Antes de falarmos sobre as origens e significados de mais três expressões populares muito difundidas no Brasil; vamos saber o porquê dessa popularidade: elas estão presentes em letras de músicas que atravessaram gerações. O dito popular “Uma andorinha só não faz verão” está presente em duas marchinhas de carnaval, em 1934 e 1935,(Lamartine Babo e João de Barro, o Braguinha) e um forró do olindense Jorge de Altinho (1988); outra expressão que se popularizou ainda mais por conta de música é “A Jiripoca vai piar”, a canção homônima é de André e Adriano, Jiraya Uai & Douth!, gravada, em 2001, pelo sertanejo Daniel; já “Puxa-saco” é citada pelo cancioneiro popular na marchinha “O cordão dos puxa-saco”de  Eratóstenes Frazão e Roberto Martins, interpretada, no carnaval de 1946, pelo grupo musical Anjos do Inferno.

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Ei-las em detalhes:

“Uma andorinha só não faz verão” – o filósofo grego Aristóteles (384 a.C. – 322 a.C.), em “Ética a Nicômaco” cunhou o dito “Uma andorinha só não faz primavera”, querendo dizer que atitudes individuais não mudam a realidade. Também Miguel de Cervantes, em “El ingenioso hidalgo Don Quixote de La Mancha” (1605), cita o provérbio. Contemporaneamente, a palavra “primavera” da metáfora aristotélica foi substituída por “verão”; porém conservando o mesmo sentido do original como podemos observar no samba enredo da São Clemente de1994; já o cancioneiro popular relaciona o adágio popular a questões amorosas e a atitudes solitárias : “Vem, moreninha/ Vem, tentação/ Não andes assim tão sozinha/ Que uma andorinha não faz verão” (Mário Reis).

“A Jiripoca vai piar” – comum em rios mato-grossenses, a Jiripoca tem um comportamento único, ao cair da tarde, ela vem à superfície e produz um som semelhante o piar de pássaros para atraí-los e devorá-los. Assim, revela algo surpreendente ou inesperado; todavia, o cantor Daniel dá outro sentido para a frase, algo como deixar de lado as tristezas e cair na farra: “Hoje a jiripoca vai piar, vai/ Vai piar a noite inteira ai ai/ Hoje eu quero enxugar/ Vou tomar muita cerveja/ Hoje eu quero aliviar”.

“Puxa-saco” – talvez um dos termos mais comuns no imaginário popular. Isso ocorre porque “o cordão dos puxa-sacos cada vez aumenta mais” e está associado a pessoas que são bajuladores incorrigíveis. Sua origem relaciona-se à caserna e a militares de patente mais baixas que, para demonstrar submissão, carregavam os sacos de oficiais; com o tempo, o dito passou a designar os aduladores em geral, especialmente na política. Composta em novembro de 1945, foi o grande sucesso do carnaval de 46, após a ditatura de Getúlio Vargas. De lá pra cá, as marchinhas caíram no ostracismo, esses cordoes só aumentam, os bajuladores continuam agindo como apregoa a letra da marchinha: “Vossa Excelência/ Vossa Eminência/ Quanta referência nos cordões eleitorais!/Mas se o “Doutor” cai do galho e vai pro chão/ A turma logo evolui de opinião/ E o cordão dos puxa-saco cada vez aumenta mais”.

Dessa maneira, apesar do tempo, esses ditos populares ressignificam-se continuamente e perpetram-se na sociedade atual; a despeito de novos modismos e de novas tecnologias, o sarcasmo, a ironia e a irreverência que nos caracterizam multiplicam-se em todos os extratos da sociedade, pois é “ridendocastigat mores” (corrige os costumes sorrindo).

 

*SÉRGIO EDUARDO CINTRA é professor de Linguagens e de Redação em Cuiabá. Foi vereador, Diretor Executivo do Cuiabá-VEST (Funec) e secretário de Cultura de Cuiabá. Atualmente está servidor do Tribunal de Contas do Estado (TCE-MT). 

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