NEILA BARRETO

Em tempos de calor, Cuiabá recente muito dos lugares de água. Antes próximos. Hoje tudo muito longe. Os córregos que cortam a cidade, antes lugares de lazer, são vias condutoras de esgotos que cortam a cidade. O rio Coxipó nas proximidades da cidade, nem pensar. Ali pelas bandas do Sayonara, as águas podres exalam mau cheio. Longe se foi a prainha do Clube Sayonara, na capital mato-grossense.

No bairro do Baú, antes um tanque formoso, um açude de águas claras, fazia a alegria das criançadas. Quantas aulas foram sepultadas no local. A garotada fazia festa. Um piscinão gostoso de se banhar. Memórias antigas relembram do local assim: “ Ao tempo de garoto, e quantos anos já se vão! Quando, havendo muitas vezes perpetrado uma “matança” de aula, eu e hoje muitos conspícuos cidadãos íamos nos banhar nas águas para nós convidativas da lendária piscina, ouvíamos das maiores referências, pouco lisonjeiras ao então estado do tanque, que foi noutros tempos, diziam eles, muito maior e mais profundo, de águas claras e leves, podendo-se bebê-las sem escrúpulos”, um anônimo, conforme jornal o Estado de Mato Grosso de 1941.

Naquela época, alguns moleques da cidade de Cuiabá, ainda brincavam de “pegador” naquele lodaçal imundo, e muitos guris aprendiam a nadar no celebre tanque do Baú, onde gerações e mais gerações de rapazes, de vários matizes sociais, iam receber as suas primeiras lições de natação, tornando-se cada garoto um exímio nadador, um mergulhador consumado e um terrível jogador de “peladas”.

Hoje se encontra soterrado, dando lugar a parte da avenida Rubens de Mendonça, mais conhecida como Avenida do CPA, em Cuiabá. Antes de morrer, o Tangue do Baú passou por muitas humilhações; humilde, minguado, barrento, de aspecto quase repugnante, o velho e famigerado tanque do Baú faleceu como um mendigo esfarrapado e molambento, que teve, outrora, os seus dias de glória e de esplendor, foi decaindo de ano em ano. O córrego que o alimentava abundantemente, foi ficando reduzido a um fiapo de água amarelada provocado pelo adensamento da cidade e as intervenções urbanísticas sofridas pelo bairro. O Tanque do Baú deu lugar a rua, avenida, casas e prédios.

E o rio Cuiabá? Será que terá o mesmo caminho! Antes piscoso, águas claras, hoje bombardeado pelos esgotos produzidos pelas duas cidades às suas margens, Cuiabá e Várzea Grande e os seus infinitos bairros. Entupido de lixo produzido por todo o lado. Depósito de grande quantidade de óleo produzido pelas indústrias. O que será dele? Não custa lembrar que ele abastece de água de água de beber esses municípios. Não custa lembrar que água é alimento. Não custa lembrar que o corpo humano é composto de 70% de água. Não custa lembrar que dele depende, plantas, animais e todo o meio ambiente.

Não poderiam as atuais autoridades que velam pelas nossas cousas do passado, tentar uma “restauração”, mandando proceder a uma limpeza em regra no leito das águas, injetar novo sangue nas depauperadas artérias, cuidar de suas margens, construindo calçadas e impedindo o lançamento de tantas porcarias, investir no saneamento básico e providenciar a arborização das suas ribanceiras? Assim surgiria uma local decente, onde não mais seria permitido que jogassem esgotos não tratados, e onde as gerações porvindouras pudessem, como as que já passaram, receber as primeiras lições da arte difícil e muito útil de nadas.

O Tanque do Bahú, um tanque para acumular água, foi construído no governo de Alexandre Manoel Albino de Carvalho, Presidente da província de Mato Grosso, nomeado por Carta Imperial de 21/05/1863, que governou a província de 15/07/1863 a 09/08/1865.

Era um reservatório de água potável e aprazível local de passeio, mas que ficou caído no abandono público. Moutinho conta que o açude do Bahú teve arborização em torno, com bancos de madeira à sombra.

Água é vida! Água é alimento! Água é saúde! Cuide do rio Cuiabá, além disso ele é o principal elemento de paisagem da cidade, local de turismo, lazer e contemplação. Avante autoridades!

(*) NEILA BARRETO é jornalista, historiadora e presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso.

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