ANGELIZA NEIVERTH SEGURA
Você já reparou quantas mulheres estão nas fileiras da advocacia? Agora, compare esse número com a presença feminina nos tribunais superiores. A discrepância é gritante. Somos maioria na base, mas minoria nos espaços de decisão.
“O Quinto Constitucional existe justamente para dar voz à advocacia dentro do Judiciário. E essa voz precisa ser plural, firme e transformadora”
Esse abismo não é coincidência. Ele é resultado de uma estrutura que, por séculos, acostumou-se a ver a liderança como um lugar exclusivamente masculino. Romper esse ciclo exige coragem, preparo e, sobretudo, consciência coletiva de que representatividade não é um detalhe: é um requisito de justiça.
O Judiciário só será verdadeiramente plural quando refletir a sociedade que ele serve. E a sociedade é feita de mulheres que trabalham, que educam, que lideram, que empreendem, que resistem. Mulheres que conciliam o exercício profissional com a maternidade, que sustentam famílias, que constroem histórias.
O olhar feminino, quando chega aos espaços de decisão, não é mero adorno: ele traz a experiência de quem vive diariamente os desafios de equilibrar múltiplos papéis sem abrir mão da competência e do compromisso ético.
A presença da mulher na liderança não significa excluir os homens — significa incluir uma visão até então sub-representada. Uma visão mais empática, mais colaborativa e mais conectada com a realidade de quem está na ponta.
Eu sei disso não por teoria, mas por prática. Foram quase vinte anos de advocacia, de escuta, de enfrentamentos e de defesas firmes das prerrogativas.
“Que mulheres podem, sim, ocupar os espaços de poder e usá-los não para si, mas para transformar realidades”
Minha trajetória no Tribunal de Defesa das Prerrogativas da OAB/MT mostrou, na pele, como o machismo ainda tenta silenciar mulheres advogadas. Interrupções constantes, julgamentos sobre postura ou aparência, tentativas de deslegitimar nossa firmeza. O que em um homem é chamado de liderança, em uma mulher muitas vezes é tachado de arrogância. Esse duplo padrão é real e precisa ser combatido.
Por isso, ocupar espaços de liderança é um ato político. Não se trata de vaidade pessoal, mas de abrir caminho para que outras venham. Porque cada mulher que chega a uma cadeira de decisão puxa consigo muitas outras, mostrando que é possível.
O Quinto Constitucional existe justamente para dar voz à advocacia dentro do Judiciário. E essa voz precisa ser plural, firme e transformadora. Mais do que uma vaga, é uma responsabilidade. Responsabilidade de levar para dentro do Tribunal não apenas a técnica, mas a vivência real de quem conhece os desafios da advocacia.
É tempo de mudar a lógica que nos acostumamos a aceitar. É tempo de afirmar que liderança feminina não é exceção, mas necessidade. Que mulheres podem, sim, ocupar os espaços de poder e usá-los não para si, mas para transformar realidades.
O futuro da Justiça passa pela coragem de abrir portas. E eu estou pronta para abrir mais uma.
Angeliza Neiverth Segura é advogada e foi vice-presidente do Tribunal de Defesa das Prerrogativas da OAB/MT
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