O moa era parecido com um avestruz, porém era consideravelmente maior, tendo sido uma das maiores aves que vagaram pela Terra — Foto: Divulgação/Colossal Biosciences

Após a empreitada de tentar “desextinguir” a espécie dos lobos-terríveis, a empresa de biotecnologia e engenharia genética Colossal Biosciences anunciou que planeja trazer de volta à vida o moa, uma ave não voadora e sem asas nativa da Nova Zelândia. A iniciativa, que está sendo liderada por grupos Maori (povo nativo dessa região da Oceania), é reconstruir o genoma das nove espécies extintas do animal que viviam nas ilhas até o século 14 e reintroduzi-las na natureza. Ou pelo menos tentar fazer tudo is

Os moas eram considerados aves gigantes, mas suas nove espécies variavam bastante de tamanho, com algumas podendo chegar a 3,6 metros de altura – para ter uma noção, o avestruz, maior ave viva do planeta, atinge uma altura de 2,7 metros. Todos os moas foram extintos após a chegada dos polinésios nos anos 1300 em decorrência da caça e da degradação de seus habitats.

Porém, os restos de moas ainda existentes serão essenciais para a reconstrução do genoma das antigas aves. Além de ossos e fósseis preservados, a coleção inclui um pé com tecidos moles ainda intactos.

“Já coletamos amostras de mais de 60 ossos e estamos trabalhando em vários genomas de espécies de moa. Nosso objetivo não é apenas trabalhar no genoma gigante da Ilha Sul, mas construir os genomas de todas as nove espécies”, diz Ben Lamm, CEO e cofundador da Colossal, em entrevista ao IFLScience.

Reconstrução genética

O projeto da Colossal conta com a liderança do Ngāi Tahu Research Centre, um centro multidisciplinar da Universidade de Canterbury (na Nova Zelândia) que apoia o desenvolvimento intelectual do povo Ngāi Tahu, pertencente ao grupo Māori. O sequenciamento dos genomas das espécies de moa partiram de ossos mantidos na coleção do centro, e espera-se que os primeiros resultados saiam até a metade de 2026.

Enquanto a “ressurreição” do dodô e o do lobo-terrível utilizam, respectivamente, genomas do pombo-de-nicobar e do lobo-cinzento, a reconstrução do genoma do moa tem alguns candidatos. Os parentes vivos mais próximos do moa são os tinamus da América Central e do Sul. O emu australiano também tem parentesco relativamente próximo.

Ben Lamm (à direita) e Peter Jackson (à esquerda), um dos principais colaboradores do projeto, segurando um osso e um pé de moa conservados — Foto: Divulgação/Colossal Biosciences
Ben Lamm (à direita) e Peter Jackson (à esquerda), um dos principais colaboradores do projeto, segurando um osso e um pé de moa conservados — Foto: Divulgação/Colossal Biosciences

Desexentição ou hibridismo?

A iniciativa faz parte da linha de projetos de desextinção de animais promovido pela Colossal Biosciences, sendo que o moa é o seu quinto anúncio sobre reviver um ser vivo extinto por ação humana. O caso mais famoso permanece sendo o dos lobos Rômulo, Remo e Khaleesi, três filhotes de lobos-terríveis gerados a partir do genoma de lobo-cinzento e que completaram agora seis meses de vida.

Enquanto alguns cientistas criticam os experimentos, alegando que existem demandas mais urgentes de proteção da vida selvagem do que a criação de apenas híbridos genéticos, outros acreditam que a desextinção pode impulsionar novas ações de conservação dos animais mais ameaçados do planeta.

“Essa parceria é verdadeiramente liderada pelos Māori (…) Esse tipo de engajamento nos permitiu ir muito além da simples conservação, entrando na restauração de ecossistemas. Pudemos mergulhar muito mais profundamente nos aspectos culturais e espirituais do animal e da conexão que ele tem com o povo e a terra que uma vez habitou”, completa Lamm.

(Por Fernanda Zibordi)