Estes esqueletos de corais foram resultado de tsunami há 700 anos, diz estudo — Foto: Brian Atwater/Serviço Geológico dos Estados Unidos

Um terremoto com magnitude acima de 8,0 na escala Richter atingiu o nordeste do Caribe entre 1381 e 1391. O abalo ocasionou um tsunami em direção a ilha Anegada, que lançou e encalhou os corais nas regiões internas do local. Agora, pesquisadores descobriram que os esqueletos desses invertebrados persistiram no ambiente após séculos (e que a grande onda do século 14 deixou marcas nos corais).

Em um estudo, publicado na revista científica Geophysical Research Letters, cientistas conseguiram fazer a datação do tsunami medieval através dos esqueletos de corais. Utilizando modelos computacionais, eles descobriram que o epicentro do terremoto ocorreu na Fossa de Porto Rico, ocasionando um tsunami que atingiu a Ilha Anegada durante o século 14.

Para a equipe, essas pesquisas podem contribuir para uma melhor preparação contra futuros tsunamis no Caribe. “Se você estiver projetando uma escola ou um hospital perto da costa, você quer saber se há uma chance de ocorrer um terremoto muito grande e quer projetar o edifício para resistir a isso”, disse um dos autores do estudo, Brian Atwater, em comunicado.

Localizada ao sul da Fossa de Porto Rico, a ilha Anegada faz parte do arquipélago das Virgens Britânicas — composta por 40 ilhas. A região está próxima da área de convergência das placas tectônicas do Caribe e da América do Norte. Abarcando a maioria das ilhas, a plataforma continental do Caribe é uma zona do fundo do mar com um terreno raso e inclinado, que ajuda as ondas de tsunami a perderem velocidade, energia e altura.

Essa extensão rasa e inclinada contribui para que os tsunamis não cheguem na região costeira do Caribe. No entanto, o mesmo não ocorre com Anegada, a falta de plataformas continentais faz com que o fundo do mar mergulhe abruptamente sem dissipar a energia das ondas, tornando a ilha mais exposta a tsunamis.

Existem registros escritos sobre o nordeste caribenho, mas sem evidências sobre a ocorrência de tsunamis. Em 2004, após o Oceano Índico ser atingido por um terremoto e por um tsunami matar 250 mil pessoas, pesquisadores começaram a investigar a região. Foram feitas análises mais detalhadas sobre os riscos de desastres naturais na costa atlântica — inclusive, com a verificação de possíveis acontecimentos parecidos com as de Anegada.

Como os corais foram analisados?

Após encontrarem esqueletos de coral, os pesquisadores mediram sua idade através de dois elementos radioativos: urânio e tório. Foram coletadas amostras do interior esquelético, pois a região externa poderia ter alterações devido o intemperismo e contaminações. Posteriormente, a equipe contabilizou as faixas de crescimento da parte interna até a externa do coral — cada faixa cresce anualmente, representando 1 ano de crescimento.

Imagens tiradas por drones mostra uma dos fósseis de coral encalhados em Anegada, demonstrando quão longe o tsunami chegou na região costeira — Foto: Michaela Spiske
Imagens tiradas por drones mostra uma dos fósseis de coral encalhados em Anegada, demonstrando quão longe o tsunami chegou na região costeira — Foto: Michaela Spiske

Somando o número de faixas, que representa o tempo de vida do coral, junto ao tempo obtido com a datação, foi possível estimar quando o coral morreu — e consequentemente, quando o tsunami ocorreu. “Os corais têm faixas de densidade anuais, muito parecidas com os anéis das árvores“, disse Halimeda Kilbourne. “Conseguimos contar quantos anos se passaram entre as faixas de densidade máxima e as seções que usamos para datação.”

Os esqueletos de corais também podem fornecer materiais importantes sobre dados ambientais, pois conseguem armazenar informações sobre temperatura e salinidade. O pesquisador Kilbourne pretende continuar estudando as amostras para entender quais foram as mudanças climáticas que ocorreram ao longo do tempo.

(Por Tainá Rodrigues)