A 520 anos-luz de distância da Terra, existe um gigante gasoso conhecido como WASP-127b. Ele chamou a atenção por ser um exoplaneta diferente de todos os outros já vistos até hoje. A descoberta mais recente sobre ele diz respeito à presença de “ventos supersônicos” que atravessam o seu equador, cujas rajadas podem atingir a impressionante marca de 33 mil km/h – uma velocidade quase seis vezes maior do que a própria rotação do corpo celeste. Um vídeo da ESO (Agência Espacial Europeia) dá uma ideia de toda essa ventania:
“Isso é algo inédito”, aponta Lisa Nortmann, uma das cientistas responsáveis pelo estudo, em comunicado. “Parte da atmosfera deste planeta se move em nossa direção a uma alta velocidade, enquanto a outra se afasta tão rapidamente quanto, formando esses ventos supersônicos”. As descobertas foram publicadas na revista Astronomy & Astrophysics, no dia 14 de janeiro.
Características únicas de WASP-127b
Maior que Júpiter em tamanho, mas com muito menos massa, WASP-127b apresenta os ventos mais rápidos já registrados em uma corrente de jato planetária. Para efeito de comparação, no Sistema Solar, Netuno é o objeto que possui as rajadas mais fortes, e eles não passam da marca de 2 mil km/h.
Para calcular suas características únicas, a equipe de investigação empregou o instrumento CRIRES+ no Very Large Telescope (VLT) do Observatório Europeu do Sul (ESO). A composição do planeta foi determinada pela análise de como a luz das estrelas passa por ele.
Tal análise revelou a presença de vapor de água e monóxido de carbono na atmosfera superior do planeta, além de permitir a confirmação de um inesperado “pico duplo” na velocidade do material atmosférico. Ou seja, há duas regiões onde a velocidade dos ventos é considerada “máxima”. Esses picos, posteriormente, foram confirmados como as fortes correntes de vento ao redor da “zona do Equador” do planeta (ou da “cintura” dele, já que Equador não existe em WASP-127b).
Notavelmente, descobriu-se também que os seus polos eram mais frios do que outras regiões do planeta, com sutis diferenças entre seus lados matutino e vespertino. “Isso mostra que o planeta tem padrões climáticos complexos, assim como a Terra e outros do nosso próprio Sistema”, explica Fei Yan, colaborador do projeto, em comunicado à imprensa.
Futuro da pesquisa
A pesquisa de exoplanetas ganhou rápido impulso nos últimos anos. Se, no passado, os astrônomos estavam limitados a medir apenas a massa e o raio dos exoplanetas, hoje, os avanços na tecnologia permitem que eles mapeiem o clima e analisem composições atmosféricas, mesmo a anos-luz de distância.
“Compreender a dinâmica desses exoplanetas nos ajuda a explorar mecanismos como redistribuição de calor e processos químicos, melhorando nossa compreensão da formação de planetas”, complementa David Cont, coautor do artigo. “Potencialmente, isso ainda lançará luz sobre as origens do Sistema Solar”.
Espera-se que o futuro Telescópio Extremamente Grande (ELT) do ESO aumentará a capacidade de estudar os padrões climáticos em planetas distantes. O instrumento está atualmente em construção no Chile, e deve ser concluído até 2028.
(Por Arthur Almeida)