O árbitro Pedro Henrique Pio de Jesus, de 33 anos, foi vítima de ofensas racistas proferidas por um torcedor do Mixto durante partida neste domingo (21). O caso foi durante o jogo Mixto e Bahia, pelo Campeonato Brasileiro Feminino Série A2, no estádio Dutrinha. O clube pode sofrer sérias punições da CBF que adotou uma campanha contra o racismo recentemente.
O torcedor estava na arquibancada junto da torcida alvinegra e vestia camisa e boné do clube. Testemunhas presenciaram o momento que ele chama o árbitro de ‘macaco’. Na súmula da partida, Pedro Henrique registrou o caso.
“Informo que após o termino do jogo, recebi o vídeo […], onde no intervalo do jogo, […] um torcedor com a camiseta da equipe do Mixto, no local destinado à torcida do Mixto, proferiu vociferando as seguintes palavras de cunho racista em direção ao árbitro da partida: ‘seu macaco, seu macaco desgraçado, seu macaco’”, relatou na súmula.
O árbitro relata ainda que procurou a Polícia para registrar o crime. Pela lei, a injúria racial é equiparada ao crime de racismo e a pena prevista é de 2 a 5 anos de reclusão, além de multa. O crime é imprescritível e não cabe mais fiança.
Em nota, a torcida MixtoNet repudiou o caso de racismo e se solidarizou com o árbitro. “Um indivíduo, vestindo a camisa do Mixto, proferiu palavras racistas contra o árbitro, atitude que repudiamos com a máxima veemência. O racismo é uma afronta à dignidade humana, uma das ideologias mais nefastas da sociedade e um crime inaceitável”, diz trecho. O time também divulgou nota.
Veja a nota do Mixto na íntegra:
O Mixto Esporte Clube lamenta e repudia a injúria racial cometida por um torcedor contra o árbitro Pedro Henrique Pio, durante a partida entre Mixto e Bahia pela Série A2 do Campeonato Brasileiro, neste domingo (21), no estádio Dutrinha.
O clube tomou ciência do caso logo após a partida e está dando todo o suporte ao Pedro Henrique. Realizou juntamente com o árbitro um Boletim de Ocorrência em que relata o caso de injúria em que o torcedor chama o árbitro de ‘’Macaco’’ e se compromete a identificar o torcedor.
O Mixto tem em seu DNA, desde a sua fundação, a miscigenação, o preto e o branco sempre lado a lado. As lutas sociais são bandeiras levantadas pelo clube há 90 anos. O Alvinegro mato-grossense foi idealizado entre homens e mulheres, que sempre tratou todos de forma igual.
Temos em nossa história heróis negros como Leônidas, Glauco, Felizardo, Pelezinho, Almiro, Adavilson, Dito, Sinfrônio, Jaburu, e tantos outros que ajudaram a escrever a linda história do clube.
Temos certeza que a grande torcida do Mixto se associa ao clube nesse combate ao racismo. Defendemos a punição exemplar desse torcedor. Pedro Henrique Pio, esta luta também é nossa e você não está sozinho.
Em uma sociedade racista, não basta não ser racista. É preciso ser antirracista. Fonte: Midianews
Veja o vídeo:
Punição séria à vista
Conselho Técnico da Série A 2023
Créditos: Rafael Ribeiro / CBF
A CBF prometiu punir com rigor as ofensas racistas no futebol. A entidade brasileira é a primeira do mundo que adotou no Regulamento Geral de Competições a possibilidade de punir esportivamente um clube em caso de racismo. A novidade foi incluída no RGC de 2023, que entrou em vigor desde o início da Copa do Brasil, em fevereiro.
– A luta contra o racismo tem pressa. Medidas vêm sendo discutidas há séculos e nunca colocadas em prática. A CBF está fazendo a sua parte. Decidimos avançar ainda mais nas punições e podemos tirar até pontos de um clube em uma das nossas competições – disse o Presidente da CBF, Ednaldo Rodrigues, eleito em março de 2023.
Ex-presidente de Federação Bahiana de Futebol, Rodrigues é o primeiro negro a comandar a CBF em mais de 100 anos da história da entidade. No texto, “considera-se de extrema gravidade a infração de cunho discriminatório praticada por dirigentes, representantes e profissionais dos Clubes, atletas, técnicos, membros de Comissão Técnica, torcedores e equipes de arbitragem em competições coordenadas pela CBF”. De acordo com o artigo 134 do RGC, a punição será imposta administrativamente pela entidade, encaminhado-se o caso ao STJD, que julgará sobre a aplicação da perda de pontos ao clube infrator.
A luta contra a discriminação no futebol é uma das prioridades de Rodrigues.
– A discriminação racial é crime e nosso trabalho é jogar luz sobre o tema. A gente espera que realmente possa ter o apoio também de todos os clubes, de todos os torcedores, de todos os segmento da sociedade, de todos da imprensa, para que isso não fique apenas de uma forma decorativa – disse Ednaldo Rodrigues.
Desde 2022, a CBF faz uma série de campanhas de combate ao racismo no futebol. A entidade realizou o primeiro Seminário de Combate ao Racismo no Futebol e conta com um Grupo de Trabalho que discute de forma permanente o assunto.
– Além das sanções esportivas, todo e qualquer ato de racismo ou qualquer discriminação, a súmula da partida também será encaminhada para o Ministério Público e à Polícia Civil para que o processo não morra apenas na esferas esportiva. E que os infratores também sejam punidos pela lei – completou o presidente da CBF.
No dia 11 de janeiro de 2023, o Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, sancionou a lei que equipara o crime de injúria racial ao racismo, que é inafiançável e imprescritível. O texto prevê também um aumento da pena para os delitos praticados em eventos esportivos e culturais no país.