VINICIUS BRASILINO

Vini, peço licença. Resolvi te escrever para dizer que de onde estás e daqui onde estou, estamos juntos na luta contra o racismo. Esses dias não têm sido fáceis, eu pelo menos, ainda não consegui absorver aquela imagem de um estádio inteiro te depreciando por ser um jovem preto que é consciente e resiste contra o racismo bravamente em defesa da tua dignidade, da tua história e a do nosso povo.

É visível que a força que sustenta o racismo até hoje no imaginário de uma parcela do povo europeu, infelizmente, ainda tem as marcas do sangue de cada um que foi sequestrado da África para ser escravizado aqui no Brasil e no mundo. Tem o peso de cada grama de ouro e das riquezas que roubaram do continente Africano. É o mesmo ideal dos que outrora nos escravizaram e hoje não mais escravizaram nossos corpos, nem nossas mentes.

Combater o racismo é o desafio do século para um mundo que se propõe a ser diferente, moderno e humano. Mas como fazer? Pois será preciso mudar consciências já formadas, ideologias já construídas. Como podemos modificar um imaginário que há milênios é imposto com regra em uma sociedade completamente diversa? E mais ainda, como tornar o combate ao racismo uma bandeira efetiva de promoção de uma cultura de paz mundial?

Aos 22 anos, com a habilidade profissional e consciência que tu tens, tu és exemplo para o mundo. E sua voz é a potência de um povo que por séculos tentaram silenciar. O racismo em suas variadas formas é cruel e o sofrimento que causa não cicatriza jamais. Porém, é com mesmo brilho no olho que se comemora um gol, com a mesma garra de um contra-ataque precisaremos enfrentar o racismo. Por horas, tem-se a impressão que estamos a sós. Às vezes pergunto, “se não eu, quem faria?” E percebo que em vários lugares e de diversas formas tem pessoas que lutam contra essa chaga que é o racismo. Porém, é preciso unificar essas vozes.

A luta institucional é necessária, ocupar os espaços e modificar as regras, denunciar e criar políticas públicas é fundamental em todo o mundo para que essa prática abominável, violenta, antidemocrática e desumana seja extirpada, mas a mobilização do povo negro é indispensável. Seja esse expoente no mundo, aliás, você já é. Virá um novo Rei Pelé no campo e com ele a luta atual de seu povo por plena liberdade. Tem nome: Vinicius Junior! Um forte, afetuoso e fraterno abraço de outro Vinícius, o Brasilino. Conte comigo!

(*) VINICIUS BRASILINO é estudante do Bacharelado de Ciência e Tecnologia da UFMT e secretário para as Relações Raciais da APOLGBTQI-MT, coordenador de Juventude da Rede Nacional de Religiões Afrobrasileiras e Saúde-MT

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