O Brasil tem 17 árbitros entre os melhores do mundo, ou seja, profissionais com o escudo da FIFA. Eles estão credenciados a fazer torneios internacionais, inclusive Copa do Mundo. Mas, mesmo com essa honraria, seis desses profissionais – todas mulheres – nunca apitaram uma partida de Série A do Brasileirão masculino na carreira. Uma atua como VAR repetidamente, as demais têm pouco ou nenhum protagonismo no cenário nacional.

Das sete mulheres FIFA, apenas uma atua como árbitra central. É Edina Alves Batista, que estreou na elite do Brasileirão em 2019, mesmo ano em que foi para a Copa do Mundo Feminina, na França. Desde então, nenhuma outra mulher comandou um jogo no maior campeonato do país.

Daiane Muniz, que recebeu o escudo FIFA em 2018, nunca atuou em um jogo como central na Série A até 2021, quando se tornou também árbitra de vídeo (VAR). Desde então, a profissional só atuou nas cabines do VAR, sendo a primeira mulher a comandar a tecnologia em jogos da Conmebol.

Em 2024, Daiane fez 27 jogos como VAR. As demais, não foram protagonistas na Série A, mesmo com o escudo Fifa. Nesta temporada, participou das duas rodadas, a última em que esteve na polêmica do jogo entre Internacional e Cruzeiro.

De acordo com o levantamento feito pelo ge, durante 2024, os árbitros FIFA foram responsáveis por 47,7% dos jogos da Série A do Campeonato Brasileiro. Ou seja, das 380 partidas, 179 foram comandados pelos árbitros de elite do Brasil.

Os profissionais que mais atuaram em 2024 foram Ramon Abatti Abel, de Santa Catarina, e Rafael Rodrigo Klein, do Rio Grande do Sul. Cada um comandou 21 partidas durante a Série A, sem contar os campeonato internacionais e outras competições da CBF.

Matheus Candançan, de São Paulo, que estava sendo analisado para ganhar o escudo FIFA na temporada atual, fez mais jogos que todas as mulheres que já tinham o escudo no ano passado. O agora árbitro FIFA fez, em 2024, 19 partidas como central e três como quarto árbitro.

Escudos FIFA subutilizados

Deborah Cecília Cruz Correia, de Pernambuco, e Rejane Caetano da Silva, do Rio de Janeiro, pertencem ao quadro internacional há mais tempo. Elas conquistaram o escudo em 2017. Deborah Cecília chegou a comandar partidas da Série B. Na Primeira Divisão, ano passado, ela atuou como quarta árbitra por sete jogos no ano passado. Já Rejane fez três partidas também como quarta árbitra. Esse ano, não fizeram jogos ainda nas principais divisões.

A árbitra mais nova no quadro é a mineira Andreza Helena Siqueira, com escudo Fifa desde 2022. Ela está na equipe da CBF desde 2021. Ano passado, Andreza fez a estreia na elite do Campeonato Brasileiro, mas como quarta árbitra. Ela também não comandou partidas na Segunda Divisão.

Daiane Muniz acompanhando o VAR do treinamento no CT do antigo Atlético Sorocaba — Foto: Bárbara Bruno

Daiane Muniz acompanhando o VAR do treinamento no CT do antigo Atlético Sorocaba — Foto: Bárbara Bruno

Charly Wendy Straub Deretti, de Santa Catarina, e Thayslane de Melo Costa, de Sergipe, também seguem sem atuar na Série A do Campeonato Brasileiro como centrais. Charly comandou o VAR em sete rodadas em 2024, enquanto Thayslane foi quarta árbitra em quatro jogos.

A CBF foi procurada para comentar sobre a escalação das mulheres com escudo Fifa nos jogos da Série A. A reportagem ainda não recebeu retorno da entidade até a publicação da reportagem.

Número de jogos dos árbitros FIFA como centrais

ÁrbitrosNúmero de jogos
Ramon Abatti Abel21
Rafael Klein21
Anderson Daronco19
Bruno Arleu18
Bráulio Machado**18
Rafael Claus17
Wilton Pereira Sampaio16
Flávio Rodrigues16
Rodrigo José Pereira14
Paulo Zanovelli12
Edina Alves Batista7
Charly Wendy*0
Thayslane Melo*0
Andreza Helena Siqueira*0
Rejane Caetano da Silva*0
Deborah Cecília*0
Daiane Muniz*0

*Árbitras estiveram na Série A de 2024 ocupando outras funções
**Perdeu o escudo FIFA em 2025. Lugar foi ocupado por Matheus Candançan, de São Paulo

Arbitragem 2025

A arbitragem da CBF começou com mudanças. Wilson Seneme foi demitido da direção da comissão de arbitragem. O ex-árbitro presidia o órgão desde 2022.

A comissão agora é formada por um colegiado com sete pessoas: Luiz Flávio de Oliveira, Marcelo Van Gasse, Fabrício Vilarinho, Luis Carlos Câmara Bezerra, Eveliny Almeida, Emerson Filipino Coelho e Rodrigo Martins Cintra, que será o coordenador.

A CBF também conta com um comitê de consultores internacionais formado pelo argentino Néstor Pitana, que apitou a final da Copa de 2018, o italiano Nicola Rizolli, que esteve na decisão da Copa de 2014, no Brasil, e Sandro Meira Ricci. Eles farão avaliações semanais do quadro nacional.

Apesar das mudanças, a segunda rodada do Brasileirão foi marcada por diversos erros ou decisões que levantaram dúvidas, como a expulsão do zagueiro do Cruzeiro, Jonathan Jesus, aos 20 minutos do primeiro tempo na partida contra o Internacional. Marcelo de Lima Henrique e Daine Muniz tomaram a decisão que gerou reclamações do time celeste.

Bruno Arleu e Rodrigo Nunes Sá concordaram que o lance entre Matheus, do Sport, e Rafael Veiga, do Palmeiras, foi faltoso. O pênalti foi convertido e garantiu a vitória do time paulista. Também teve expulsões questionadas nos jogos entre Atlético-MG e São Paulo (Calleri e Zubeldía), e no confronto entre Vitória e Flamengo (Carpini).

Nas duas primeiras rodadas, nove árbitros FIFA foram escalados. Edina, Rafael Claus, Zanovelli, Wilton e Daronco estiveram em um jogo.

Bruno Arleu, Rodrigo José, Rafael Klein e Ramon Abatti Abel estiveram em duas partidas. Daiane Muniz foi VAR nas duas rodadas disputadas até aqui. As outras FIFA ainda não estiveram na elite do Brasileirão em 2025. (GE)