Escavações no distrito de Changqing, no leste da China, revelaram a existência de ruínas inéditas da Grande Muralha. As seções recém-descobertas datam do final da Dinastia Zhou Ocidental (1046 a.C. – 771 a.C.) e do início do Período da Primavera e Outono (770 a.C. – 476 a.C.), o que posiciona esses trechos como os mais velhos de toda a construção. Além disso, a descoberta implica que a estrutura começou a ser montada 300 anos antes do que se imaginava até então.

Os estudos na região foram conduzidos pelo Instituto Provincial de Relíquias Culturais e Arqueologia de Shandong a partir de dezembro de 2024, e cobriu uma área de 1.100 m² na vila de Guangli. O processo marcou a primeira investigação proativa da Grande Muralha no estado de Qi.

Segundo o jornal chinês Global Times, os arqueólogos responsáveis coletaram artefatos tradicionais, bem como espécimes como sílica vegetal e ossos de animais. Eles também recolheram amostras para analisar usando a técnica de luminescência opticamente estimulada (OSL) e datação por carbono-14.

Estrutura das ruínas

Zhang Su, o líder do projeto, explica que a escavação revelou evidências significativas de vários períodos de construção. A equipe desenterrou grandes estruturas de terra batida, estradas, encostas, fundações residenciais, trincheiras e poços de cinzas, bem como paredes que datam de várias fases do desenvolvimento da muralha.

As paredes da estrutura podem ser divididas em duas fases principais. As paredes anteriores, que datam do Período da Primavera e do Outono, têm cerca de 10 metros de largura e podem ter sido construídas já na Dinastia Zhou (1046 a.C. – 256 a.C.). As seções posteriores da parede pertencem principalmente ao Período dos Estados Combatentes (475 a.C. – 221 a.C.).

Uma terceira fase das paredes é a mais bem preservada, com as técnicas de construção mais avançadas e o maior tamanho, medindo mais de 30 metros de largura. Esta seção provavelmente foi construída durante o pico do Estado Qi no Período dos Estados Combatentes.

“Nossa descoberta arqueológica empurra a data de construção da Grande Muralha de volta para o período Zhou Ocidental, estabelecendo-a como a mais antiga Grande Muralha conhecida na China”, afirma Liu Zheng, coautor da iniciativa. “Ela marca um avanço significativo na arqueologia chinesa e é um marco no esclarecimento das origens e do desenvolvimento da pesquisa da Grande Muralha”.

Outros achados

Para além ds paredes, duas residências que datam da Dinastia Zhou, localizadas abaixo das primeiras paredes na área de escavação ao norte, também foram descobertas. Essas moradias, com fundações quadradas e cantos arredondados são típicas das casas semi-subterrâneas do período.

Tal constatação sugere que, antes da construção da parede, essa área pode ter sido parte de um pequeno assentamento. É bem possível que ele estivesse ligado à função de defesa do rio.

A equipe arqueológica ainda descobriu o que parece ser a antiga cidade de Pingyin, a qual consta registrada em textos históricos. O local está localizado a aproximadamente 1,5 km ao norte da Grande Muralha.

“O layout, a localização e a infraestrutura associada da Grande Muralha de Qi refletem o planejamento militar avançado do Estado de Qi e a resposta estratégica a ameaças externas”, destaca Su. “Sua conexão próxima com Pingyin indica que a parede serviu não apenas como um mecanismo de defesa, mas também desempenhou um papel estratégico no controle de rotas de importantes”.

(Por Arthur Almeida)