Em dois artigos publicados nesta quarta-feira (29) nas revistas Nature e Nature Astronomy, cientistas compartilharam os resultados das análises químicas feitas em amostras do asteroide Bennu, que passa próximo à Terra a cada seis anos. A pesquisa revelou que a rocha espacial contém uma grande quantidade de compostos ricos em nitrogênio, carbono e outros minerais essenciais para a formação da vida.

A pesquisa foi possível graças a primeira missão de retorno de amostra de asteroide da Nasa, OSIRIS-REx, lançada em 2016. Foi através dessa missão que uma nave espacial coletou uma amostra de 121,6 gramas do asteroide Bennu, que foi entregue em setembro de 2023.

GIF combina uma série de imagens tiradas pela sonda OSIRIS-RE do asteroide Bennu — Foto: Centro de Voo Espacial Goddard da NASA/Universidade do Arizona

A missão OSIRIS-REx da Nasa já está reescrevendo o livro didático sobre o que entendemos sobre os primórdios do nosso sistema solar”, disse Nicky Fox, administrador da Nasa em Washington, em comunicado. “Os asteroides fornecem uma cápsula do tempo para a história do nosso planeta natal, e as amostras de Bennu são essenciais para nossa compreensão de quais ingredientes em nosso sistema solar existiam antes do início da vida na Terra.”

Acredita-se que o asteroide Bennu tenha mais de 4,5 bilhões de anos, tendo se formado no Cinturão Principal de Asteroides, localizado entre Marte e Júpiter. No entanto, é provável que Bennu tenha se separado de um asteroide maior, rico em carbono, há cerca de 700 milhões a 2 bilhões de anos, e, desde então, vem se aproximando da Terra devido a interações gravitacionais. Ele é considerado um corpo celeste pequeno, com meio quilômetro de largura — uma altura próxima ao Empire State Building, por exemplo.

Análises iniciais sugeriram que Bennu possuía os elementos fundamentais que originaram o sistema solar. No entanto, a pesquisa mais recente, com uma análise mais detalhada, revelou que 14 dos 20 aminoácidos utilizados na formação de proteínas na Terra estão presentes nas amostras. Além disso, as quatro bases que formam o DNA (adenina, guanina, citosina e timina) também foram identificadas.

Essas descobertas indicam que a água provavelmente esteve presente no asteroide. A hipótese é de que a decomposição de elementos radioativos presentes no asteroide maior teria gerado calor, o que fez com que a água interna evaporasse. Esse processo criou piscinas de salmoura, que poderiam ter alguns metros de profundidade e ter permanecido por milhares de anos, até se cristalizarem. No total, foram encontrados 11 minerais na amostra de Bennu que se formam quando a água salgada evapora.

Foto da superfície do asteroide Bennu — Foto: NASA
Foto da superfície do asteroide Bennu — Foto: NASA

As pesquisas podem ajudar a sustentar a tese de que os asteroides foram os grandes responsáveis por trazerem água e material orgânico para a Terra, por meio de colisões. “E uma das grandes coisas que estamos tentando entender agora é: se tivermos as condições certas, por que temos vida aqui na Terra? E poderíamos encontrá-la em outros lugares do nosso sistema solar?”, questionou Ashley King, do Museu de História Natural do Reino Unido, em entrevista à BBC.

Muitas perguntas ainda permanecem sem resposta e pesquisas são necessárias para estudar os processos que deram origem a matéria orgânica encontrada em Bennu, principalmente por conta da sua complexidade — que vai além do encontrado na Terra.

“OSIRIS-REx tem sido uma missão altamente bem-sucedida”, disse Jason Dworkin, cientista do projeto OSIRIS-REx na NASA Goddard e coautor principal do artigo da Nature Astronomy. “Dados da OSIRIS-REx adicionam grandes pinceladas a uma imagem de um sistema solar repleto de potencial para vida. Por que nós, até agora, só vemos vida na Terra e não em nenhum outro lugar, essa é a pergunta verdadeiramente provocante.”

(Por Redação Galileu)