Na segunda metade do século 19, o naturalista britânico Charles Darwin inovou ao apresentar sua teoria da seleção natural, explicada no livro A Origem das Espécies (1859). Entre as explicações para a evolução das espécies, Darwin disse que novos ambientes – tais como montanhas e ilhas, por exemplo – abundantes em alimentos e habitats oferecem aos animais uma oportunidade de colonizar a área, aproveitar seus recursos e, por fim, evoluir.
Porém, o que Darwin não podia prever é que esse tipo de evolução e luta pela sobrevivência não acontece somente entre animais de espécies diferentes, mas que até machos e fêmeas da mesma espécie disputam entre si os recursos naturais em diferentes habitats. Essa é uma nova configuração evolutiva e assunto de estudo realizado por pesquisadores da Universidade de Lincoln, da Universidade de Exeter e da Universidade de Sheffield, todas no Reino Unido.
De acordo com os pesquisadores, o conflito entre os sexos pode acarretar em uma dominância de um sobre o outro, além de mudanças de cor e de hábitos alimentares dentro de uma mesma espécie. Ou seja, em poucas palavras, essa disputa pode funcionar da mesma forma que um processo de seleção natural que divide um ancestral em duas diferentes e novas espécies.
Durante o estudo, os cientistas avaliaram como se dava a evolução de lagartos na Cordilheira dos Andes, no Chile, e na Patagônia, na Argentina. Foi assim que perceberam que os machos e as fêmeas da mesma espécie preenchiam diversos nichos diferentes, impedindo que novas espécies surgissem e evoluíssem, já que os lagartos dominavam o ambiente (segundo a teoria da seleção natural, uma condição necessária para a evolução de determinada espécie é a existência de um habitat).
Esse processo evolutivo entre machos e fêmeas amplia a biodiversidade do meio ambiente – fenômeno que, até então, os biólogos evolucionistas acreditavam que só acontecia quando diferentes espécies habitavam um mesmo ecossistema. Porém, o novo estudo desafia essa suposição, mostrando que animais da mesma espécie e de sexo diferente também podem contribuir para a ampliação da diversidade, pois podem ocupar diferentes nichos ecológicos.
Segundo os pesquisadores, a biodiversidade agora pode ser vista tanto como a formação de novas e diferentes espécies e também como a disputa de bichos da mesma espécie e de diferentes sexos que ocupam papéis ecológicos tão diferente entre si, preenchendo nichos diferentes e não podendo ser classificados com a mesma taxonomia.
“Nossa pesquisa revela evidências de que esse fenômeno intrigante da evolução dos sexos dentro de uma espécie pode substituir a evolução de novas espécies. Isso nos possibilita pensar em uma nova compreensão acerca da evolução da biodiversidade”, afirmou um dos pesquisadores do estudo.
“É importante ressaltar que a diversidade da vida em nosso planeta se aplica não somente à evolução de diferentes espécies, mas também à evolução independente de machos e fêmeas da mesma espécie, algo que tem potencial para implicações muito importantes”, concluiu.
(REDAÇÃO GALILEU)