Benedito Anunciação de Santana, preso preventivamente pelo assassinato da sua própria enteada, a adolescente Heloysa Maria de Alencastro Souza, de 16 anos, nesta terça-feira (22), em Cuiabá, insistiu que a motivação e a “encomenda” do crime teria partido de Suellen Alencastro, sua companheira e mãe da jovem brutalmente executada.

Benedito é acusado de ser o mandante da execução de Heloysa, sua própria enteada. Exservidor da Secretaria de Inovação, Ciência e Tecnologia de Mato Grosso (Seciteci), ele afirmou em depoimento à Polícia Civil que a intenção “não era matar ninguém”, mas apenas dar um “susto” na adolescente e na mãe dela, Suellen Alencastro.

Porém, ao deixar a Delegacia na manhã desta quinta (24), Benedito tentou responsabilizar a própria companheira pela morte de Heloysa. Questionado se gostaria de mandar um recado para a mãe da vítima, ele respondeu: “Ela sabe o que me pediu pra fazer”, disse em entrevista ao site RDNews, ao citar que que ela estaria envolvida no crime por, supostamente, não aceitar que “a filha fosse homossexual”.

A responsabilização da mãe foi reafirmada por ele durante a audiência de custódia realizada nesta tarde. O padrasto inclusive garantiu que tem elementos de prova que corroboram essa versão. “Segundo ele, parece que tem elementos de prova. Aí é com a investigação. Agora vai o inquérito. Está tramitando e tem o prazo aí para o delegado terminar, mas depois vem a denúncia.”, disse o advogado Rodrigo Pouso Miranda, que patrocina a defesa de Benedito e seu filho, Gustavo Santana, também envolvido no assassinato.

Defendidos pelos advogados Miranda e Rodrigo Rabelo Neri, pai e filho passaram por audiência de custódia na 2ª Vara Criminal da capital. Mantidas as prisões, eles foram encaminhados à Penitenciária Central do Estado (PCE), onde ficarão detidos em celas separadas no Raio 8 – ala de segurança máxima do presídio.

Para a advogada Renata Cristaldo da Silva Alencastro, que faz a defesa da família de Heloysa, as declarações de Benedito são inadmissíveis, configurada numa tentativa desesperada de criar uma narrativa para diminuir sua culpa, “o que não será tolerado”.

“É inadmissível que, após tirar de forma covarde e violenta a vida de uma jovem inocente, o réu tente ainda ferir moralmente a memória de Heloysa e de sua mãe com acusações infundadas e manifestamente caluniosas. Trata-se de uma tentativa desesperada de criar uma narrativa distorcida para atenuar sua responsabilidade penal, o que não será tolerado”, comunicou Renata.

A advogada ainda lembrou que a família está devastada pela dor da perda e indignada com o menosprezo à honra da mãe da vítima.

“A família está devastada pela dor da perda e profundamente indignada com a tentativa de vilipêndio à honra de sua mãe. Confiamos que a Justiça prevalecerá e que os responsáveis serão julgados com o rigor que o caso exige. A defesa da memória de Heloysa e da dignidade de sua família será feita com firmeza, dentro dos meios legais e com todo o apoio jurídico necessário. Solicitamos respeito à dor da família”, completou a advogada.

Entenda o caso

Heloysa desapareceu na tarde de terça-feira (22), após um suposto roubo na casa da família. Câmeras de segurança mostram o momento em que ela foi levada por criminosos no carro da família. Horas depois, o corpo da jovem foi encontrado dentro de um poço, em uma área de mata.

O padrasto da vítima, o agora ex-servidor da Seciteci Benedito Anunciação Santana, de 42 anos, é apontado como o autor do crime. Ele foi preso ainda na terça-feira (22), após levar a esposa e mãe da adolescente, Suellen de Alencastro Arruda, para a UPA do bairro Jardim Leblon.

A mulher foi agredida durante o suposto assalto e socorrida por vizinhos. Segundo informações obtidas pela reportagem, o filho de Benedito, Gustavo Benedito Junior Lara Santana, confessou que o ex-servidor matou Heloysa por ciúmes da mãe da jovem, após uma discussão motivada por mensagens trocadas com o ex-marido.Os dois estavam juntos há cerca de seis meses.

Além de Benedito e do filho dele, também foram apreendidos dois adolescentes, sendo um de 16 e 17 anos, totalizando quatro envolvidos. Todos estão sob custódia da polícia. Fontes revelaram à reportagem que, no momento do suposto roubo, o plano inicial dos suspeitos era matar mãe e filha.

O laudo preliminar apontou asfixia mecânica por constrição cervical. Porém, o documento ocial deve ser concluído em até 30 dias, podendo ser prorrogado por mais 30. O caso é tratado como feminicídio, com indícios claros de premeditação e tentativa de ocultação do cadáver.

O ex-servidor, o filho e os dois adolescentes envolvidos seguem presos preventivamente. A Polícia Civil continua apurando os detalhes do caso.

(Olhar Direto)