uso. Pesquisadores analisaram dentes de 4 mil anos e descobriram vestígios de noz de bétele. O estudo foi realizado em um sítio arqueológico da Tailândia. “Esta é a evidência biomolecular direta mais antiga do uso da noz de bétele no sudeste da Ásia”, diz Piyawit Moonkham, um dos autores do estudo, em um comunicado da revista Frontiers – responsável pela publicação do artigo referente à pesquisa.

A descoberta foi feita através de análises químicas minuciosas. “Demonstramos que o cálculo dentário pode preservar assinaturas químicas do uso de plantas psicoativas por milênios, mesmo quando as evidências arqueológicas convencionais estão completamente ausentes”, explica Shannon Tushingham, que também é autora do estudo.

Os cientistas misturaram componentes da noz à saliva humana para reproduzir as condições da mastigação. “A presença de compostos da noz de bétele no cálculo dentário sugere consumo repetido, visto que esses resíduos são incorporados aos depósitos de placa mineralizada ao longo do tempo, devido à exposição regular”, diz Tushingham.

Os pesquisadores envolvidos defendem que esse tipo de pesquisa é importante para o debate sobre o consumo cultural de substâncias psicoativas. “Compreender o contexto cultural do uso tradicional das plantas é um tema mais amplo que queremos ampliar — plantas psicoativas, medicinais e cerimoniais são frequentemente descartadas como drogas, mas representam milênios de conhecimento cultural, prática espiritual e identidade comunitária”, aponta Moonkham. “Evidências arqueológicas podem auxiliar nas discussões contemporâneas ao honrar a profunda herança cultural por trás dessas práticas”, complementa.

(Por Redação Galileu)