Mamute-da-estepe — Foto: Wikimedia Commons

Pesquisadores do Centro de Paleogenética da Universidade de Estocolmo, na Suécia, descobriram DNA microbiano preservado em restos de mamutes-lanosos e mamutes-das-estepes, datados de mais de um milhão de anos. Entre eles, estava um mamute de 1,1 milhão de anos, que revelou o material genético microbiano associado ao hospedeiro mais antigo já recuperado.

A pesquisa sobre esses animais extintos, popularizados pelo personagem Manny da animação Era do Gelo, foi publicada nesta terça-feira (2) na revista científica Cell. Através do estudo foi possível identificar quais bactérias provavelmente foram responsáveis por causar doenças nos mamutes.

Os cientistas analisaram o DNA microbiano de 483 restos mortais de mamutes — destes, 440 nunca foram sequenciados anteriormente. Para diferenciar quais tipos de bactérias viveram com os mamutes e quais ocuparam seus restos mortais após a morte, a equipe fez uso de aparatos tecnológicos como técnicas genômicas e de bioinformática.

Pé de mamute — Foto: Love Dalén
Pé de mamute — Foto: Love Dalén

“Imagine segurar um dente de mamute de um milhão de anos. E se eu dissesse que ele ainda carrega vestígios dos antigos micróbios que viveram com este mamute? Nossos resultados levam o estudo do DNA microbiano para além de um milhão de anos, abrindo novas possibilidades para explorar como os micróbios associados ao hospedeiro evoluíram em paralelo com seus hospedeiros”, disse o principal autor do estudo, Benjamin Guinet, em comunicado.

Quais foram os micróbios encontrados?

A equipe de pesquisa identificou seis grupos de bactérias nos mamutes, inclusive que tinham parentesco com Actinobacillus, PasteurellaStreptococcus Erysipelothrix. Alguns deles podem ter causado doenças nos animais, sendo considerados patogênicos. Por exemplo, a Pasteurella está associada a um patógeno que causou fatalidades em elefantes-africanos.

Isso trouxe mais questionamentos para a equipe, pois elefantes-africanos e asiáticos possuem parentesco próximo ao dos mamutes pré-históricos e acredita-se que esses animais podem ter sido vulneráveis a doenças semelhantes.

Através dos restos mortais de um mamute-da-estepe de 1,1 milhão de anos, a equipe conseguiu reconstruir parcialmente o genoma da bactéria Erysipelothrix.

Dente de mamute — Foto: Love Dalén
Dente de mamute — Foto: Love Dalén

Com isso, a equipe consegue ter mais informações sobre a interação entre os mamutes e seus microbiomas. “Como os micróbios evoluem rapidamente, obter dados confiáveis ​​de DNA ao longo de mais de um milhão de anos foi como seguir uma trilha que se reescrevia constantemente”, afirma o coautor da pesquisa, Tom van der Valk. “Nossas descobertas mostram que vestígios antigos podem preservar percepções biológicas muito além do genoma do hospedeiro, oferecendo-nos perspectivas sobre como os micróbios influenciaram a adaptação, às doenças e a extinção em ecossistemas do Pleistoceno.”

Não é possível identificar com exatidão quais foram os impactos das bactérias na saúde dos mamutes, dado que a equipe não possui um amplo acervo de dados para fazer comparações e o DNA dos mamutes possui degradações. No entanto, a pesquisa conseguiu explorar informações inéditas das linhagens microbianas e sua associação com animais pré-históricos.

Através da pesquisa, a equipe descobriu que, desde mais de 1 milhão de anos atrás até a extinção dos mamutes-lanosos na Ilha Wrangel, há cerca de 4.000 anos, algumas linhagens de bactérias coexistiram em associação com os mamutes em diferentes regiões geográficas e escalas de tempo durante a evolução.

“Este trabalho abre um novo capítulo na compreensão da biologia de espécies extintas. Não só podemos estudar os genomas dos próprios mamutes, como também podemos começar a explorar as comunidades microbianas que viviam dentro deles”, ressalta o professor de genômica evolutiva no Centro de Paleogenética, Love Dalén.

(Por Tainá Rodrigues)