“Estou com nojo da política e doido para sair desse chiqueiro”

Famoso e polêmico jornalista, senador desde 2019, Jorge Kajuru afirma que apesar de gostar do presidente Luiz Inácio Lula da Silva está em atrito com ele e resolveu deixar a vice-liderança do governo por não ser recebido nem pelos ministros e não ser atendido em suas reivindicações.

Por Humberto Azevedo

Com esta frase: “estou com nojo da política e doido para sair desse chiqueiro”, assim disparou o senador e famoso, além de polêmico, jornalista, Jorge Kajuru (PSB-GO) em entrevista concedida com exclusividade a reportagem do Grupo RDM no último dia 20 de maio.

A declaração aconteceu após ser questionado sobre porque decidiu deixar o posto de vice-líder do governo no Senado em abril, cargo que ocupava desde o início de 2023. Segundo ele, Lula entregou ao seu adversário político, não “inimigo”, senador Wanderlan Cardoso (PSD-GO), “que xingou o Lula de tudo quanto é nome, que já disse que não vai apoiar o Lula [em 2026], que vota 60% contra tudo do governo Lula” e “simplesmente ele, nessas condições, consegue ter mil maquinários”.

“Como eu sou o autor da PEC [que põe fim à reeleição], (…) se realmente isso acontecer, eu te pergunto, que coerência eu terei querendo ser candidato à reeleição para senador, sendo que eu quero o fim da reeleição dos outros”, comentou Kajuru afirmando ainda que sairá da política “sem levar nem o cheiro, nem a catinga”.

Na conversa com a reportagem do grupo RDM, o senador teceu comentários ainda como ele vê as mudanças que vêm ocorrendo no mundo, de como avalia o retorno de Donald Trump à Casa Branca. “Eu não posso ter muita alegria em função da sua pergunta, não, sobre essa questão de novos governantes pelo mundo em função do nojo que eu tenho tido e muitos americanos também das atitudes de Trump”.

Eleito ao Senado pelo PRP em 2018, Kajuru – desde quando assumiu o mandato em 1º de fevereiro de 2019 – já passou por Patriotas, Cidadania, Podemos e PSB. “Se [o Lula] quiser conversar comigo para ouvir as verdades que ele precisa ouvir sobre o que está acontecendo comigo em Goiás, aí eu poderia até voltar a ser vice-líder”, completou.

Abaixo, segue a íntegra da entrevista exclusiva concedida pelo senador Kajuru ao grupo RDM.

RDM: Você é, foi, vice-líder do governo, não é?

Jorge Kajuru: Primeiro que eu não sou vice-líder do governo hoje, não. No momento eu estou atritado com o presidente Lula, portanto, me afastei. E se ele quiser conversar comigo para ouvir as verdades que ele precisa ouvir sobre o que está acontecendo comigo em Goiás, aí eu poderia até voltar a ser vice-líder.

RDM: E quais são esses problemas que estão acontecendo contigo?

Kajuru promete não se candidatar ao Senado em 2026 se sua Proposta de Emenda à Constituição (PEC), que acaba com a reeleição for aprovada pelo Congresso e promulgada. (Foto: Waldemir Barreto / Agência Senado)

Jorge Kajuru: A revista Veja publicou, não tem nada para esconder. O presidente Lula entregou ao meu adversário político, não meu inimigo, Wanderlan Cardoso (PSD), pelo contrário, é meu amigo, mas é meu adversário, o maior deles, em Goiás, como senador da República, que xingou o Lula de tudo quanto é nome, que já disse que não vai apoiar o Lula, que vota 60% contra tudo do governo Lula. Simplesmente ele, nessas condições, ele consegue ter mil maquinários, para ser mais preciso, 1.216 maquinários a mais do que eu. E eu, que preciso também distribuir para os municípios goianos esses maquinários, eu não consegui até hoje nem 80. Então, se isso aí for justiça, se eu não estou sendo injustiçado, fica difícil. Além de ministros que nem mensagens mandam, quando a gente por duas semanas faz uma pergunta para tentar uma audiência de dez minutos, e a gente não consegue. O ministro Rui Costa, por exemplo, eu nunca tive audiência com ele, não dá para entender, o homem é chefe da Casa Civil. Então, evidentemente, ou ele não gosta de mim, ou o presidente determinou para não me atender. O ministro da Saúde, que é meu amigo pessoal de São Paulo, também não me atendeu até hoje. Eu pedia a ele audiência e nada. O ministro Sidônio, ministro da Secom, eu mandei, mostrei agora para o Jacques Wagner, que é o líder do governo. Eu mandei uma mensagem para ele terça, três e meia da tarde, perguntando se ele pode me receber por dez minutos para um assunto importante na semana que vem. Ele até agora não me respondeu. Então, vamos lá, vamos seguir a vida. Eu sou isento, defendo o Lula, sei quem é o Lula, gosto dele para caramba. Perdi o emprego por causa dele, junto com o da Datena, em 1989, quando ele se lançou candidato à Presidência da República. O Datena e eu subimos no comício dele em Ribeirão Preto. Mas a vida é assim. E a política é assim. A política é onde se existe traição rigorosamente todo dia. Por isso que eu estou com nojo dela e doido para sair desse chiqueiro, em que, certamente, graças a Deus, podem ter certeza, eu sairei sem levar nem o cheiro, nem a catinga.

