Durante muitos anos, os egiptólogos ficaram intrigados com a existência de restos mortais particularmente bizarros encontrados no Antigo Egito. A “múmia que grita“, como foi apelidada, é o exemplar do corpo de um homem que, em vez de ter sido embalsamado com uma expressão calma como outros cadáveres, foi enterrado com a boca aberta e a cabeça jogada para trás em uma expressão de sofrimento.
Até então, pouco se sabia sobre a história desse cadáver agoniante. Porém, com a ajuda de crônicas antigas e de provas genéticas do século XXI, cientistas e historiadores juntaram as peças desse mistério e acreditam ter encontrado uma solução para o caso.
Morte forçada
(Fonte: Wikimedia Commons)
Segundo os pesquisadores, tudo indica que a múmia em questão se tratava do príncipe Pentawere, que teria sido forçado a tirar a sua própria vida. As circunstâncias que o fizeram ficar conhecido como “a múmia que grita” estão intimamente ligadas às do faraó Ramsés III, que morreu brutalmente após ter passado três décadas como governante supremo do Egito, por volta de 1187 a.C. a 1156 a.C.
Considerado um semideus entre o seu povo, o longo reinado de Ramsés culminou no descontentamento generalizado da população local, que foi atingida por lutas econômicas e escassez de alimentos. Com o poder do faraó se esgotando, uma de suas esposas, Tiye, formou um plano audacioso para assassiná-lo e instalar seu filho, Pentawere, em seu lugar.
A análise da múmia do faraó sugeriu que ele recebeu um golpe fatal de faca, possivelmente por trás. Uma segunda lesão, no dedo do pé, levou os especialistas a concluir que ele havia sido atacado simultaneamente pela frente. No entanto, embora os assassinos possam ter tido sucesso em sua missão, tudo indica que eles foram capturados na tentativa e obrigados a enfrentar a justiça pelos partidários de Ramsés III.
Pagando pela traição
(Fonte: Wikimedia Commons)
Embora Pentawere tenha sido enterrado com membros da realeza egípcia, os especialistas acreditam que há evidências na forma como ele foi enterrado de que ele chegou a ser considerado uma figura desgraçada em sua época — fornecendo mais evidências de que ele pode ter sido o suposto príncipe usurpador. Normalmente, figuras proeminentes no Egito Antigo passavam por um elaborado processo de mumificação após a morte, que incluía embalsamento e remoção de órgãos.
Além disso, os restos mortais tinham todas as feridas reparadas com o uso de amuletos ou substituição de partes do corpo. A “múmia que grita”, porém, não foi submetida a nenhum desses rituais e, na verdade, foi envolta em pele de cabra ou ovelha, um material considerado impuro pelos antigos egípcios. Em 2018, os restos mortais foram expostos no Museu Egípcio do Cairo, alimentando ainda mais interesse na história da participação do príncipe Pentawere em uma conspiração para assassinar seu pai Ramsés III.
Um exame mais aprofundado da múmia também confirmou que havia marcas no pescoço do cadáver consistentes com enforcamento. De acordo com os pesquisadores, caso o estrangulamento fosse a causa da morte, deveria haver fraturas de laringe — o que não foi encontrado. Logo, é provável que os defensores do antigo faraó tenham forçado Pentawere a se suicidar e o enterraram num ritual de desgraça pela sua conspiração.