É provável que, daqui a um século ou mais, a apresentação antológica da acadêmica Maria Clara de Oliveira Bertúlio, na Casa das Pretas – Centro Histórico de Cuiabá, nesta quinta-feira (14), seja lembrada como um marco na luta dos negros mato-grossenses e brasileiros, principalmente através da arte e literatura. Ela foi a primeira afrodescendnete a apresentar uma tese de Mestrado, no local, e a dissertação sobre “PonciáVicêncio e a Poética da Negritude” tende a ser um divisor de águas.
O trabalho foi dividido em trechos sugestivos: Abolição da Escravatura (1888) e Frente Negra Brasileira, na primeira metade do Século XX; Teatro Experimental Negro e Cadernos Negros, e, ainda, território de memórias do povo negro e enfrentamento ao racismo estrutural. “É essencial a revisão histórica na forma de pensamento da negritude. No Brasil, a população negra continua subrepresentada”, destacou Clara Bertúlio.
Da escritora Conceição Evaristo até o demógrafo e poeta Milton Santos, a pesquisa de Maria Clara Bertúlio demonstrou a necessidade de unidade dos negros, em suas pautas e suas lutas.
“A luta dos negros só pode ter eficácia se envolver todos os brasileiros, inclusive os negros, mas não só os negros. Não cabe aos negros, aliás, fazer essa luta. Essa luta tem que ser feita sobretudo por todos”, pontou a acadêmica, parafraseando Milton Santos.
Maria Clara de Oliveira Bertúlio é mato-grossense de Várzea Grande, atriz, diretora de teatro e professora, formada pela Universidade do Estado (Unemat). Ela possui berço artístico e de luta afrodesecendente, sendo filha dos professores aposentados Waldir Bertúlio, da UFMT, e Rosean Glória de Souza Oliveira – Bia Poetisa, da Seduc-MT; neta materna da negra Rosita de Souza Oliveira, também servidora pública aposentada.

