Kamila Garcia
Todos os dias são oportunidades de renovação, seja no pensamento ou no comportamento. Somos constantemente convidados a refletir sobre nossos caminhos e a nos alinhar com os ensinamentos divinos. Durante os quarenta dias de solidão no deserto, Jesus ressignificou as expiações humanas e demonstrou a força da resiliência da alma, provando que é possível conduzir nossas vidas quando nos entregamos à oração e à vontade do Pai.
Na oração do “Pai Nosso”, reconhecemos nossa fragilidade e nos abrimos para escutar a Deus, pedindo para que Ele nos alimente, ampare, perdoe e, sobretudo, nos livre do mal. Seja da maldade alheia, seja das sombras que habitam nosso próprio coração.
A Quaresma é um período de introspecção e conversão, que vai além do aspecto religioso dentro do catolicismo. Ela nos convida a uma reflexão moral profunda, a respeito de nossas relações interpessoais e de nossa identidade ética e espiritual. Amor, perdão e fé tornam-se pilares fundamentais nesse caminho de renovação. “Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo” é um exercício de humildade e caridade, e muitas vezes, antes de amar, é preciso aprender a perdoar.
“A Quaresma é um período de introspecção e conversão, que vai além do aspecto religioso dentro do catolicismo. Ela nos convida a uma reflexão moral profunda, a respeito de nossas relações interpessoais e de nossa identidade ética e espiritual”
Jesus, mesmo sabendo das dores que enfrentaria, inclusive da traição daquele que o beijou para entregá-lo, nos ensinou que o amor e o perdão são o caminho para a verdadeira liberdade espiritual. Afinal, sempre haverá um Judas Iscariotes entre nós — alguém que nos saúda com um beijo hoje, mas nos condena amanhã. No entanto, cabe a nós decidir como reagir: com rancor ou com o coração elevado pelo amor divino.
Durante a Quaresma, somos desafiados a enfrentar nossos medos, apegos e fraquezas. O jejum e a penitência são ferramentas que nos auxiliam nesse processo de autoconhecimento, permitindo a reconciliação com Deus e com nós mesmos. Ao longo desses quarenta dias, revivemos simbolicamente a experiência de Cristo no deserto, onde somos testados e confrontados com nossas próprias tentações e imperfeições.
Mas esses dias não precisam ser de dor e punição, e sim de aprendizado e transformação. A vivência do amor e da compaixão nos ajuda a aliviar a carga da nossa frágil condição humana. Muitas vezes, pedimos piedade e misericórdia a Deus, mas seguimos prisioneiros do julgamento e do ressentimento. Recordamos a ofensa recebida, mas esquecemos nossa própria parcela de responsabilidade nos conflitos que vivemos. E então, como perdoar a quem nos impôs uma culpa injusta? Jesus responderia: perdoando.
A decisão de perdoar e seguir em frente cabe a cada um de nós. Escolher amar, perdoar e nos manter de pé é um ato de coragem espiritual. Afinal, é perdoando que afastamos o mal do coração e permitimos que nossa essência divina resplandeça. Como nos ensina a oração: “perdoai as nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido”. Quando aprendemos a perdoar, nos libertamos das correntes do passado e abrimos espaço para a luz e a graça de Deus em nossa caminhada.
O verdadeiro livramento acontece quando nos afastamos do mal — seja o mal que guardamos dentro de nós ou aquele que nos cerca. Compreender essa verdade nos permite transformar nossas vidas, elevando-nos em fé, amor e sabedoria. Pois Deus caminha ao nosso lado pelo deserto e, com Sua luz, dissipa todas as trevas. Que aprendamos, assim, a confiar n’Ele, para que possamos sempre dizer, com coração sincero: “Mas, livrai-nos do mal. Amém.”
Kamila Garcia é bacharel em Língua Portuguesa e Literatura Brasileira. Atualmente, ela equilibra sua rotina entre o trabalho e estudos em Psicanálise e Psicologia Positiva, além de se dedicar às terapias holísticas. Como coach, Kamila utiliza seus conhecimentos para compartilhar insights sobre espiritualidade, ajudando seus clientes a alcançar um maior bem-estar e autoconhecimento.
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