Marco Aurélio Mestre Medeiros*
Alta nos juros, restringindo e encarecendo ainda mais as operações de crédito, elevação da inadimplência, que atingiu índices inéditos, e um grande aperto no fluxo de caixa. Estes são alguns dos principais desafios que as empresas brasileiras deverão enfrentar ao longo do ano de 2025. O cenário de grandes dificuldades obriga os gestores a redobrarem a atenção a cada processo interno de suas empresas, sob pena de ver negócios, novos ou criados há gerações, entrarem em colapso.
O horizonte é muito difícil e as últimas notícias do ano passado, bem como as primeiras deste ano, deixam isso claro. Necessário para a realização de investimentos ou até mesmo para a reorganização das dívidas, o crédito, que já está caro e coloca o Brasil como um dos líderes mundiais em taxas de juros, ficará ainda mais restrito. Se a taxa Selic, que baliza as operações de empréstimo no país hoje é de proibitivos 12,75%, o Boletim Focus, do Banco Central, projeta que em dezembro deste ano ela atinja 15%.
Com juros altos e uma inflação corroendo o poder de compra de pessoas e empresas, naturalmente a inadimplência sobe. Os dados mais recentes divulgados pela Serasa/Experian, de outubro de 2024, apontam para um novo recorde de inadimplência entre as empresas brasileiras. Atualmente, 3 em cada 10 empresas possuem dívidas em atraso e negativadas, gerando um passivo da ordem de R$ 156,1 bilhões, o maior da série histórica desenvolvida pela instituição.
Sem acesso a crédito com juros “pagáveis” e com um endividamento em alta, os dirigentes das empresas, de todos os portes, precisam estar atentos aos processos internos. O mantra de que “custo é como unha, precisa ser cortado sempre” é algo que precisa estar sempre no horizonte e ainda mais presente no cenário atual. Com menos fluxo de caixa, somente uma gestão que cuida dos mínimos detalhes pode ser capaz de impedir que uma empresa entre em colapso, o que pode gerar uma reação em cadeia e agravar o momento econômico atual do Brasil.
Infelizmente, nem todas as empresas conseguirão ultrapassar o momento de crise. Algumas já entraram em colapso e há outras em que isso é apenas uma questão de tempo. No entanto, a boa notícia é que a legislação brasileira permite uma reabilitação destas empresas, por meio de mecanismos com a recuperação judicial. E um levantamento da Serasa/Experian mostra que muitas empresas entenderam a importância deste instituto.
Comprovando um cenário delicado, o estudo mostra que entre janeiro e novembro de 2024, foram registrados pouco mais de 2 mil pedidos de recuperação judicial, um aumento de 60% em relação ao mesmo período do ano anterior. O mecanismo é fundamental para que estas empresas consigam se reorganizar, se proteger de medidas expropriatórias, que inviabilizam por completo a continuidade do negócio, assegurando assim a manutenção de empregos e de uma cadeia que envolve outras empresas.
Dentro do processo de recuperação, inclusive, há mecanismos previstos em lei que podem ajudar no fluxo de caixa das empresas que passam por este processo. Trata-se do DIP Financing, um tipo de financiamento que garante uma injeção de recursos. Quem empresta o dinheiro conta com prioridade na fila para o recebimento dos recursos em caso de falência, o que traz uma vantagem para estas instituições.
O cenário é difícil, desafiador, mas a recuperação judicial pode ser o instrumento necessário para que muitas empresas atravessem esta crise, repensem seu negócio e sigam em atividade, cumprindo seu papel social de gerar empregos, renda e riqueza para o país.
*Marco Aurélio Mestre Medeiros, advogado especializado em recuperação judicial
Os artigos assinados são de responsabilidade dos autores e não refletem necessariamente a opinião do site de notícias Cuiabano News