Luciano Vacari
Oano era o de 1976 quando um jogador de futebol brasileiro, no auge de sua forma e fama, e ainda, um tri campeão mundial na copa de 70 resolveu gravar um comercial de cigarros, foi ali que surgiu uma expressão que reflete o espírito da malandragem, levar vantagem. Foi ali que surgiu a lei que leva o nome do tal jogador, a lei de Gerson.
Ao juntar as imagens do craque da seleção conhecido pelos seus dribles ao cigarro que sempre foi associado à boemia tivemos a caracterização de um modelo que, obviamente, não representa o brasileiro, mas que infelizmente representa alguns que aqui vivem. E falando de Brasil, e que além do país do futebol e do carnaval somos o país do agronegócio mundial, temos visto muitos casos onde a lei de Gerson se manifesta.
E talvez o exemplo que mais ilustra essa analogia é o preço dos alimentos. Vamos lá.
O Brasil é o maior produtor mundial de fibras, alimentos e energia do planeta, e mais, além de sermos os maiores, consumimos grande parte de nossa produção aqui mesmo no mercado interno, e esse é o grande mercado nacional. Exportamos sim soja, farelo de soja e milho, mas alimentamos milhões de cabeças de gado, aves e suínos com seu farelo. No caso da carne bovina, pouco menos de 20% do que produzimos é exportado, ou seja, a maior parte de nossa produção fica na mesa dos brasileiros.
“Ao que parece a lei de Gerson está dando um banho na lei da oferta e da procura e tem muita gente ganhando dinheiro se aproveitando da vontade ou da boa-fé do consumidor”
Açúcar, álcool, frango, suíno, café. Produzimos tudo isso aqui, e vendemos o nosso excedente para todos os cantos do mundo. Vendemos em dólar, afinal são commodities, agregamos valor colocando nossos produtos em mercados mais exigentes e, portanto, que pagam melhor, porém lembram, sempre tem um porém, os preços dos produtos vendidos lá fora tem balizado os preços do nosso mercado interno. Alguns chamam esse movimento de paridade internacional, outros chamam de oportunismo, e alguns poucos de lei de Gerson.
Um bom exemplo é o que tem acontecido com o preço do ovo onde justificaram a alta do zoiudo pelo aumento do preço do milho por conta da seca. Pois bem, mas e quando começar a chover, ou melhor quando colhermos a safrinha do milho, os preços para o produtor de milho certamente irão ficar menores, mas e o preço do ovo irá abaixar também? Acho que não.
Outro bom exemplo é o preço dos combustíveis, onde toda vez que o litro da gasolina sobe na bomba do posto da esquina logo vem alguém dizendo, foi o petróleo, subiu por causa da guerra! E mas e quando a paz é selada, o preço volta aos níveis de antes? Também não.
Só mais um exemplo. O preço da picanha, o sonho de consumo de todo brasileiro! Em anos de restrição de oferta dos animais, o preço da carne bovina vai nas alturas, e tem explicação, o ciclo pecuário, mas como todo ciclo tempos depois vem o de baixa, e o preço do bifinho da semana, ou seria do mês, continua lá em cima.
Os estudiosos vão dizer, mas você está se esquecendo da lei mais antiga da economia, a lei de oferta e procura! Sim, ela existe e está presente no dia a dia dos consumidores, mas já repararam que os preços sobem em tempos de pouca oferta e não caem em tempos de muita oferta?
Ao que parece a lei de Gerson está dando um banho na lei da oferta e da procura e tem muita gente ganhando dinheiro se aproveitando da vontade ou da boa-fé do consumidor, que infelizmente é quem sempre perde nesse jogo de poucos grandes jogadores.
Luciano Vacari é gestor de agronegócios e CEO da NeoAgro Consultoria
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