Com a intensificação das mudanças climáticas nos últimos anos, as áreas costeiras ao longo do Mar Cáspio têm apresentado períodos de elevação e baixa nos níveis de suas águas. Isso proporcionou a descoberta de diversos artefatos centenários; dentre eles, um naufrágio de 28 metros de comprimento. A partir de amostras da madeira do convés, identificou-se que a embarcação data do final do século 18 ou início do século 19, e tem origem russa.
A investigação foi conduzida por uma equipe da Associação Internacional de Estudos Mediterrânicos e Orientais, da Itália, em parceria com a Faculdade de Arqueologia Subaquática em Teerão, do Irã. Suas análises renderam a publicação no dia 16 de dezembro de um artigo na revista científica Journal of Maritime Archaeology.
Análise do naufrágio
Durante duas temporadas, a construção de uma barreira temporária de sacos de areia contra a erosão das ondas permitiu uma escavação cuidadosa do local do naufrágio. Os trabalhos revelaram 43 camadas sedimentares que documentaram seu enterramento ao longo dos séculos, e a madeira encharcada foi analisada com microscopia eletrônica de varredura.
Cientistas fizeram datação por radiocarbono em três amostras de madeira e sementes de trigo sarraceno de uma cesta encontrada no compartimento mais baixo do navio para modelar os prováveis cronogramas de construção, reparo e naufrágio do navio. Restos botânicos foram processados por peneiramento de água e examinados em microscópios para identificar espécies.
Com isso, verificou-se que os elementos estruturais do casco e mastros continham madeira de pinheiro silvestre e abeto/lariço, indicando possível origem na região da bacia do Volga ou no Cáucaso. Uma ferramenta de madeira de álamo também foi recuperada no local. Acredita-se que a construção aconteceu entre 1762 e 1808.
Por sua vez, as sementes de trigo-sarraceno, que faziam parte de sua carga, dataram dentro de uma ampla faixa que se estende até o início do século 20, correspondendo ao período final de uso do navio. Ao todo, a análise arqueobotânica do naufrágio identificou seis famílias de plantas pertencentes às bacias dos rios Volga e Cáucaso.
O navio teria servido como parte de uma frota mercante operando no Mar Cáspio sob influência russa. A predominância de trigo sarraceno em sua carga apoia relatos históricos de seu uso como alimento básico para marinheiros e bens comerciais na economia marítima do Cáspio.
(Por Arthur Almeida)