Os dados do desempenho do PIB (Produto Interno Bruto) no primeiro trimestre de 2025, divulgados pelos IBGE na última sexta feira (30), mostram a força e resiliência da economia doméstica, mesmo em um ambiente de juros elevados e incertezas geradas pelas contas públicas ainda em desequilíbrio e cenário internacional de guerras comerciais e militares.
Segundo o IBGE, a economia brasileira cresceu 1,4% no primeiro trimestre de 2025, em comparação ao trimestre ligeiramente anterior. Em relação ao primeiro trimestre de 2024, o crescimento foi de 2,9%. No acumulado dos últimos quatro trimestres o crescimento foi de 3,5%.
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A forte expansão teve como protagonista a agropecuária, que cresceu 12,2%, puxada pela safra recorde de 329 milhões de toneladas de grãos deste ano, boa oferta de crédito e fatores climáticos favoráveis.
O desempenho excepcional da agropecuária já era esperado por analistas e agentes econômicos pois o setor tem comportamento sazonal. Cresce mais forte nos dois primeiros trimestres do ano e desacelera no segundo semestre. Esse movimento é explicado pela colheita, transporte e processamento da soja e milho, principais mercadorias agrícolas do país, que acontece nos primeiros meses do ano.
Mesmo tendo participação relativa pequena na formação do PIB, a agropecuária promove forte irradiação na economia quando considerada toda sua cadeia produtiva. Essa cadeia do agronegócio envolve os setores de agrosserviços, insumos, agroindústria, revendas de maquinários agrícolas, caminhões de cargas, logística agropecuária. Segundo o Centro de Estudos Avançados de Economia Aplicada – CEPEA, da Esalq/USP, em conjunto com a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), a cadeia produtiva completa da agropecuária teve participação de 24,8% no PIB nacional em 2024. Essa participação deve crescer em 2025.
O setor de serviços, que representa 70% do PIB, teve crescimento tímido, apenas 0,3%, em relação ao último trimestre de 2024 e 2,1% na comparação anualizada. Nos serviços, os segmentos que tiveram melhor desempenho foram o de informação/comunicação e atividades imobiliárias.
Um dos setores mais sensíveis à alta de juros, a indústria apresentou queda de 0,1%. Além disso, por questões sazonais, historicamente o setor industrial tem baixo desempenho nos três primeiros meses do ano. Os segmentos com melhor performance foram a indústria extrativa e de eletricidade, gás, água/esgotamento sanitário.
Pelo lado da demanda, o destaque é o investimento (formação bruta de capital fixo) com crescimento de 3,1%, em comparação ao trimestre anterior e 9,1% comparado com o primeiro trimestre de 2024. A importação de uma plataforma de petróleo teve contribuição relevante para o aumento do investimento no primeiro trimestre do ano.
A alta da taxa de investimento também demonstra que o empresariado, mesmo diante de um cenário de incertezas na economia doméstica e internacional, continua investindo, de olho na elevação do consumo doméstico, mercado de trabalho aquecido e expansão das exportações.
Boa parte do investimento deriva de crédito direcionado, pouco afetado pela alta da Selic. Como as linhas de financiamento do BNDES às micro, pequenas e médias empresas, financiamento imobiliário do programa Minha Casa Minha Vida e crédito rural do Plano Safra.
O consumo das famílias teve aumento de 1,0%, impulsionado por mais oferta de crédito, aumento do emprego e da renda do trabalho, mostrando forte resiliência à política contracionista do Banco Central que encarece o crédito.
O lado menos glamuroso do bom desempenho da atividade econômica no primeiro trimestre é que a economia cresce acima da capacidade produtiva do país, gerando um hiato produtivo que gera inflação e dificulta as ações do Banco Central para trazê-la à meta de 3% ao ano. Na visão da maioria dos economistas, os últimos dados de redução da desocupação e criação de empregos formais, somados ao aumento da atividade econômica, devem ser comemorados, mas seus impactos na inflação precisam ser melhor analisados por especialistas, formuladores da política econômica, investidores e agentes econômicos.
O fato é que, mesmo com a expectativa de uma desaceleração da atividade no segundo semestre, forma-se quase um consenso entre as casas de consultoria econômica, analistas, macroeconomistas, bancos e agentes financeiros revisaram suas estimativas iniciais e indicam ser grande a probabilidade do PIB crescer 2,5% em 2025, confirmando que o patamar de crescimento forte no período 2021-2024 não era um mero “vôo de galinha” e deve ter sequência em 2025-2026.
*VIVALDO LOPES DIAS é professor e economista formado pela UFMT, onde lecionou na Faculdade de Economia. É pós-graduado em MBA Gestão Financeira Empresarial-FIA/USP. Autor do livro “Mato Grosso, Território de Oportunidades”.
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