ARANYN

Entender que não é nosso momento, ou que aquela não é a nossa chance ou até era, a gente só não estava preparado, é um processo. Nesses últimos 12 anos, venho colecionando uma quantidade de “nãos”, quase que semanais, e eu sei que na vida recebemos “nãos” diários e penso: em que momento nos preparamos para recebê-los? Como artista, desde criança, sem perceber fui apresentada pra essa realidade. No ballet, eu não era uma das meninas mais alongadas e, por isso, não ficaria em nenhuma das

primeiras filas na apresentação final. Já no mundo das passarelas, eu não era alta o suficiente, o que faria mais sentido tentar uma carreira de modelo comercial, por exemplo. Depois que me aventurei no teatro e encontrei nas aulas um lugar seguro para errar, me colocar em situações desconfortáveis também era desafiador, era como se eu não pudesse errar e, assim, já estava fazendo errado. A ideia de lidar com o inesperado ou o não controle da situação sempre me gerou ansiedade.

No meu primeiro vestibular lidei com o não passar nas universidades que escolhi de primeira, o que me fez repensar as estratégias e as escolhas. Qualquer coisa relacionada com teatro ou música não poderia ser a primeira opção, já que “é importantíssimo ter um plano B em um país onde a arte não é valorizada”. Essa lógica, me fez estudar direito por 6 anos, dividindo meus estudos de teatro, dança e música.

Nos primeiros anos de aulas de teatro, alguns professores explicaram a realidade do mercado de forma ainda romantizada, misteriosa e até mesmo frustrada, dizendo que o “não” é regra, e que só dava pra continuar se a gente aprendesse a lidar com eles, muitas vezes ignorando.

Consegui meu primeiro trabalho como atriz, em um comercial depois de 2 anos de estudo. Eu não tinha experiência, não tinha um currículo, mas tinha recebido meu primeiro SIM no audiovisual e lembro até hoje a felicidade de sentir estar no caminho – comprei uma cafeteira com esse primeiro cachê.

Desde então recebo muitos outros “nãos”, seja para comerciais, em testes para peças deteatro, para musicais, séries, realities, editais e tantas outras situações que reverberam de alguma forma na minha autoestima ou percepção de capacidade.

Eu sei que, depois de 12 anos tentando tantas vezes, tem dias que ir atrás do SIM é tão desafiador quanto me permitir errar naquelas primeiras aulas de teatro.

Lidar com a frustração talvez tenha um gosto amargo, mas nos prepara para o dia seguinte, onde estamos mais preparados para a próxima alternativa. A cafeteira que eu comprei com meu primeiro sim é a mesma que prepara o meu café, todos os dias, para eu continuar em movimento e fazer o que eu acredito que nasci para fazer.

(*) ARANYN é cantora, compositora, atriz, natural de Cuiabá e vive em SP

Os artigos assinados são de responsabilidade dos autores e não refletem necessariamente a opinião do site de notícias Cuiabano News