O sítio arqueológico Çatalhöyük é um dos lugares habitados mais antigos do mundo, localizado próximo à cidade de Konya, na Turquia. Alguns vestígios dos povos desse assentamento histórico foram encontrados por cientistas da Universidade de Bonn, na Alemanha, — e eles apontam que mulheres e meninas eram figuras-chave nessa sociedade agrícola. Os achados foram publicados nesta quinta-feira (26) na revista Science.

“Com Çatalhöyük, agora temos o mais antigo padrão de organização social geneticamente inferido em sociedades produtoras de alimentos”, disse coautor do estudo, Mehmet Somel , geneticista evolucionista da Universidade Técnica do Oriente Médio, na Turquia, ao site Live Science por e-mail. “Que, ao que parece, é centrado nas mulheres.”

Os habitantes de Çatalhöyük moravam em casas feitas com tijolos de barro. As moradias formavam aglomerados por serem amontoadas uma nas outras. Esses povos se alimentavam dos alimentos que cultivavam da terra e praticavam a criação de gado. Especialistas acreditam que a civilização viveu no período Neolítico pré-cerâmico.

“As pessoas já fabricavam vasos de barro ali no 7º e 6º milênios a.C. O assentamento ficava na rota pela qual as tecnologias neolíticas se espalharam para a Europa, vindas da Ásia Ocidental”, disse Eva Rosenstock, do Centro de Arqueologia da Universidade, em comunicado.

Como as descobertas foram feitas?

No período entre 2006 e 2013, a equipe de Rosenstock escavou uma área do Monte Ocidental em Çatalhöyük. Durante esse processo, encontraram dois esqueletos de bebês recém-nascidos. “Estes são os únicos restos humanos pré-históricos encontrados no Monte Ocidental até hoje e foram incorporados ao estudo”, afirma Rosenstock.

Eva Rosenstock durante as escavações em Çatalhöyük West em 2008: - Em primeiro plano, podemos ver uma parede de tijolos de barro dos edifícios que datam do 6º milênio a.C. — Foto: Projeto de Pesquisa Çatalhöyük
Eva Rosenstock durante as escavações em Çatalhöyük West em 2008: – Em primeiro plano, podemos ver uma parede de tijolos de barro dos edifícios que datam do 6º milênio a.C. — Foto: Projeto de Pesquisa Çatalhöyük

Como procedimento, os arqueólogos desenterraram as ossadas e as registraram. Após esse processo, os artefatos foram enviados para serem analisados por arqueogeneticistas. “Os métodos já existem há algum tempo, mas o material que compõe as amostras é novo”, explica Rosenstock.

Parentes unidos pela eternidade

Os arqueólogos descobriram que a civilização de Çatalhöyük enterrava as pessoas mortas embaixo de suas casas. A partir de estudos anteriores, através da análise das características hereditárias, especialistas entenderam a cultura desses povos — pessoas sem parentesco eram enterradas em uma casa específica e as com parentesco estavam espalhadas por todo o sítio arqueológico.

Ou seja, culturalmente o enterro era feito a partir do grau de parentesco. Mas, especialistas não sabem se fatores econômicos ou sociais influenciam a questão. “Desde que foi possível estudar DNA tão antigo, temos usado a arqueogenética para tentar descobrir como os ocupantes de uma determinada casa eram parentes”, revela Rosenstock.

As ossadas dos recém-nascidos não tinham relações de parentesco e não foram encontrados na mesma estrutura residencial. No entanto, a análise demonstra que os esqueletos tinham o mesmo fundo genético que os corpos encontrados em Monte Leste. “Este é mais um sinal da continuidade entre os Montes Leste e Oeste, que conseguimos demonstrar com nossas escavações”, ressalta a arqueóloga.

A principal hipótese dos pesquisadores anteriormente apontava para uma grande mudança cultural ou para o extermínio repentino desses povos. Durante séculos, a civilização em Çatalhöyük construía casas com restos de muralhas, formando grandes e altos conglomerados. Dessa forma, várias gerações viveram em cima de restos mortais deixados pela linhagem anterior.

No entanto, em meados de 6000 a.C., essa tradição cultural foi acabada, dando início aos povos do Monte Ocidental. Pesquisadores descobriram que existiam vários fatores, além do parentesco biológico, para dar origem a uma família em Çatalhöyük.

Importância das mulheres nos enterros

Segundo a pesquisa, as pessoas eram enterradas juntas, na mesma casa, com base na sua proximidade com a família da mãe. “Isso sugere que as mulheres eram mais importantes na formação de famílias”, diz Rosenstock. “Pode-se chamar isso de matrilocalidade no nível familiar, mas não é exatamente um matriarcado no sentido de mulheres exercendo poder”.

Ainda assim, segundo a especialista, as linhagens femininas eram mais importantes do que as masculinas nesse contexto no 7º milênio a.C. “Até mesmo a primeira pessoa a escavar aqui, James Mellaart, suspeitava que as mulheres eram muito importantes em Çatalhöyük — principalmente com base nas estatuetas femininas e outros objetos encontrados”, afirma a arqueóloga.

As mulheres eram enterradas ao lado de uma variedade mais rica de bens funerários, o que pode indicar um status mais elevado. “E agora, várias décadas depois, o material das novas escavações e métodos científicos de ponta foram usados ​​para revelar ainda mais fatos”, observa a pesquisadora.

(Por Redação Galileu)