Problemas com dívidas e a consequente asfixia financeira são dois dos principais problemas que o Botafogo teve que conviver nos últimos anos. Por sempre ter o cofre apertado, o Alvinegro recorreu ao modelo SAF, sendo adquirido por John Textor. Hoje, pouco mais de dois anos com o norte-americano, os débitos são menores.
Quem garante isso é Thairo Arruda, CEO da SAF. O executivo, em entrevista ao “Botafogo PodCast”, afirmou que o passivo (somatório das dívidas trabalhistas, cíveis e tributárias) era de R$ 1,1 bilhão no começo da Era-SAF.
– Quando começamos na SAF, o Botafogo tinha R$ 1,1 bilhão em passivo e R$ 120 milhões em receitas. Era uma relação de 1 para 10. Qualquer empresa de qualquer setor com esses valores é falência. Nosso primeiro trabalho foi entender o passivo e as oportunidades que tínhamos de destravar receitas. Fechamos o ano passado com R$ 530 milhões de receita. Em dois anos, é incrível o nível que crescemos – completou.
O trabalho com as dívidas foi uma das prioridades do Botafogo desde a chegada de John Textor. Recentemente, o clube quitou R$ 130 milhões em vencimentos cíveis. Na esfera trabalhista, o Alvinegro contou com o RCE (Regime Centralizado de Execuções) ainda nos primeiros de SAF.
– Há três níveis de passivo: trabalhista, cível e tributário. Primeiro que focamos foi o trabalhista, porque é nele que sofremos mais. Há penhoras, decisões judiciais… Sofremos penhoras no começo da SAF, na maioria das vezes da Justiça do Trabalho. Assumimos o clube com R$ 220 milhões de dívida trabalhista, reestruturamos o RCE de forma que hoje temos R$ 150 milhões. Está bem equalizado, pagamos direitinho e os credores estão felizes – afirmou Thairo.
– O próximo passo foi a dívida cível. Eram R$ 440 milhões, estávamos em negociação há um ano que resultou na Recuperação Extrajudicial. Tínhamos duas propostas que fizemos: os que queriam receber rápido, à vista, tinham que dar 90% de desconto. Os que queriam receber no longo prazo, davam 40% de desconto. Fizemos benchmarks, entendemos como outras empresas faziam. É muito fácil fazer um acordo, o difícil é cumprir. Nesse sentido, conseguimos 65% de adesão, foi muito maior do que a gente esperava. Desses R$ 440 milhões, R$ 130 milhões preferiram receber no curto prazo, foi o que liquidamos no mês passado. Sobram R$ 310 milhões, que vão ser no longo prazo, mas esses já têm 40% de desconto. Hoje, nossa dívida cível está em R$ 180 milhões – completou.
– A terceira etapa é trabalhar o tributário. Estamos em andamento e a expectativa é finalizar até o final do ano. E aí vamos concluir o trabalho de reestruturação do passivo do Botafogo. Se somar de tudo, esperamos fechar o ano com o passivo de R$ 600 milhões. Ou seja, de R$ 1,1 bilhão para R$ 600 milhões em dois anos. E nossa receita saiu de R$ 120 milhões para R$ 530 milhões. A relação de 10 para 1 está quase de 1 para 1 – finalizou.
Dívidas com empresários
Mesmo sendo SAF, o Botafogo já foi acionado na Justiça por causa de dívidas novas. Em maio, o clube foi denunciado por um escritório de advocacia por 13 processos alegando comissão para intermediários, participação em direitos econômicos, verbas rescisórias e trabalhistas, mecanismo de solidariedade não pago, direitos de imagem e luvas. O total do montante é de cerca de R$ 20 milhões.
Thairo deu a versão do clube do caso e explicou que nem todos os valores são reconhecidas pela diretoria da SAF.
– Nosso trajeto não é só rosas e flores. É muito difícil gerir um clube e o meio do futebol em si. A mídia tem um papel predominante no meio dos clubes. O papel da comunicação influencia muito no dia a dia. Esse caso, tivemos umas matérias ruins dizendo que o Botafogo não paga empresários. Aí veio o presidente da associação de empresários falando “não façam negócio com o Botafogo”, “eles não pagam”. É exatamente o contrário disso. Fiz um levantamento sobre disso semana passada. Até hoje, no começo da SAF, tivemos R$ 38 milhões de luvas para empresários e nós fizemos R$ 26 milhões.
– “Por que não pagaram tudo?” Temos alguns desentendimentos de valores com alguns empresários. A gente não reconhece 100% daquele passivo, temos problemas com um ou outro empresário que atuou contra a nossa instituição. Esses são os casos que levamos para o nível de discussão, tentando levar para um debate e conseguir um valor que seja bom para o clube. São justamente esses empresários que levam à tona o problema e generalizam. Eles trabalham contra o clube e prejudicam negociações. Eles cobram valores que nós não reconhecemos que existem. Pagamos bem e em dia, a grande maioria. (GE)