OLIVEIROS MARQUES
Mais uma vez o debate se impõe: as avaliações positivas do governo Lula não superam as negativas. Abordei esse tema meses atrás, quando flechas eram disparadas contra o ex-ministro Paulo Pimenta, e volto a ele agora, antes que drones sejam lançados na direção do atual ministro Sidônio Palmeira. Não que qualquer um dos dois precise de defesa vinda deste observador. Mas é preciso repetir: o problema do governo Lula III nunca foi, em essência, de comunicação stricto sensu. É – e sempre foi – político. Simples assim.
Por isso, não vou me deter nas críticas fáceis, como as que dizem que a criação publicitária poderia ser mais envolvente, que se deveria contar mais histórias em vez de usar vídeos clipados carregados de números, ou que envolver o público exige provocar emoção e sentimento de pertencimento, mais do que apenas exibir uma gincana de realizações. Nem vou me alongar sobre o fato de que, embora a disputa política também se dê nas redes sociais, não será ali que o governo consolidará o posicionamento necessário. Blá, blá, blá…
O problema real é outro. É político. De atuação política. De agitação política. De construção política. De presença política.
Fazer política com o objetivo de consolidar apoios e conquistar aliados nada mais é do que implementar um amplo programa de relações públicas. Em última instância, trata-se de relacionamento. E relacionamento, considerando a formação cultural do nosso povo, se constrói com presença e proximidade. E convenhamos: Brasília é longe de tudo. Aparta o governo do povo.
Minha tese é simples: o governo precisa descer do Planalto. Precisa pisar no barro onde pisa sua gente. Acreditar que é possível construir proximidade a partir de eventos espetaculosos – quase sempre sem qualquer mística – é um equívoco. A agenda espetáculo não conversa com o povo. No máximo, produz uma síntese para alimentar a opinião publicada. “Presidenciar” não significa mais do que cumprir uma obrigação. E isso fica evidente quando comparamos os dados econômicos, que são absolutamente positivos, com os números das pesquisas de avaliação.
E como mudar isso? Vou citar alguns exemplos de ação prática meramente ilustrativos, válidos para todos os ministros. Imagine o ministro Fávaro se instalando no Mato Grosso e, a partir dali, fincando as bandeiras de todas as áreas do governo Lula. Visitando cidades, falando em rádios, reunindo-se com os setores organizados, tomando café com influencers digitais, participando de programas de televisão para explicar o que o governo federal tem feito pelo estado. Não por um dia, nem por uma semana. Por semanas. Fazendo política como a política deve ser feita.
Agora imagine esse movimento potencializado: a ministra Simone Tebet fazendo o mesmo no Mato Grosso do Sul. Os ministros Padilha, Marinho, Alckmin e Márcio França percorrendo as estradas de São Paulo. Gleisi Hoffmann, Márcia Lopes e Enio Verri (diretor-geral de Itaipu) atravessando os campos do Paraná. Camilo Santana pelo Ceará; Rui Costa e Margareth Menezes pela Bahia; Alexandre Padilha e Macaé Evaristo pelas montanhas de Minas Gerais; Jader Filho pelos rios do Pará; Renan Filho pelas Alagoas; Marina Silva no Acre; Silvio Costa em Pernambuco… Não vou listar todos, para não soar enfadonho.
Mas seriam porta-vozes qualificados, presentes, constantes e atuando cotidianamente na disputa política onde ela de fato acontece – no chão da fábrica, como diriam alguns sindicalistas. Porta-vozes que defenderiam todas as áreas do governo, politizando as entregas, enfrentando a desinformação e fazendo o contraponto às fake news de adversários locais.
Não tenho dúvidas de que pensar um projeto de reeleição passa necessariamente por um movimento como este. Tudo o mais que já está sendo feito é importante – mas se mostrou insuficiente no tempo.
Fica, portanto, a sugestão.
(*) OLIVEIROS MARQUES é sociólogo, publicitário e comunicador político.
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