Os neandertais tinham um cardápio mais variado do que se pensava: além de mamíferos, pombos, frutos do mar e plantas, eles comiam larvas. É o que sugere um estudo publicado no periódico Science Advances na última sexta-feira (25).
O estudo, realizado por pesquisadores de instituições estadunidenses, revela que os neandertais armazenavam suas caças por meses, preferindo as partes gordurosas das carnes, bem como as larvas que infestavam as carcaças em putrefação.
Carnívoros
Anteriormente, acreditava-se que os neandertais eram “hipercarnívoros”, ou seja, que estavam no topo da cadeia alimentar, junto com leões, tigres dente-de-sabre e outros animais que consumiam grandes quantidades de carne.
“Os neandertais não eram hipercarnívoros, a dieta deles era diferente”, disse John Speth, professor do Departamento de Antropologia da Universidade de Michigan, nos Estados Unidos, em entrevista ao jornal The Guardian.
Essa crença inicial vinha dos altos níveis de nitrogênio pesado nos ossos de neandertais. Esse elemento se acumula em organismos vivos quando metabolizam proteínas em seus alimentos. Uma forma mais leve do composto, nitrôgenio-14, é excretada com mais facilidade do que a forma mais pesada, nitrogênio-15. Com isso, este se acumula em organismos a cada passo da cadeia alimentar, desde as plantas até os carnívoros.
De acordo com a pesquisa, mesmo que esses níveis de nitrogênio pesado presente nos ossos dos neandertais os coloquem no topo da cadeia alimentar, não seriam capazes de lidar com a quantidade de carne necessária para atingir essas quantidades.
“Humanos só conseguem tolerar até cerca de quatro gramas de proteína por quilo de peso corporal, enquanto animais como leões podem tolerar de duas a quatro vezes mais proteínas tranquilamente.”
Consumo de larvas
Os especialistas começaram a investigar o papel das larvas por conta dos vários grupos indígenas ao redor do mundo que as consomem em carne putrefata. Uma das autoras do estudo, Dra. Melanie Beasley, da Universidade Purdue, mediu o nitrogênio pesado em músculos em putrefação e nas larvas que infestavam esses corpos.
Ela observou que o nitrogênio pesado foi aumentando à medida que o músculo putrefazia, porém era maior nas larvas. Beasley acredita que o mesmo processo teria acontecido nas carcaças que os neandertais armazenavam. Isso significa que os altos níveis de nitrogênio pesado não vinham do consumo voraz de outros hipercarnívoros, mas das larvas enriquecidas com esse elemento.
Para Karen Hardy, professora de arqueologia da Universidade de Glasgow, na Escócia, consultada pelo jornal britânico, a descoberta é surpreendente porque contradiz o que o Ocidente considera como comida. “Em outras partes do mundo, uma vasta gama de coisas é comida, e larvas são uma ótima fonte de proteína, gordura e aminoácidos essenciais”, revelou.
“É uma obviedade para os neandertais: coloque um pouco de carne, deixe por alguns dias, depois volte e colha suas larvas. É uma maneira muito fácil de conseguir uma comida nutritiva.”
(Por Redação Galileu)