Arqueólogos escavam cuidadosamente os artefatos no Túmulo de Haihun, na China — Foto: Xinhua

Arqueólogos descobrem em Túmulo de Haihun, na província de Jiangxi, China, versão mais completa já encontrada do Shijing, o “Livro das Canções”, compilado pelo filósofo Confúcio e que remonta aos séculos XI ao VII a.C, trata-se de um dos textos poéticos mais antigos do país. A coleção, composta por mais de 5 mil tiras de bambu, estava bem preservada.

Esse material foi identificado por especialistas do Instituto Provincial de Relíquias Culturais e Arqueologia de Jiangxi. As tiras, que formam uma edição praticamente íntegra da obra, revelam novos detalhes sobre a transmissão textual durante a dinastia Han e irá preencher lacunas da época.

Canções foram compiladas por Confúcio, também conhecido como Kong Fuzi (551–479 a.C.), foi um filósofo, educador e pensador chinês cuja influência moldou profundamente a ética, a política e a cultura da China. Defensor da importância da moralidade, da harmonia social e do cultivo das virtudes, Confúcio valorizava o estudo dos textos clássicos como ferramenta de formação humana.

Um tesouro literário na tumba

O túmulo pertence a Liu He, Marquês de Haihun e brevemente imperador da Dinastia Han Ocidental (206 a.C. – 8 d.C.). Escavado desde 2011, o sítio já havia revelado mais de 10 mil artefatos, como carruagens, lingotes de ouro e instrumentos musicais. Porém, a recuperação das tiras de bambu se destaca como o achado mais significativo.

O Livro das Canções, canonizado pela tradição confucionista e composto por 305 poemas distribuídos entre categorias como “Árias dos Estados”, “Odes Menores” e “Odes Maiores”, reflete aspectos sociais, rituais e políticos da China antiga. Segundo o Global Times, as tiras de bambu encontradas apresentam danos mínimos, preservando inclusive anotações que podem ajudar a revelar como estudiosos do período Han interpretavam os poemas.

Parte da seção Daya do Shi Jing (Livro das Canções) escrita em pergaminho — Foto: David Helliwell / Serica
Parte da seção Daya do Shi Jing (Livro das Canções) escrita em pergaminho — Foto: David Helliwell / Serica

Arqueólogos citados pelo China Daily afirmam que a descoberta preenche lacunas importantes sobre a circulação do texto na época: “Esta descoberta nos ajuda a compreender como o Livro das Canções foi transmitido durante a dinastia Han”, disse um dos especialistas envolvidos nas escavações, ao Global Times.

Novas possibilidades de pesquisa

A integridade do material torna possível comparações diretas com versões posteriores, algo que pode esclarecer divergências textuais que intrigam historiadores há séculos. Para acadêmicos da Universidade de Pequim, as anotações preservadas são especialmente valiosas, oferecendo pistas sobre práticas de estudo e educação confucionista na Antiguidade.

A descoberta também abre espaço para diálogos com outros achados textuais importantes, como os manuscritos das Cavernas de Dunhuang. A equipe responsável pelas escavações planeja digitalizar as tiras, permitindo que pesquisadores do mundo todo acessem o material e ampliem o impacto da descoberta.

A preservação das tiras envolve técnicas avançadas, como controle rigoroso de temperatura e digitalização não invasiva. O Instituto de Relíquias de Jiangxi anunciou que buscará parcerias internacionais para estudos aprofundados, o que pode resultar em exposições globais e na popularização desse clássico confucionista.

Os arqueólogos não descartam novas revelações no túmulo de Haihun. Textos como os Analectos, outro pilar do pensamento confuciano, podem vir à tona, reforçando o valor histórico de um dos sítios mais bem preservados da dinastia Han.

(Por Carina Gonçalves)