Mato Grosso já registrou 5.639 focos de queimadas neste ano, antes do início do período proibitivo, sendo o estado com o maior número e representando 25,6% do total de focos do país. Atrás dele está Maranhão (2.348), Tocantins (2.253), Bahia (1.735) e Pará (1.365). O período proibitivo de queimadas começa neste sábado (1º) e vai até o dia 31 de outubro. Nessa época do ano, o número de queimadas chega a aumentar mais de 1.000% em relação aos outros períodos do ano, principalmente no Norte de Mato Grosso, onde estão as cidades com os maiores índices.

De acordo com os dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), as dez cidades com o maior número de focos de queimadas de janeiro a junho deste ano são:

 

 

Desses, quase todos são da região Norte do estado e dois do Nordeste. O Norte é a região que também predominou os focos durante o período proibitivo no ano passado (julho a setembro/22), tendo as cinco cidades com maior índice: Colniza (2.771), Aripuanã (1.213), Nova Bandeirantes (775), Apiacás (736) e Marcelândia (721).

O período proibitivo é a época do ano em que o número de incêndios florestais aumenta drasticamente. Nessa época, fica proibido o uso do fogo para limpeza e manejo de áreas rurais e urbanas, conforme o decreto nº 259/2023, que declara situação de emergência ambiental entre maio e novembro.

O engenheiro florestal e coordenador do Núcleo de Inteligência Territorial do Instituto Centro de Vida (ICV), Vinícius Silgueiro, afirma que o período é de monitoramento e prevenção.

“Nessa época, com uma baixa umidade do ar, alta temperatura e ventos fortes cria-se um cenário bastante perigoso e arriscado para o uso do fogo e a probabilidade de grande impacto desse fogo se alastrar é grande. Então o período proibitivo com reforços no combate é uma medida super importante. Esse ano também estamos vivendo uma influência do fenômeno do El Niño, que faz com que as temperaturas sejam mais altas no inverno na região”, explica.

Embora a chuva tenha se prolongado por mais tempo nesse ano no estado, o grau de atenção tem que ser sempre redobrado, pondera o engeheiro.

“A organização da prevenção e do combate tem que ser feita considerando esse cenário, especialmente depois do que vimos em 2020, quando quase 40% do Pantanal de Mato Grosso foi atingido pelo fogo. Essas áreas ainda estão em processo de recuperação, muito lentamente. É um processo que não se sabe quantos anos levará, até que a vegetação nativa que foi queimada se recomponha”, esclarece.

Apesar do decreto, em todos os anos as queimadas acontecem em números exorbitantes nessa época. Em 2022, dados do Inpe mostram que esse índice aumentou de 1,5 mil focos no primeiro trimestre para 5,2 mil no segundo e 18,4 mil no terceiro; ou seja, de julho a setembro, o período de seca, houve um aumento de 1.077% em relação ao início do ano e de 250% em relação ao segundo trimestre. Só no quarto trimestre, quando acaba o período proibitivo, o número voltou a reduzir, com 3,7 mil focos, uma queda de 80%.

 

Essa tendência tende a se repetir em 2023, conforme aponta os dados do Boletim Queimadas do Inpe. O gráfico aponta que esse número veio crescendo mês a mês, saindo de 240 focos em janeiro para 2.164 em junho. Veja:

 

Maio e junho foram os meses em que o númerode focos de queimadas já começou a aparecer de forma mais preocupante.

Além disso, o segundo trimestre desse ano apresentou aumento de 236% no número de focos, quase igual ao do ano passado, que foi de 235% no mesmo período. Por isso, o padrão segue o mesmo.

Apesar de percentualmente o padrão estar parecido, houve uma pequena redução no número absoluto de focos em Mato Grosso no primeiro semestre deste ano em relação ao ano passado. De janeiro a junho de 2022 foram 6840 focos, no mesmo período deste ano foram 5.805, redução de 15%.

Amazônia e Terras Indígenas

Do total do número de focos de queimadas deste ano, 74,5% foram na Amazônia, 24,5% no Cerrado e 1% no Pantanal. Além disso, 23 Terras Indígenas já registraram queimadas neste ano. As com os maiores índices foram a TI Paresi (117) a TI Parque do Xingu (35) e a TI Bakairi (18).

No ano passado, as TIs mais afetadas durante o período crítico (julho a setembro) foram a Parabubure, Parque do Xingu e Areões.

 

Plano de combate ao fogo

De acordo com o Corpo de Bombeiros Militar de Mato Grosso (CBMMT), o número de equipes e brigadas vai aumentar em 60 municípios do Estado, contando com os municípios que já possuem unidades operacionais da corporação, nesse período proibitivo.

As cidades foram definidas conforme um estudo dos focos de calor monitorados via satélite pelas equipes dos Comandos Regionais e Batalhão de Emergências Ambientais (BEA), subordinada à Diretoria Operacional.

“Todos os municípios onde serão instalados instrumentos de resposta temporários foram escolhidos a partir dos registros de focos de calor, a fim de coibir os incêndios nas regiões mais críticas do Estado. Ao longo do período proibitivo do uso de fogo, parte dos instrumentos podem ser deslocados, além do reforço com a implantação de mais equipes em campo para garantir um combate ao incêndio mais efetivo”, explicou o comandante do BEA, tenente-coronel Marco Aires, durante a reunião desta segunda-feira (26.06) do Comitê do Fogo.

Em 2023, o Plano de Operações da Temporada de Incêndios Florestais (POTIF) prevê a implantação de 81 instrumentos de resposta, composto por 25 unidades do Corpo de Bombeiros, 29 Brigadas Estaduais Mistas, 17 Brigadas Municipais Mistas, sete Bases Descentralizadas Bombeiro Militar e quatro Equipes de Intervenção e Apoio Operacional.

Os instrumentos de resposta são distribuídos nas sete regionais do Corpo de Bombeiros conforme definição da fase de respostas contida no POTIF, a fim de combater os incêndios florestais em municípios e biomas com maiores registros de focos de calor.

Segundo o Governo Estadual, para o combate de incêndios florestais e desmatamento ilegal neste ano, foi feito o nvestimento de R$ 77,4 milhões.

(Rdnews)