A dieta paleolítica foi popularizada na década de 1970 com uma proposta simples: alimentar-se da mesma forma que nossos ancestrais faziam há mais de 10 mil anos. A ideia era que os humanos seriam adaptados a uma dieta rica em proteínas (leia aqui carne de animais) e pobre em carboidratos, sendo vetado o consumo de grãos, legumes e laticínios.

Mas a descoberta de grãos de amido em ferramentas antigas demonstrou o papel central de alimentos que possuem carboidratos vitais para o cérebro nessa dieta pré-histórica, como tubérculos ricos em amido, nozes e raízes.

Segundo pesquisa publicada na revista Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS) nesta segunda-feira (6), os antigos caçadores-coletores dependiam de alimentos de origem vegetal como fonte de energia, em especial plantas ricas em amido.

O estudo analisou a descoberta de grãos de amido de 780 mil anos na região do Vale do Jordão, onde um sítio arqueológico revelou mais de 20 níveis de sedimento de ocupação humana, restos fossilizados de animais e vestígios de plantas, como sementes e frutos.

O papel central de plantas na dieta paleolítica sugere que a proteína animal não impulsionou a evolução humana sozinha.

O que era a dieta paleolítica original

O primeiro período da pré-história teve início há 2,5 milhões de anos. Dessa época até 10 mil a.C., a alimentação da humanidade dependia da sorte do dia, isto é, da caça de animais e coleta de plantas e sementes presentes na natureza.

Foi somente com o surgimento da agricultura, 12 mil anos atrás, no período Neolítico, que o plantio de grãos, como trigo e cevada, passou a garantir a refeição do dia ao homo sapiens.

“Agora, entendemos que os primeiros hominídeos coletavam uma ampla variedade de plantas ao longo do ano, as quais processavam usando ferramentas feitas de pedra”, afirmou Hadar Ahituv, que conduziu o estudo como parte de seu doutorado no Departamento de Estudos e Arqueologia da Terra de Israel da Universidade Bar-Ilan.

“Esta descoberta abre um novo capítulo no estudo das dietas humanas primitivas e sua profunda conexão com alimentos de origem vegetal”, disse Ahituv, em comunicado.

Os grãos foram encontrados em ferramentas usadas para quebrar e esmagar alimentos vegetais na preparação de cereais, legumes e plantas aquáticas. Esses instrumentos são as primeiras evidências do processamento humano de alimentos vegetais e demonstram a sofisticação da época.

A identificação de restos microscópicos de grãos de pólen, pelos de roedores e penas ainda ajuda a confirmar o contexto ecológico e alimentar em que os grãos de amido foram encontrados.

Ferramentas de pedra usadas para processar plantas — Foto: Equipe de Gesher Benot Ya'akov
Ferramentas de pedra usadas para processar plantas — Foto: Equipe de Gesher Benot Ya’akov

“Nossos resultados confirmam ainda mais a importância dos alimentos vegetais em nossa história evolutiva e destacam o desenvolvimento de comportamentos complexos relacionados à alimentação”, escreveram os pesquisadores no estudo.

(Por Beatriz Herminio)