Pesquisadores de um novo estudo não encontraram sinais que indicassem perigo iminente de extinção dos dinos antes do impacto do asteroide — Foto: Pixabay

Você já viu a hipótese de que os dinossauros já estavam em declínio antes do meteoro, e que o impacto apenas acelerou uma extinção inevitável? Bom, um novo estudo afirma que esses grandes répteis poderiam continuar dominando a Terra não fosse o evento, há cerca de 66 milhões de anos, no final do Período Cretáceo.

Segundo um estudo publicado na última quinta-feira (23) na revista Science, espécies de dinossauros de pescoço longo, com chifres e até mesmo com bicos de pato ainda prosperavam quando o asteroide colidiu com o planeta — evento que selou o destino desses gigantes pré-históricos.

Para chegar a essa conclusão, pesquisadores da Universidade Estadual do Novo México (EUA) e da Universidade de Edimburgo, na Escócia, analisaram a datação de formações rochosas encontradas no sítio arqueológico Naashoibito Member, que fica no Novo México.

“Acredito que, com base em nosso novo estudo, isso mostra que, pelo menos na América do Norte, eles [os dinossauros] não estavam caminhando para a extinção”, afirmou Andrew Flynn, da Universidade Estadual do Novo México, em entrevista ao jornal britânicoThe Guardian.

Datação de rochas

O sítio explorado pelos autores do estudo preserva registros de alguns dos últimos dinossauros não aviários conhecidos. Para se analisar as rochas, os pesquisadores usaram dois métodos diferentes. O primeiro envolveu a análise da proporção de dois isótopos de argônio nos cristais encontrados na rocha.

A datação de uma forma de argônio auxiliou a equipe a determinar a idade máxima de formação da rocha. Dentre os resultados, descobriu-se que as rochas mais jovens dentro da formação do Novo México tinham 66,38 milhões de anos.

Rochas do período que marca a colisão do asteroide com a Terra normalmente possuem uma fina camada de argila, que está ausente nas formações do Novo México analisadas — Foto: Matthew Bennett / Universidade de Bournemouth
Rochas do período que marca a colisão do asteroide com a Terra normalmente possuem uma fina camada de argila, que está ausente nas formações do Novo México analisadas — Foto: Matthew Bennett / Universidade de Bournemouth

O segundo método, por sua vez, envolveu outra análise, mas com o mesmo propósito de delimitar uma data da formação rochosa do sítio arqueológico. Neste caso, pesquisadores fizeram uma análise do alinhamento das partículas magnéticas no material que forma a rocha, com base na direção do campo magnético da Terra naquele momento.

Dessa vez, o resultado divergiu do primeiro. Os resultados do segundo método sugerem que a seção do Naashoibito Member, onde fósseis de dinossauros mais jovens foram encontrados, foi formada cerca de 350 mil anos antes do evento de extinção em massa.

Diversidade de dinossauros

Outro resultado significativo envolveu a diversidade de dinossauros existentes naquele período pré-extinção. De acordo com Flynn, não existia uma fauna uniforme de dinossauros. No norte, por exemplo, havia triceratops com chifres e dinossauros comuns com bico de pato, como o Edmontosaurus. Ao sul, existiam dinossauros de bicos de pato com cristas elaboradas e enormes saurópodes de pescoço longo, como o Alamosaurus.

Um dos maiores dinossauros já existentes, o Alamosaurus podia chegar a 30 metros de comprimento, com massa superior à 70 toneladas — Foto: Wikimedia Commons
Um dos maiores dinossauros já existentes, o Alamosaurus podia chegar a 30 metros de comprimento, com massa superior à 70 toneladas — Foto: Wikimedia Commons

Antes das descobertas feitas em Naashoibito Member, trabalhos anteriores feitos no sítio arqueológico de Hell Creek – localizado nos estados das Dakotas, de Wyoming e de Montana – tinham registrado rochas datadas em cerca de 70 milhões de anos. Ou seja, apenas alguns milhões de anos antes do impacto do asteroide, o que, para em escala de Eras Geológicas, é pouco tempo.

Quando comparado aos resultados do método que analisou os isótopos de argônio, as formações rochosas do Novo México apresentam uma idade semelhante à de Hell Creek – 66,38 milhões de anos. A proximidade permitiu que os paleontólogos observassem quais dinossauros viviam em cada uma das regiões.

Naashoibito Member e Hell Creek contaram com a passagem de um tipo de hadrossauro com crista e bico de pato, chamado Lambeosaurinae, pelas suas áreas. Porém, enquanto os saurópodes Alamosaurus dominaram o Novo México, não foram encontrados registros seus no segundo sítio arqueológico.

Para Flynn, essa ausência é sustentada pela hipótese de que os saurópodes eram sensíveis a temperaturas mais frias, sugerindo que o clima desempenhou um papel importante em determinar onde cada animal vivia. Essas diferenças na fauna baseadas na localização ajudam a reforçar a ideia de que os dinossauros faziam parte de ecossistemas complexos, que poderiam ter permanecido por mais tempo se o asteroide não os tivesse interrompido

O que leva a crer que os dinossauros estavam em declínio?

O impacto entre a Terra e o asteroide trouxe mudanças ambientais com as quais os não aviários não conseguiram lidar — Foto: PxHere
O impacto entre a Terra e o asteroide trouxe mudanças ambientais com as quais os não aviários não conseguiram lidar — Foto: PxHere

Até a publicação do novo estudo, a maioria dos cientistas acreditava que, milhões de anos antes do impacto do asteroide, os dinossauros estavam em declínio. Essa ideia, segundo Flynn, vem de uma falsa percepção de que a diversidade geral desses répteis gigantes estava diminuindo. “Parece que, até onde sabemos, não há razão para que eles tenham sido extintos, exceto pelo impacto do asteroide”.

A existência de menos rochas expostas também pode ser uma das motivações para a crença. Isso porque, com menos rochas, existiam menos fósseis do período final do Cretáceo – próximo ao impacto que desencadeou a extinção em massa dos dinossauros – datados em relação à períodos anteriores.

Ainda é uma pergunta sem respostas se os dinossauros estavam ou não em declínio. O novo estudo traz novas perspectivas, mas como foi feito em uma região específica – neste caso, no estado do Novo México –, a hipótese carece de novas pesquisas que possam a sustentá-la a nível mundial.

(Por Júlia Sardinha)