A criminologista Jane Monckton, do Reino Unido, em pesquisa com casos reais apresentou divulgação de sinais que podem ser percebidos por mulheres, visando evitar o feminicídio.
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Segundo o importante estudo, existe uma espécie de cronograma para os assassinatos de mulheres, que podem ser vislumbrados com o relacionamento. Na verdade, sempre é possível diagnosticar relacionamentos tóxicos, quando eles começam a acontecer.
Na análise de 372 mortes de mulheres por feminicídio, registradas no Reino Unido, a pesquisadora encontrou um padrão de repetição de condutas em oito etapas que podem ser descritas. Disse a professora Jane que o comportamento de homens controladores pode se configurar em alerta crucial para identificação de quem esta às vias de matar. E, de outro lado, daquela que está prestes a ser assassinada.
Diferentemente de estudos realizados no Brasil, onde, segundo estatísticas, os assassinatos de mulheres não são maioria de feminicídios, lá, no Reino Unido, se perfaz em mais de 80%, ficando mais evidente que mulheres são mortas pelo gênero.
As oito etapas, descritas por Monckton Smith, que costumam anteceder aos crimes de feminicídio dentro do ambiente doméstico e familiar são as seguintes: histórico de perseguição ou abuso pelo criminoso durante o pré-relacionamento; romances que se tornam relacionamentos sérios rapidamente; relacionamento dominado por controle psicológico (que pode incluir agressões); gatilho que ameace o controle do agressor, por exemplo, ao terminar o relacionamento o agressor encontre dificuldade financeira; escalada na intensidade ou frequência das táticas de controle do parceiro, como perseguir ou ameaçar suicídio; o assassino tem uma mudança de planos, uma guinada na vida, seja por vingança ou homicídio; planejamento, como o criminoso comprar armas ou buscar oportunidades para estar sozinho com a vítima; o homem mata e fere ou outras pessoas, como os filhos e filhas da vítima.
É possível perceber nas fases, sempre, o controle ou tentativa de controle da vítima. Acaba ocorrendo o isolamento da vítima de familiares e pessoas conhecidas, facilitando a ação do criminoso, e a dificuldade dela em pedir socorro. Muitas vezes, o gênero feminino deixa de intuir o controle por determinando tempo, ficando refém da “Síndrome de Estocolmo”. Após recobrar a consciência e rememorar que é vítima de violência, se reconhecendo como tal, se torna alvo fácil do agressor, já que ele não consegue mais a enganar.
Aqueles e aquelas que atuam no enfrentamento à violência doméstica e familiar devem conhecer muito bem esses controles e situações. O inconformismo com o término do relacionamento faz mulheres vítimas cotidianamente.
É preciso estudar agora as maneiras que as sobreviventes conseguiram sair do ciclo da violência doméstica e familiar evitando os feminicídios.
O reconhecimento como vítima é desafio. Mostrar para a sociedade que essa é uma “chaga” a se enfrentar é trabalhar a prevenção.
*ROSANA LEITE ANTUNES DE BARROS é defensora pública do Estado de Mato Grosso.