O abeto-da-noruega é um típico primeiro natalino, nativo do norte da Europa. Ele é bastante usado em projetos de reflorestamento, inclusive em áreas de mineração — Foto: Julian Paren/Geograph

Todo mundo sabe que dinheiro não nasce em árvore. E algo bem mais valioso, como ouro? Pelo visto sim, segundo pesquisadores da Universidade de Oulu, na Finlândia, que encontraram nanopartículas do metal em abetos-da-noruega (Picea abies).

Os microrganismos foram descritos como bactérias endofíticas: seres que vivem no interior das plantas sem causar danos a elas. Na verdade, essas bactérias colaboram para a produção de hormônios, a absorção de nutrientes e a melhoria do sistema de defesa da hospedeira. O processo de separação de partículas solúveis de ouro da água absorvida pelas raízes da árvore é denominado biomineralização.

Agulhas valiosas

No processo de biomineralização feito pelas bactérias, minerais e outras substâncias inorgânicas acabam se solidificando nos tecidos das plantas, servindo como um mecanismo de defesa. Por conta disso, eles podem ser detectados com o auxílio de instrumentos especializados.

As agulhas dos pinheiros são aquelas folhas pontiagudas que encontramos nas extremidades dos galhos. A depender da espécie, elas podem ser usadas para artesanato e jardinagem, assim como para chás de propriedades medicinais — Foto: Françoise Alsaker/Info Flora
As agulhas dos pinheiros são aquelas folhas pontiagudas que encontramos nas extremidades dos galhos. A depender da espécie, elas podem ser usadas para artesanato e jardinagem, assim como para chás de propriedades medicinais — Foto: Françoise Alsaker/Info Flora

Em parceria com o Serviço Geológico da Finlândia, os pesquisadores estudaram 138 amostras de folhas agulhadas de 23 abetos-da-noruega. Essas árvores estavam localizadas próximas à Mina Kittilä, a maior mina de ouro da Europa. De todos os pinheiros, quatro tinham folhas com nanopartículas de ouro.

Essas partículas estavam cercadas por biofilmes – comunidades biológicas organizadas de forma complexa sob uma superfície – criados por grupos bacterianos como P3OB-42, Cutibacterium e Corynebacterium.

Por sequenciamento de DNA dessas estruturas, os cientistas verificaram que elas eram mais comuns justamente nas agulhas que continham vestígios do valioso mineral.

Registros de uma microscopia que mostra nanopartículas de ouro dentro de uma agulha de abeto-da-noruega. Elas podem ser vistas bem brilhantes em comparação com o fundo — Foto: Kaisa Lehosmaa/Environmental Microbiome
Registros de uma microscopia que mostra nanopartículas de ouro dentro de uma agulha de abeto-da-noruega. Elas podem ser vistas bem brilhantes em comparação com o fundo — Foto: Kaisa Lehosmaa/Environmental Microbiome

Detector ou mina de ouro?

“Isso sugere que essas bactérias específicas associadas ao pinheiro podem ajudar a transformar ouro solúvel em partículas dentro das agulhas. Essa descoberta é útil, já que rastrear esse tipo de bactéria nas folhas das plantas pode facilitar a prospecção de ouro”, diz Kaisa Lehosmaa, ecóloga e coautora do estudo, em comunicado.

Apesar do potencial científico da pesquisa em colaborar para o desenvolvimento de métodos indicadores de depósitos minerais sob a superfície, é importante trazer a informação de que essas nanopartículas representam um valor material ínfimo.

Elas medem um milionésimo de milímetro, sendo invisíveis ao olho nu. Isso quer dizer que não, ninguém ficará rico extraindo ouro de agulhas de abetos por aí.

(Por Fernanda Zibordi)