RDM: Então, em 2026, o senhor não vai mais disputar a eleição? Nem senador, nem deputado?

Kajuru afirma ter nojo do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump: “um homem desqualificado, não é? Um homem sórdido”. (Foto: Waldemir Barreto / Agência Senado)

Jorge Kajuru: Vai depender exclusivamente da votação da PEC-Cajuru, que propõe o fim da reeleição para prefeitos, governadores e presidentes. Como eu sou o autor da PEC, tanto que ela se chama PEC-Cajuru, não porque eu pedi. Os presidentes Rodrigo Pacheco e Davi Alcolumbre decidiram intitulá-la como PEC-Cajuru, por ser histórica e porque ela vai ficar na história. Como eu sei que ela vai passar, se realmente isso acontecer, eu te pergunto, que coerência eu terei querendo ser candidato à reeleição para senador, sendo que eu quero o fim da reeleição dos outros e o meu não? Eu posso ter todos os defeitos. Agora, você nunca vai me ver na escalada do Jornal Nacional, com escândalo, com qualquer erro moral, erro probo, qualquer. Você nunca vai me ver e nunca viu em 50 anos de carreira nacional que eu tenho na televisão brasileira. E o único jornalista do Brasil que trabalhou em todos os canais abertos, em todos os canais fechados e ainda fui colunista por anos do maior jornal do país, a Folha de São Paulo. Então, essa é a minha certeza e essa é a minha palavra a quem me respeita, a quem me conhece.

Grupo RDM: Hoje está sendo velado o ex-presidente do Uruguai, Pepe Mujica.

Jorge Kajuru: Eu nunca conheci ele. Mas quero que Deus o receba.

Grupo RDM: E como que o senhor vê esse momento de transformação no mundo? As ideias progressistas, um socialismo democrático, que ele defendia. Ele era uma reserva moral, não é?

Jorge KajuruIsso.

Grupo RDM: E morreu aos 89 anos de câncer e tal, mas ele já vinha avisando que ele estava morrendo, não é? Como que o senhor vê esse momento dessa troca de bastão das velhas lideranças pelas novas juventudes e até mesmo a questão lá da Segunda Guerra Mundial, fazendo um paralelo, esse mundo que foi construído no pós-guerra, sendo ruído e surgindo um novo mundo. Como que o senhor vê esse cenário, vê esse momento atual da política, no Brasil, mas no mundo, não é? 

Jorge Kajuru: Uma pergunta longa, né? Eu sou jornalista. Longa, mas eu vou respondê-la objetivamente em função do tempo que eu te falei. Eu preciso chegar no hospital agora para retirar pólipos do meu intestino. Eu penso que há um momento no mundo muito preocupante, não é? O [Donald] Trump [presidente dos EUA] um homem desqualificado, não é? Um homem sórdido, um homem corrupto e extrema-direita, até na medula, até na essência, alguém desprezível. Eu acho que se eu olhasse para a cara dele, olho no olho, eu cuspiria na cara dele. Que é Donald Trump. Então, eu não posso ter muita alegria em função da sua pergunta, não, sobre essa questão de novos governantes pelo mundo em função do nojo que eu tenho tido e muitos americanos também das atitudes de Trump. E esse homem é muito perigoso e a gente não sabe o que ele pode fazer com o mundo.

Grupo RDM: Para finalizar, como o senhor vê essa visita do Lula e de parte de empresários na China? Como o senhor avalia isso? O futuro do Brasil é com a China ou é com o mundo?

Kajuru aponta que a primeira-dama, Janja da Silva, errou ao questionar o presidente chinês, Xi Jinping, sobre a atuação da plataforma cibernética chinesa “TikTok” no Brasil: “Talvez por isso o Lula esteja chateado comigo”. (Foto: Jefferson Rudy / Agência Senado)

Jorge Kajuru: O presidente Lula foi muito feliz, não é? Ele não falou só da China, ele falou da China, dos Estados Unidos, não é? O que não acontecia com o presidente Bolsonaro, que tinha dificuldade de viajar mundo afora, não é? O presidente Lula é reconhecido onde ele vai, não é? Não há nenhuma dúvida sobre isso, não é? Exceto nos Estados Unidos pelos fanáticos do Trump. Portanto, foi tudo bem. Eu apenas acho que a primeira-dama, que eu tenho o maior respeito por ela, a Janja, porque o amor dela pelo Lula é sincero. Ela tem preocupação com ele, com a saúde dele, zela dele, não só como companheira, como uma mulher que realmente o ama, mas ela precisa entender o cargo dela, a função dela. Eu lamento que ela tenha feito questionamento ao presidente, seja qual for, não estou me lixando se foi TikTok, se foi o quê, eu acho que não cabe a ela fazer questionamento num jantar, perfeito? Foi um erro. Esse é o Kajuru isento. Talvez por isso o Lula esteja chateado comigo. Ponto final. Deus de saúde para você e para a sua família.