Um papiro com quase 2 mil anos, redescoberto no acervo do Laboratório de Pergaminhos da Autoridade de Antiguidades da Universidade Hebraica de Jerusalém, em Israel, revelou um caso de corrupção que aconteceu durante a ocupação romana em Israel. Em um comunicado divulgado pela instituição na última terça-feira (28), os pesquisadores expressaram surpresa com as revelações do documento, que fornecem novos dados sobre o mercado de escravizados da época.
O documento, considerado o maior papiro romano já descoberto no deserto da Judeia, foi encontrado de maneira acidental. Durante a organização do acervo de papiros no laboratório, uma professora se deparou com escritos enigmáticos, sem esperar encontrar tal achado. Imediatamente após o achado, uma equipe internacional foi formada para traduzir as 133 linhas do papiro, que tinha um estado de conservação longe das condições ideais.
Logo no início os pesquisadores já entenderam estar a frente de um documento que detalhava procedimentos legais quando a região era uma província do Império Romano. A tradução revelou que o papiro trazia uma descrição sobre um famoso caso de fraude fiscal que ocorreu nos anos anteriores à rebelião de Bar Kochba (132–136 d.C.), a terceira e última guerra entre os judeus e os romanos, na qual os romanos saíram vitoriosos.
O caso envolve dois acusados, Gedalias e Saulo, que foram responsabilizados por falsificar documentos com o intuito de enganar as autoridades fiscais romanas. Eles criaram registros falsos de vendas de esravizados para possibilitar a libertação desses indivíduos, sem a necessidade de pagar os impostos devidos.
“A falsificação e a fraude fiscal acarretavam penalidades severas segundo a lei romana, incluindo trabalhos forçados ou até mesmo pena de morte”, explica Anna Dolganov, especialista da Academia Austríaca de Ciências que participou do estudo, em comunicado.
A teoria é de que o papiro encontrado tenha servido como um documento de consulta, um conjunto de notas que um promotor pode ter usado para se preparar para o julgamento. Os pesquisadores também destacaram que o documento também continha uma transcrição do julgamento, além de elencar possíveis estratégias de acusação.
A tradução do papiro, além de fornecer informações relevantes sobre o sistema judiciário e as dinâmicas políticas da época, surpreende ao trazer evidências sobre a posse de escravizados pelos antigos judeus, uma questão que ainda é alvo de debate por historiadores. O documento revela que, apesar de Saulo ter ascendência judaica, ele possuía diversos escravizados. Contudo, a origem e a nacionalidade desses escravizados não são esclarecidas, o que gera dúvidas sobre as circunstâncias em que foram adquiridos.
Infelizmente, o desfecho desse julgamento permanece um mistério, assim como não se sabe de que maneira o registro acabou nas cavernas do deserto da Judeia. Os pesquisadores sugerem que o processo pode ter sido interrompido com o início da rebelião do povo judeu, o que teria levado o proprietário do pergaminho a esconde-lo nas cavernas da região em uma tentativa de preservar o registro.
(Por Redação Galileu)