ROSANA LEITE ANTUNES DE BARROS

De uns tempos pra cá tem se tornado usual algumas expressões de cunho patriarcal. Li na mídia, dias atrás, que uma autoridade estaria descontente pelo acordo não ter sido cumprido como combinado: no “fio do bigode”.

Vê-se que, o que deveria se tornar “letra morta”, acaba ganhando adeptos, o que nos apresenta o mundo ainda androcêntrico. Historicamente a citada expressão começou a se popularizar no país desde 1.900, e traduzia o caráter sério e com retidão das pessoas. De início, era uma fala comercial, para significar que o “aperto de mão” selava acordos, sem a necessidade documental, bastando apenas um fio da própria barba ou bigode. Todavia, o “fio do bigode” apenas o homem possui. Qual o compromisso para com a fala das mulheres à época?

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Sem qualquer chance de errar, a mencionada forma de proceder carrega um símbolo inegável de masculinidade como seriedade, como se o gênero oposto fosse impossível de se alcançar. É como se a palavra masculina fosse permeada de cuidado e excepcional precisão, e quando empenhada possui mais valor que qualquer assinatura.

Pois bem. O machismo se encontra tão enraizado na verve cultural, que alguns discursos de outrora são comumente reproduzidos, sem se importar com o literal significado. As opressões delas podem ser vistas, sentidas e ouvidas no cotidiano. Os estereótipos que queremos expurgar estão em qualquer lugar habitável. Um dos grandes dilemas e desafios atuais é a confiança que se deve depositar na palavra das mulheres. Não se trata, tão somente, de se expressar contra o machismo, mas, sim, de agir para compreender as muitas vivências das mulheres, não permitindo qualquer ação que venha a diminuir o gênero feminino.

A expressão “fio do bigode” ouvida em tempos atrás e revalidada infelizmente no século XXI, cai como barreira na consolidação do protagonismo, na vez e na voz das mulheres. A falta de confiança nelas é um entrave no processo de materialização da equidade. E já causou medo de sociabilizar, de errar, de falhar, e de não ser suficientemente capaz de “dar conta do recado”.

As mulheres sempre estarão prontas para a demonstração das respectivas competências e habilidades. Pesquisa desenvolvida pela agência My Confidence Matter (2022), revelou que: 79% das mulheres afirmaram sofrer falta de confiança no ambiente de trabalho; 85% delas revelaram vontade de cargo sênior; e, 54% das mulheres disseram que se sentem desconfortáveis em pedir aumento. Os principais obstáculos para elas foram: falta de confiança nas próprias habilidades; falta de oportunidades internas; e falta de equilíbrio entre a vida pessoal e a profissional.

Não há cordão, barbante, fibra, filete, linha, cordel ou “fio” capaz de exemplificar pessoas, seja o gênero que for. É preciso adentrar nas palavras, nos lugares, e nas formas de tratamento de pessoas para outras pessoas. É de Djamila Ribeiro: “Minha luta diária é para ser reconhecida como sujeito, impor minha existência numa sociedade que insiste em negá-la.”

*ROSANA LEITE ANTUNES DE BARROS      é defensora pública do Estado de Mato Grosso.

CONTATO:                            www.facebook.com/goncaloantunes.debarrosneto 

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