A fenomenologia da percepção, desenvolvida por Maurice Merleau-Ponty, é uma abordagem filosófica que busca compreender a natureza da experiência perceptiva e a maneira como os seres humanos se relacionam com o mundo ao seu redor. Essa corrente filosófica destaca a importância da corporeidade, da intersubjetividade e da encarnação na análise da percepção.
Merleau-Ponty argumenta que a percepção não é uma atividade isolada da mente, mas uma experiência que envolve todo o corpo. Ele rejeita a dicotomia entre sujeito e objeto, propondo que a percepção seja uma interação entre o organismo e seu ambiente.
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Em sua obra seminal Fenomenologia da Percepção, ele introduz a noção de carne, referindo-se à unidade indissociável entre o corpo e a consciência. A carne é o ponto de partida para compreender como a percepção é inseparável da experiência vivida. Merleau-Ponty destaca a importância do corpo enquanto instrumento perceptivo, afirmando que é através da corporeidade que o mundo se revela a nós. Assim, a visão, a audição e outros sentidos são modos pelos quais o corpo se comunica com o ambiente.
A escolha verdadeira, por exemplo, é a escolha de nosso caráter inteiro e de nossa maneira de ser no mundo. E acrescenta M-Ponty quanto à liberdade: “Se não há ciclos de conduta, situações abertas que pedem um certo acabamento e que possam servir de fundo, seja a uma decisão que as confirme, seja a uma decisão que as transforme, a liberdade nunca tem lugar” (Fenomenologia da Percepção, Martins Fontes).
Ao explorar a intersubjetividade, esse espetacular pensador francês destaca que a experiência perceptiva é moldada pela presença dos outros. Nossas percepções são influenciadas pelo fato de estarmos imersos em um mundo compartilhado com diferentes perspectivas. A linguagem, nesse contexto, não é apenas um meio de expressão, mas uma extensão da percepção, permitindo a comunicação e a compreensão mútua.
Edmund Husserl, precursor da fenomenologia, contribuiu para essa abordagem ao propor a "atitude natural", uma forma de olhar para o mundo sem pressuposições teóricas. Isso implica suspender julgamentos preconcebidos para permitir uma apreensão direta da experiência. A fenomenologia da percepção segue essa tradição, buscando desvelar a estrutura fundamental da consciência pré-reflexiva.
Outro pensador relevante é Jean-Paul Sartre, que, embora tenha discordâncias com Merleau-Ponty, também explorou a fenomenologia da percepção. Em sua obra O Ser e o Nada, Sartre destaca a noção de olhar, enfatizando como a consciência é afetada pelo olhar do outro. Isso contribui para a compreensão da intersubjetividade e da formação da identidade.
A fenomenologia da percepção continua a influenciar diversas disciplinas, incluindo psicologia, neurociência e estética. As pesquisas contemporâneas sobre a percepção sensorial e a consciência muitas vezes dialogam com as ideias de Merleau-Ponty, enfatizando a importância de considerar o corpo e a experiência vivida na compreensão da percepção humana.
Em conclusão, a fenomenologia da percepção oferece uma abordagem rica e complexa para entender como os seres humanos se relacionam com o mundo ao seu redor. Merleau-Ponty, e outros pensadores, destacam a inseparabilidade entre corpo, mente e ambiente, enfatizando a importância da experiência vivida e da intersubjetividade. Essa abordagem continua a inspirar investigações filosóficas e científicas, convidando-nos a repensar a natureza da percepção e da consciência.
É por aí…
*GONÇALO ANTUNES DE BARROS NETO (Saíto) é formado em Filosofia e Direito pela Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT); é membro da Academia Mato-Grossense de Magistrados (AMA), da Academia de Direito Constitucional (MT), poeta, professor universitário e juiz de Direito na Comarca de Cuiabá. E é autor da página Bedelho Filosófico (Face, Insta e YouTube).
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